quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Poemas - Verônica Aroucha


POEMAS
Meus poemas brincavam de areia e aroma.
Meus poemas enfeitavam de mentira
Minha verdade gritante
Meus cabelos, minhas contas de enfeite
Meus poemas andavam tontos
Em busca dos pontos cardeais
No limiar da escuridão sem lua
E as espumas do mar eram reais
Enquanto eu ficava estancada
Sentindo o mar arrancar
Pensava que eu também ia
Nas profundezas do mar navegar
Procurava um tesouro
Naquele manto sagrado
Suado e salgado guardava um segredo
Meu desenredo...
Uma caixa encantada
Um mar especial, único
Nascido para mim...
A caixa da felicidade.
(Verônica Aroucha)

Quintana, Amigo Velho


Este doce senhor aí em cima é meu amigo velho Mário Quintana. Outro dia, um amigo novo chamou-me a atenção para a ausência do meu outro amigo no blog. O que ele não sabia (o amigo novo) é que o Quintana é mesmo meu amigo.
Estas mãos enrugadas que seguram a bengala já seguraram a mão desta menina que não cresceu. Sim, fui tocada por este anjo. Lembrança dele? Não tenho, a memória ainda era a de criança que só guarda a magia. Lembro-me sim de um velhinho simpático que me levava a tomar sorvete na Rua da Praia, que morava no hotel dos parentes do meu pai, que minha lembrança de criança transformou em um castelo, com princesa na torre e tudo. Mas não lembro do «poeta».
Talvez tenha sido melhor assim... guardo a sua ternura e o seu olhar, seus escritos agora fazem parte da minha vida.
Tenho um Pé de Pilão em que ele diz:
«À amiguinha nova Aline, do amigo velho Mário Quintana»... amigo velho? Não... amigo sempre, amigo que virou estrela e brilha na minha estante, na minha mesinha de cabeceira, na minha vida.
Gosto de pensar que me deixou uma estrelinha, que iluminou as letras e construiu um brilho especialmente para mim.
Divido com vocês o presente que é de todos, mas que gosto de pensar que é só meu...

Das utopias
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Amiga Rami

Essencial Amicíssima,
Descobri que todas nós somos um pouco «Ramis», que temos dentro de nós este mundo inteiro de mistérios, amores e felicidades.
Mulher é fonte que jorra água doce, perfumada, mas também destila a cicuta pela qual muitos Sócrates se perderam. Do alto dos nossos mais de 30 anos, somos crianças ingênuas e inocentes, falsas detentoras de uma independência que sufoca nossas almas, que choram por carinhos e meiguices...
Somos filhas, mães e irmãs da Deusa e da Senhora, somos Joanas D'Arc lutando contra os moinhos de vento deste mundo.
Nossas mães ensinaram-nos a fortaleza da concha hermeticamente fechada às verdades do amor.
Disseram-nos: «luta, trabalha, estuda, casa, tem filhos...», mas nem elas sabiam que a mulher é amor, é a flor que precisa ser polinizada e precisa ser aberta como uma flor que desabrocha no primeiro dia da primavera.
A Rami, amicíssima, é mulher como nós. Teve seu coração sangrando pelos espinhos que vieram no lugar das rosas prometidas. Mas descobriu-se mulher, nunca é tarde para isso.
Falta-nos a coragem de conversarmos com nossos espelhos, encararmos a verdade que eles nos dizem.
Falta-nos a coragem de sermos mulheres, de admitirmos que sim, precisamos de nosso homem a aquecer-nos o corpo e a alma.
Queres ser amiga da Rami? Seja tua amiga, converse com teus fantasmas e desvele a névoa patriarcal que cobre a nossa existência.
Muitos beijos,
tua sempre amiga Aline (agora um pouco Rami).

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Encantamento - Clóvis Campêlo


O encantamento é a soma de todas as cores.
Existe uma luz radiante quando se abre a janela e verifica-se que, apesar de tudo, surgiu um novo dia e que nesse novo dia todas as possibilidades são prováveis e possíveis.
Desvenda-se uma nova visão cósmica quando entendemos que todos os equívocos foram necessários e que sem eles não haveria a possibilidade dos acertos.
Entramos em êxtase quando percebemos que o excesso dos nossos sentimentos foram o adubo necessário para que brotassem as flores do bem.
O pão quentinho é apenas a condensação de todas as energias positivas, transformadas em criação.
Somos apenas o instrumento.
(Clóvis Campêlo)

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Conceição Pazzola - Ave de Arribação


