segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Preservação da espécie humana

Quando estava grávida, li em algum lugar que aquele sentimento de amor e carinho que sentimos quando vemos uma criança faz parte do nosso instinto de preservação da espécie, é fisiológico e não psicológico. Quem não tem estes sentimentos provavelmente tem alguma falha genética.


Mas isso fez-me pensar... Será que a humanidade está passando por alguma mutação genética quase geral? Porque cada vez mais vemos crianças maltratadas e ignoradas.

Onde está o nosso instinto de preservação? E não falo aqui somente da procriação, mas também da preservação da espécie humana pelo que a caracteriza, ou seja, o que chamamos humanidade.

O conceito desta palavra – humanidade – tem a ver com preocupação, sentimento, caridade. Afinal, o que nos diferencia (pelo menos teoricamente) dos outros animais é justamente a capacidade de raciocinar e de amar.

Infelizmente, tenho visto muitos animais ditos irracionais mais humanos do que os próprios humanos. Eles praticam a caridade e o amor ao próximo, cuidam e protegem os seus.

Se a coisa continuar assim, vamos ter de reescrever os dicionários. A palavra humano terá de ser riscada deles ou, quem sabe, corrigida. Terá de passar a significar qualquer animal que consiga amar.

Neste sábado estive em um lugar muito triste. Chama-se Centro de Acomodação Santos Inocentes. É um orfanato, recheado de crianças que, apesar do abandono e da pobreza extrema, não perderam a capacidade de amar. Mas porque ainda amam, sentem a necessidade de amor.

Estava a brincar com alguns meninos quando senti uma mãozinha pequenina pegar na minha mão. Olhei para baixo e vi um menino dos seus quatro ou cinco anos, com o narizinho escorrendo, a fitar-me com uns olhos que cabiam o mundo. Abaixei-me e perguntei-lhe o nome. Ele não respondeu. Limitou-se a fixar o seu olhar no meu e eu, naquele momento, soube tudo o que ele queria dizer. Afinal, só queria que eu lhe pegasse na mão, somente um pouquinho de carinho, de amor de mãe.

Quando estava indo-me embora, reparei neste mesmo menino ao longe, sem roupas, a tentar vestir-se sozinho. Corri para ajudá-lo e, surpresa, era uma menina. Quando peguei no macacãozinho para vestir-lhe, reparei que estava sujo, ela havia feito coco. Sem supervisão, tentou resolver o problema sozinha.

Peguei-a pela mão e levei-a até onde estavam algumas mulheres responsáveis pelo lar. Elas chamaram-na pelo nome – Sofia - e tomaram conta dela.

Fui-me embora, mas meu coração ficou lá naquele lugar. À noite, não conseguia parar de pensar em como estaria a Sofia. Tentei me tranquilizar, convencendo-me de que ela, afinal, não sentia falta de um aconchego antes de dormir, ou de uma cama limpinha só para ela porque nunca teve este tipo de coisa. Mas não adiantou... não consegui enganar-me! Qual é a criança, afinal, que não precisa de amor e carinho? Mesmo nunca tendo conhecido, seu coraçãozinho sente falta de calor.

Desespero-me, então. O que posso fazer? Não tenho como trazer a Sofia para minha casa e, se pudesse fazê-lo, quantas Sofias ainda estariam na mesma situação dela???

A Sofia, assim como o Jaimito, de quem vocês conheceram a história há algum tempo, são vítimas de algumas daquelas pessoas que estão sofrendo a tal mutação genética. Quem, neste mundo, pode abandonar à sua própria sorte um pequenino que precisa de cuidados e amor?

Meu pai, quando meu filho nasceu, comentou que o ser humano é o único animal que precisa de proteção na sua infância. Todos os outros animais tornam-se independentes quase logo que nascem. Alguns já começam a caminhar e a buscar alimento assim que nascem, outros precisam de supervisão, mas somente durante pouquíssimo tempo.

O ser humano não. Precisa da proteção e do amor – porque, como disse uma amiga nos sábado, amor de mãe ajuda a crescer – para desenvolver-se com saúde física e psicológica.

O que podemos, então, fazer para travar esta mutação genética da espécie humana??? E, urgentemente, salvar as vítimas desta doença terrível?

Abrir orfanatos é uma solução, mas é apenas o começo da solução. Estes locais têm de tornar-se verdadeiros lares para estas crianças, elas têm de sentir-se amadas e protegidas. Têm de crescer saudáveis e tornarem-se homens e mulheres aptos e capazes para enfrentar a vida aqui fora, que, todos nós sabemos, não é nada fácil. Estas crianças precisam, e continuo a me repetir, de amor, amor, amor, amor!!! Esta é a única cura para a tenebrosa mutação genética que a humanidade está sofrendo. Precisamos preocupar-nos muito mais com nossos pequenos, que, também, são nossos filhos, pois são filhos da humanidade, são da nossa espécie.

Abaixo, vocês verão algumas fotos do lugar onde a Sofia e muitos outros vivem. Quem quiser saber onde fica, é só perguntar pelo Lar Santos Inocentes, no bairro da Manga, na cidade da Beira.

Mas se não encontrar o Santos Inocentes, pode ir a qualquer orfanato que conheça, perto da sua casa. Não precisa levar presentes, leve apenas seu amor, um carinho, um abraço, um beijo. Fique algum tempo com as crianças, brinque e ouça suas histórias. Ou, simplesmente, olhe-as nos olhos.

Tenham todos um Natal iluminado, que sua família esteja unida e seus pequenos protegidos!