AVE DE ARRIBAÇÃO
Volta pra mim lavadeira
Trinava garboso o sabiá
Ao desfilar de fagueiras
Andorinhas rumo ao léu
Em busca de outro verão
Partiram na amplidão azul.
Em pleno vôo para o sul
Só ela ouviu o doce apelo
Vencida pelo canto fogoso
Varou o inverno sombrio
Esquecida de frio e irmãs
Aves de arribação no estio
Seduziu o cantar do sabiá
Chamou para a luz de novo
Abatida no céu sua amada
Ficou nas garras do corvo
O rumo peridido e sem asas.
(Conceição Pazzola)

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Carlos Maia


Ah!...As andorinhas...
Em seus vôos plenos de sol...
A alegria plena de paz
Pulsando em cada célula
Do seu ser.
Os Boing’s jamais terão
A alegria desse vôo
Pleno...De liberdade,
De vida saudando
O criador,
Da alegria de existir,
Simplesmente
Existir...

Carlos Maia

domingo, 3 de dezembro de 2006

Niketche - Paulina Chiziane



Esta semana fui apresentada a uma mulher especial, a Rami. Moçambicana bonita, forte, de alma guerreira, mas que se julga feia, fraca e sem encantos.

Encontrei-a com o rosto manchado de lágrimas, a lamentar um amor perdido, a maldizer sua condição de mulher fraca, estéril de atributos para manter sua cama aquecida e sua honra feminina intacta.

Encontrando-se no fundo do poço do desespero, Rami encontra forças para cumprir o que julga ser sua obrigação, trazer seu marido de volta e salvar seu casamento. Assim, envolve-se em lutas corporais com suas rivais, procura ajuda de curandeiros e igrejas, cursos que ensinam o que é o amor. E, aos poucos, vai se descobrindo mulher.

Não conheço ainda o desenlace da história de minha amiga Rami, porque ela é de papel, protagonista do livro Niketche, escrito por outra mulher fantástica, essa de carne e osso, Paulina Chiziane.

Mas ser «de papel» não faz de Rami menos mulher. Ela é o espelho de muitas de nós, esposas conformadas por fora e desesperadas por dentro, que ainda não se descobriram mulheres. Aliás, o espelho de Rami é seu melhor companheiro, seu melhor amigo, que reflecte sua verdadeira imagem, da mulher bonita, forte e guerreira. Fala com ela e lhe diz verdades doídas, que calam na sua alma e vão trazendo de volta a força que vem da terra, da natureza, aquela força que está em todas nós mulheres, descendentes das míticas amazonas, filhas da Deusa e senhoras do mundo.

Nestes tempos, em que as livrarias estão abarrotadas de livros de auto-ajuda, a boa literatura continua a ser a verdadeira conselheira, a verdadeira amiga. E este novo livro da Paulina é leitura imprescindível a mulheres e homens. Às mulheres, por nos ajudar a lembrar de que barro somos feitas e aos homens para dissipar esta névoa em que os séculos patriarcais nos envolveram.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Janela aberta da minha alma

Metade da minha alma,
Razão da minha razão,
Por que voltas agora
Depois de partir?

Voei para ti,
Tal Ícaro deslumbrado…
E tu, sol-carrasco,
Meus pés plantaste no chão.

Hoje, qual vulcão,
Retornas sem motivos,
Libertando todos
Meus fantasmas cativos,

Farolizas minha vida,
Rasgas as cortinas.
No lugar da alma, fica
A janela aberta, devassada.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Mito da Caverna


Narrado por Sócrates no início do livro VII da República, o Mito da Caverna é também conhecido como «Alegoria da Caverna», pois é um construto utilizado pelo personagem Sócrates para ilustrar algo, neste caso, a teoria das Idéias de Platão.
O mito:
Numa caverna, estão alguns prisioneiros acorrentados nela desde o seu nascimento. Estão presos de tal forma que tudo o que vêem são sombras projetadas na parede diante deles. Estas sombras são o reflexo de uma fogueira que arde atrás, mais em cima. Como tudo o que os prisioneiros vêem são sombras, eles acham que aquela é a única realidade que existe.
Mas eis que um dia, um deles consegue quebrar os grilhões e galgar os degraus até a fogueira, passando por ela e indo além, até a entrada da caverna. Lá ele encontra a esplendorosa luz do dia, mas o brilho é tanto que seus olhos, acostumados à escuridão, custam a conseguir enxergar. Ele então começa a ver seu próprio reflexo na água, até acostumar a visão e ver as plantas, as pedras e a partir daí ele pode encarar o próprio céu, com o Sol e outras estrelas.
Tomado de comiseração pelos seus ex-colegas presos no fundo da caverna, ele sente-se no dever de descer de novo até lá e chamá-los. Mas o que acontece é que os habitantes da caverna não querem sair, e nosso viajante corre mesmo o risco de perder a vida por querer apontar o caminho da luz.
O que significa???
O homem que consegue se livrar dos grilhões é o filósofo. A sua viagem até a saída da caverna representa a ascese da alma, que, através da dialética, sobe, como degraus, do conhecimento sensível até o inteligível e a contemplação das Idéias.
A Idéia Suprema é a Idéia de Bem (e as outras estão a essa submetidas, as coisas estão todas BEM dispostas no mundo).
O Sol, fonte da Luz, no mito representa a Idéia de Bem.
Sócrates é como o filósofo do mito. Ao tentar mostrar aos atenienses a verdade, foi por eles julgado e condenado à morte.
(Miguel - fórum www.consciencia.org)

terça-feira, 26 de setembro de 2006

(Foto: Miguel Lucena - 1000 Imagens)
VIAGE

Para habitar as planícies da ausência
e escalar os montes de tempo
que não vives

eis a secreta viagem
duma ave imaginária
em busca do instante
onde tudo recomeça
(Armando Artur, poeta moçambicano)

Passeio à Savana - a volta

Meio de transporte comum por aqui - chamam-se «chapas».

Qualquer semelhança com os caminhões de bóias-frias,
NÃO É mera coincidência...

Chegando na cidade - feira popular (aqui chamam «bazar») no subúrbio.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Passeio à Savana - o complexo turístico

Aqui uma pausa... fui decidida a tirar fotos de dentro do complexo turístico, mas, chegando lá, fui surpreendida por um grande NÃO que me deixou brava e, por isso, não tirei as fotos...
É que tínhamos planos de lá almoçar, mas o restaurante (o único de todo o complexo) estava fechado a nós, pobres mortais, pois o Ministro do Turismo estava sendo esperado para o almoço. Ficamos até sem água, porque é só lá que vende...
Fica registrado meu protesto!



Aqui é onde se chega e de onde se parte no complexo -
ao fundo, casinhas tradicionais, as palhotas...


Portal de entrada / saída do complexo - vê-se o canal e a outra margem, de onde nós partimos.

Confessem - esta foto está lindíssima!!! (Eu, modesta? Imagina...)


A última foto antes de entrar no barco - vista do canal,

novamente, com o manguezal junto à praia.

Passeio à Savana - a praia

Euzinha, tentando voar... olhem ao fundo, não parece as praias do Nordeste brasileiro??? Mas são praias do Oceano Índico, vejam só!!!
O dia estava perfeito, o céu limpinho, azulzinho, sem nenhuma nuvem - ah, delícia!!!!


Praias do Índico - vejam a vegetação - não parece a das praias do Brasil?

Passeio à Savana - a chegada



Do lado de cá do canal - o complexo é do outro lado. Nesta foto, o mangue e o canal. Tem muito caranguejo - ah, que delícia! Quero comer caril de caranguejo lá no restaurante!!!


Preparando-se para embarcar - vista do estacionamento.

A caminho do barco - pisando no mangue... na volta, com a maré alta, atracaremos lá em cima - todo este caminho desaparece.


Hehe!!! Euzinha, com o pé na lama! Mulher corajosa é assim... nem atolada perde a pose!!!


Nosso destino, visto do barco... Terra à vista!!!!!

Passeio à Savana - a ida II


À esquerda, os tubos para canalização, à direita, um nativo, carregando madeira na bicicleta...


Esta dá pra ver melhor - eles buscam a madeira no mato e depois transformam em carvão, que é vendido aos montinhos ao lado da estrada principal.

Passeio à Savana - a ida



Aqui, pertinho da Beira, há um complexo turístico chamado «Savana». É uma praia que fica depois de um canal, temos que atravessar de barco,é muito bonito! A viagem de ida também é fantástica, porque passamos pela própria savana africana. Pena que não há leões nem outros animais selvagens!
Mas é um passeio lindíssimo!
Saindo da cidade - ao lado da estrada, à esquerda, pode-se ver uma vala com o esgoto a céu aberto ao lado de palhotas, as casas tradicionais daqui - durante a viagem, encontramos tubos de cimento para a canalização dos esgotos, é o progresso chegando!!!
A Savana Africana - tudo plano, parece os pampas da minha terra!!! À frente, uma árvore, solitária, que faz sombra para os viajantes.

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Repente dos guaipecas


Repente dos guaipecas – Guri Tenebroso X Piá Perigoso

Eu sou o Piá
E estou chegando pra arrasar.
Pequeno, mas corajoso,
Eu sou mesmo perigoso!!!

Ei, Piá, não vem, não…
Que aqui quem manda é o Gurizão
Não adianta seres perigoso,
Porque eu sou é mesmo tenebroso!!!


Tá bom, Guri, faço que acredito,
Mas a mãe e o pai já tinham dito
Que eu sou criança indefesa,
Não adianta vir com essa enorme presa!!!

Criança indefesa, até parece…
Teu tempo chega, não te esquece
Que filhote também cresce
E esperar muito, nem carece!!!

Sou criança, filhote, brinco sim,
E espero que tenhas amor por mim,
Mesmo crescido, és meu irmão
E já moras no meu coração!!!

Vamos, então, fazer as pazes agora,
Porque entre bichos o amor não demora,
Temos a alma pura, carinho de graça,
E pra isso, nem precisamos ser de raça!!!

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Brecht e Portinari - combinação perfeita!

(Cândido Portinari - Trabalho na Cidade)

Perguntas De Um Operário Que Lê

(Bertold Brecht)

Quem construiu Tebas, a das sete portas?

Nos livros vem o nome dos reis,

Mas foram os reis que transportaram as pedras?

Babilônia, tantas vezes destruída,

Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas

da Lima Dourada moravam seus obreiros?

No dia em que ficou pronta a muralha da China para onde

Foram os seus pedreiros? A grande Roma

Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem

Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio

Só tinha palácios

Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida

Na noite em que o mar a engoliu

Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias

Sozinho?

César venceu os gauleses.

Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?

Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha

Chorou. E ninguém mais?

Frederico II ganhou a guerra dos sete anos

Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.

Quem cozinhava os festins?

Em cada década um grande homem.

Quem pagava as despesas?

Tantas histórias

Quantas perguntas

...

(Foto: Joel Calheiros - 1000 Imagens)

Alguém já disse que mais vale

acender uma vela

do que maldizer a escuridão!!!


sábado, 16 de setembro de 2006

Nova poesia (ou poesia nova)

Na minha primeira aula de Introdução à Literatura, a professora perguntou o que era poesia...Para espanto geral, numa turma de 60 neófitos, ninguém soube encontrar uma definição para esta palavrinha que faz parte do nosso quotidiano.
Normalmente, associamos a poesia ao poema, aos poetas, mas a poesia está em tudo, está numa
borboleta que ao sair do casulo seca suas frágeis asas ao sol, está no olhar de um estranho que passa na rua e nos deixa uma qualquer impressão, enfim, está na vida que vivemos, nas coisas comuns.
Esta semana, descobri uma poetisa especial, daquelas que transformam a vida em poesia, fazendo com que a definição do termo seja secundária, senão irrelevante.
Esta poetisa chama-se Conceição Pazzola, uma poeta independente - em todos os sentidos!
Abaixo, transcrevo um poema seu, que nos leva ao mundo das nossas lembranças.
Deliciem-se, sintam o perfume dos versos... e relembrem, sintam o cheiro da infância!


CALMARIA
Conceição Pazzola

Na casa vazia ao sol clamei
Por luz e calor esquecidos
Em portas e janelas fechadas
Há muito tempo perdidos
Na casa vazia em vão busquei
Por um brilho de teu olhar
Nem as estrelas fulgurantes
Com mil fagulhas radiantes
Poderiam se equiparar...

Clamei na casa vazia, esperei!
Indícios de risos aconchegantes
Nem as musas de belas canções
Com suas vozes mais delirantes
Devolveriam ao seu lugar

Na casa vazia ainda uma vez...
Anseio pelos passos e abraços
Daqueles a quem tanto amei.
Nem os sons mais suaves
Mostraram o mais leve traço

Pela casa vazia ecoa a pergunta
Onde se perderam os meus laços?
Encontro o céu de nuvens juntas
São elas as moradas esparsas?
Procuro agora a fórmula mágica
Capaz de levar-me ao espaço...

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Anjos atraem anjos - para meu amigo OP


Existe um velho cliché que afirma que amigos são como anjos.

Bom… eu tenho muitos anjos a minha volta, uns estão mais perto, outros mais longe, mas todos permanecem ao meu lado, não importa a distância que nos separa.
Hoje, um desses anjos me mostrou que a vida vale a pena ser vivida, que o que importa é ser feliz, que, sem amar, não se pode falar com as estrelas!

Este é pra ti, meu amigo anjo! Segue em frente, porque estás na estrada certa! Atraíste mais anjos para o teu lado!

«Ora (direis) ouvir estrelas! Certo.
Perdeste o senso!» E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
.
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
.
Direis agora: «Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?»
.
E eu vos direi: «Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.»
.
(Olavo Bilac)

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Aquela viagem...

O Guri (abaixo) e o Piá, dormindo sossegadinhos...

O Trem Comboio d'África

O trem da África corre devagar
E entre savanas e praias
Vai deixando seu pesar
Da janela eu assisto
O Guri pedindo osso
E o Piá gritando por mamá

Rebentos felizes
Vêem o trem passar
Enquanto as pobres perdizes
Choram seu destino
De não ter ossos para pedir
Nem mamá para gritar.

E o trem comboio segue
Sua marcha arrastada
Deixando pela estrada
O apito rasgador
E avisa a toda a gente:
Esperança é fruto de sabor!


quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Ainda em viagens - Utopias





Já falei sobre viagens do pensamento, mas há uma viagem ainda mais profunda, que é a viagem da alma, do espírito. Nesta viagem, não só visitamos lugares fantásticos, mas também nos transportamos para um não-tempo, um não-espaço, onde qualquer coisa pode acontecer.
Viajando com a alma, vivemos outras vidas que estão latentes em algum lugar dentro de nós. Experimentamos sabores e emoções que nossa auto-crítica nos desencoraja, por sermos susceptíveis a convenções e normas desta sociedade dura e seca em que vivemos.
Nesta viagem, podemos chegar ao final do arco-íris e encontrarmos o pote de ouro. Podemos olhar pela nossa janela e, no lugar do prédio ao lado, vislumbrar uma paisagem paradisíaca, surreal, até.
Viajar com a alma é sonhar, é ter utopias. Utopias, sim, por que não??? Imaginar situações e lugares e entes fantásticos! Ou, quem sabe, sonhar um mundo sem guerras, sem fronteiras, como um dia sonhou John Lennon? E, já que estamos neste caminho, criar um novo verbo, que será a meta das almas cansadas que andam por este mundo??? Criaremos, então, o verbo «UTOPIAR», verbo transitivo directo, porque exige um complemento, significando «sonhar mais alto, transcender a barreira do sonho» - Utopiaremos sem medo do ridículo, discutiremos nossas utopias nas mesas dos bares, nas praças, nas salas de aula e chegará um dia que as utopias serão tema de debates nos congressos nacionais, na ONU, quem sabe…
E assim, utopiando, talvez consigamos aquele mundo sem fronteiras, sem guerras, um mundo onde reine a compreensão, porque a principal utopia será a do respeito mútuo!

sábado, 2 de setembro de 2006

As Viagens

Estive um tempo afastada dos assuntos «internéticos», mas neste meu retorno, encontrei um assunto que me pareceu encaixar-se perfeitamente à situação... VIAGENS...

Outro dia, assistindo ao canal da National Geographic - que para facilitar a pronúncia dos falantes do português virou NatGeo - chamou-me a atenção o anúncio de um programa que dizia: viagem sem fazer as malas, sem sair do lugar... é um programa que leva os espectadores para os lugares mais fantásticos do planeta através das imagens...

Também se pode viajar ao ler um livro. A imaginação combinada com as referências que o autor faz a certos lugares - quiçá até imaginários - sempre nos transporta como se não existissem barreiras físicas!

Mas há aqueles vajantes do pensamento, aqueles que conseguem, além de visitar os lugares, entendê-los, respirá-los, somente através do pensamento.

E é dentro desta incrível viagem que encontro um poeta-prosador moçambicano, o Adelino Timóteo. Ele faz a nova «literatura de viagens». Tenho comigo seu último livro, que se chama «A Fronteira do Sublime», onde o autor «viaja» e descreve a cidade de Veneza. Em curtas poesias em prosa, Timóteo revela peculiaridades que só um visitante muito atento e sensível conseguiria captar naquela cidade italiana. O interessante é que ele nunca lá esteve.

Abaixo, transcrevo o poema em prosa de abertura deste livro. Se gostarem, podem pedir mais...

1.
Veneza atracada em meu peito. Uma Veneza em mim, com seu ténue perfil efeminado. Está ali. Esperneia-se. Chove-se-lhe o lago que quer que o toque. Uma Veneza em meu leito. Demora-se a olhar-me. Há uma Veneza em mim, algo que seja, pássaro, mulher numa ascensão em cidade, ao mar, verde, azul, uma rosa em seu parco reluzir de oiro. Uma Veneza que é a matéria vil, emerso botão de alegria, emerso círculo de jóias que não disponho, uma Veneza há em mim, às quatro dumas paredes do quarto, ao vivo, ao Sol dos astros candentes opondo-se-me ao vivo. Veneza. Uma Veneza em mim. Perfume empacotado do Oriente. Eis que experimento as suas formas ovais, as planas sobre as digitais, ao leme, à polpa para a aventura. Sigo-lhe as ondulações, as vagas, as vertigens, a ternura. Grão a grão. Gota a gota. Sigo-lhe à intuição amorosa. Pantera, Panda, seu instinto. Entro-lhe. Só com os olhos. Delicadamente, em procissão solene.

(Adelino Timóteo in A Fronteira do Sublime - ed. Associação dos Escritores Moçambicanos, 2006)

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Poesia datada

Nas aulas de Introdução à Literatura, meus professores sempre falavam de «obras datadas», aquelas que eram escritas em uma determinada época e para aquela determinada época. Eram excelentes e provocavam furor ou expressões de apreço, mas somente naquela época. Passados alguns anos, já não cabiam mais nem no entendimento nem na apreciação do público.
Bem... esta semana me deparei com um poema datado. E datado duas vezes, porque refere-se a uma determinada época e, como parece ser costume aqui em Moçambique, com a data embaixo. O poeta chama-se Craveirinha, que, para quem não sabe, é considerado o maior poeta moçambicano. Craveirinha escreveu sobre um assunto muito popular em 1982, e colocou a data embaixo do poema: 10.8.1982 - estará fazendo exatos 24 anos daqui a uns dias...
Quando escrito, este poema poderia ser chamado pelos «especialistas» de «poema datado». Vejam por quê:

TERRA DE CANAÃ

Não, piloto israelita.
Inútil procurares nos incêndios de Beirute
e nos inocentes corpos mutilados pelos estilhaços ardentes
as belas palavras do Cântico dos Cânticos.

E voa mais baixo.
Desce velozmente mais baixo no teu caça-bombardeiro.
Voa mais baixo. Desce ainda mais baixo piloto hebreu.
Desce até Eichman. Voa até ao fundo dos ascos.
Acelera até os motores e as bombas de fósforo
contigo oscularem sofregadamente o chão sagrado.

Foi para este holocausto que sobreviveste
ao teu genocídio nos tempos da Nazilândia?
Achas que é esta a tua ambicionada Terra de Canaã?
Tu achas que assim ganhas a paz na Terra Prometida?

10.8.1982

Datado, não é? Engraçado como parece que foi escrito semana passada, aliás, poderia mesmo! A atualidade é incrível! Isso prova duas coisas:

1) A História é cíclica - sempre acaba acontecendo de novo...
2) A arte NUNCA é datada.

Aí lembrei do meu velho amigo Mário Quintana, que por estes dias anda muito popular nas televisões e jornais, porque estaria completando um século...

Ele dizia...

Poema
Mas por que datar um poema? Os poetas que põem datas nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam os ovos...

Não que esteja comparando Craveirinha a uma galinha, muito pelo contrário! Só que, se ele soubesse, talvez não tivesse deixado a data embaixo de todos os seus poemas...

domingo, 30 de julho de 2006

Imagens


«Uma imagem vale mais do que mil palavras»?
Pois é... esta semana recebi não uma, mas duas imagens que, realmente, dispensam palavras, mas, para evitar confusões e expressar meu egoístico ponto de vista...
A segunda foto foi tirada durante uma cirurgia realizada em um feto de apenas 21 semanas. A criança, ainda não nascida, estendeu sua mão para fora do útero e com seus dedinhos tentou segurar a mão do médico que a estava salvando... Lindo, não é? Uma boa mostra de quanto a vida é forte, de quanto a vontade de viver é fantástica!
E a PRIMEIRA FOTO? Viram? Esta também foi tirada durante uma cirurgia - uma cesariana. O médico que a fez também estava tentando salvar a vida da criança...
Mas...
Foi tirada no Líbano, há poucos dias... a mãe morreu em um dos muitos bombardeios e os vizinhos levaram seu corpo rapidamente para o hospital na esperança de salvar o bebê...
Só que, desta vez, a criança não pôde segurar a mão do médico. Já estava morta, a barriga da mãe havia sido atingida por um estilhaço - vejam as costas do bebê...
Duas crianças, dois sonhos. A visão de uma mulher grávida sempre traz esperança de renovação e a certeza de que o mundo pode ser melhor. No primeiro caso, estes sonhos têm todas as chances de se realizarem. Agora, no segundo, foram arrancados violentamente e sem piedade, tanto da mãe quanto da criança, que não teve nem a chance de tentar transformar este mundo em algo melhor.
É isso o que fazemos, nós, os «humanos».
Foi um humano que pesquisou e estudou muito para curar a primeira criança.
Foi também um humano que assassinou friamente a segunda criança.
E nós continuamos assistindo a tudo isso na TV sem dizer nada além de um «oh meu Deus, que horror!».
Oh, Meu Deus, que horror mesmo! Por que ninguém mais se revolta? Por que continuamos impassíveis assistindo a esta barbárie que está acontecendo no Líbano? Por que não forçamos nosso governo a fazer alguma coisa?
Simples... porque, como humanos, estamos seguros em nossas casas. Não é conosco que acontece...

quinta-feira, 27 de julho de 2006

Hipocrisia!!!

Podem me chamar de amarga, de cara de pau, mas já estou ficando chateada com esta hipocrisia toda em torno da nova novela da Globo. Confesso, assisto novela, sim! Podia justificar que aqui no porão da África não tem muito o que fazer ou que gosto de ouvir o «português brasileiro» da Globo em vez de ouvir o «português português» da SIC ou da RTP, mas às vezes é bom, sim, assistir novela!
Mas, voltando à hipocrisia - todo dia leio algum comentário novo falando mal do linguajar empregado pelas atrizes na tal novela. «Onde é que se viu??? Falar de sexo assim, tão abertamente!» ou «Oh! Já no primeiro capítulo, a Regina Duarte ficou falando em 'tesão' e 'sexo funcionário-público» (não era bem essa a expressaão, mas dá no mesmo). Hoje o comentário foi sobre - oh! a Ana Paula Arósio pediu para o Edson Celulari fazer «papai e mamãe»!
Ora!!!!! Por favor! Quem é que não sente TESÃO? Quem é que nunca fez ou pediu pra fazer «PAPAI E MAMÃE»???
Estou colocando em letras maiúsculas pra mostrar que NÃO É FEIO! Muito pelo contrário! Sexo é muito bom!
Infelizmente, essa nossa sociedade hipócrita, que se diz antenada com o século XXI, continua com esse tabu multissecular de que sexo faz-se (e somente entre 4 paredes e porta bem trancada) e não se fala no assunto!
Logo numa época em que as mulheres finalmente conseguiram se liberar, dizer aos homens: «Olha, eu não estou gostando assim, que tal aquela outra posição?» ou «Quem está com vontade hoje sou eu...», numa época abençoada em que as mulheres não precisam esperar pela boa vontade masculina e conseguem colocar suas fantasias e vontades pra fora! Agora, vêm com essa hipocrisia de «que horror falar tão abertamente em sexo»!!!!!!!!
Desculpem os mais pudicos, mas chega de hipocrisia, tá?

terça-feira, 25 de julho de 2006

A vida imita a arte?

Há alguns dias terminei a leitura de «O Diário do Farol» do Ubaldo. É sobre um padre assassino, completamente amoral e que comete os mais bárbaros atos de barbárie (é para ser redundante mesmo!)! Inicialmente, ele não era mau, mas, após sofrer vários maus tratos do pai e da tia, que juntos tramaram o assassinato da mãe (dele), decide que vai ser mau. E, no livro, que não deixa realmente de ser um «diário retroativo», diz constantemente que se orgulha de ser o homem «mais mau do mundo» e vai se vingando de todos que de alguma maneira o fizeram sofrer.
Lembra muito a ideia do «selvagem inocente» do Rousseau, que foi corrompido pela sociedade.
Por esses mesmos dias, toda a mídia alardeou o julgamento da Richthofen, todos torcendo pela sua condenação – dela e dos seus comparsas, mas, principalmente, dela. E quando aqui dito «todos», incluo-me nesta lista, juntamente contigo.
E fiquei pensando… será que este tal sentimento de justiça que evocamos quando dizemos que Suzane precisa ser condenada não é, no fundo, uma vontade de vingança contra tudo o que nos assusta nesta sociedade louca? Será que não canalizamos para uma única pessoa (?) todo o ódio recolhido em nossas mentes / corações durante todos os anos em que constantemente ligamos a televisão e abrimos o jornal e assistimos / lemos a maldades iguais ou maiores do que as cometidas por esta… não sei como chamá-la, sinceramente, meu «ódio» não permite que a chame de pessoa, menina, mulher, moça… Mas, acho que este último substantivo lhe cai melhor… Moça.
Então, continuando… será que não canalizamos para esta moça todos nossos ódios contidos?
Não que ela não seja culpada, muito pelo contrário! Mereceu os seus 39 anos e realmente é revoltante a possibilidade de estar solta em 3! Mas ela é apenas um dos tantos culpados que andam por aí nos aterrorizando quando chegamos em casa à noite e morremos de medo quando temos que descer do carro para abrir o portão.
E nós, que nos dizemos cidadãos de bem, nos comprazemos quando vemos que estas «moças» e «moços» estão sofrendo enjaulados (porque são bestas-feras) ou, e arrisco a dizer, quando são massacrados ou assassinados brutalmente, no fundo sentimos uma pontinha de prazer, como se estivéssemos sendo vingados.
Mas, nada de remorso, nada de se sentir mal por ter prazer com o sofrimento desses «monstros», afinal, somos humanos e isso faz parte da nossa natureza – a menos, é claro, que fôssemos o tal «selvagem inocente» do maluco do Rousseau!

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Para rir, porque nem tudo pode ser tão sério!!!


01.O pai da Malu Mader é o Malu Fader
02. Eu não matei, mandei o Mauricio Mattar
03. Você não tem, mas o Frankstein
04. Eu não vou furar. O Juca Kfouri
05. Aquilo todo mundo vê... Até o Clodovil
06. Todo mundo só morre uma vez, mas a Alanis Morissete
07. Eu pulo do barranco. O Luciano do Valle
08. Você já morou nos EUA? A Marylin Monroe
09. Aquilo que você não queria fazer? A Betty Faria
10. Eu acordo mais tarde. E o Edir Macedo
11. Ninguém queria pagar a conta. A Cassia Kiss
12. Eu pinto paredes. E o Jânio Quadros
13. O marido da Hilda Furacão é o Tony Tornado
14. O Pateta usa o teclado. E o Mickey Mouse
15. Eu escovo os dentes 4 vezes ao dia. E o Joãozinho Trinta
16. Você já esteve na Europa? A Adriana Esteves
17. Eu não fumo. Mas o Celso, Pitta
18. Eu gosto de chá gelado. E o Clark Kent
19. Eu fujo. O Chiquinho Scarpa20.

Você riu dessas piadas sem graça? NÃO? O Damon Hill

sábado, 22 de julho de 2006

Sobre o casamento...

Estava assistindo a um filme sobre uma plebeia que se casava com o príncipe da Dinamarca. O sonho encantado de toda menina, a realização de todos os contos de fadas que escutamos quando pequenas.
Subitamente, veio, então, na minha cabeça, o trecho de uma música que dizia «quem sabe o príncipe virou um sapo…».
Bom, às vezes acho que o casamento é exactamente isso. Durante o namoro, pensamos ter encontrado nosso príncipe encantado, até sonhamos com ele montado em seu cavalo branco, vindo-nos salvar da torre. Quando casamos, damo-nos conta de que ele simplesmente nos troca de torre, da torre que pensamos estar para a torre do casamento.
Para uma mulher o mundo em que vivemos é muito confuso. Temos dentro de nós aquele romantismo inato – e não adianta dizer que algumas não o têm –, mas crescemos ouvindo que temos de ser independentes, não depender dos homens, ouvindo os conselhos de nossas mães que dizem que todos os homens são iguais e não são confiáveis…
Fica muito confuso quando queremos romance, uma vida cor-de-rosa, sonhamos com um casamento perfeito, cheio de sorrisos, abraços, beijos e a realidade nos faz despencar das nuvens.
De repente, estamos perdidas, sem saber como agir. Será que devemos deixar de lado todo o romantismo da adolescência e viver uma vida comum? Será que de Cinderela temos de passar a Joana D´Arc assim, sem anestesia?
Isso não quer dizer que o casamento seja mau. Estar casada é maravilhoso. Dividir a vida com alguém é o melhor que podemos fazer. Afinal que graça teria sermos independentes, bem sucedidas, sem ter ninguém para dividir nossas alegrias?
A verdade é que somos iludidas com as histórias de Brancas de Neve e Cinderelas. Seria mais apropriado que as meninas do século XXI ouvissem histórias antes de dormir sobre a Erin Brokovich, por exemplo, sobre mulheres que amaram mas não deixaram de viver porque amaram. Construíram uma vida, não esperaram que um príncipe chegasse e as levasse para um castelo onde sua vida seria perfeita. Não existe vida perfeita, não existem príncipes.
Existe, simplesmente, casamento, amor, compreensão, amizade.
E isso é bem melhor do que um castelo cor-de-rosa cercado de muros altos. Um marido é bem melhor do que um príncipe.
E ponto final.

Suicídio da alma... melancólico, mas profundo...

Eu sou uma suicida da alma.
Dia a dia mato um pouquinho mais da minha alma
e a arma é meu pensamento, meu raciocínio.
Não entendo por que não deixo a vida correr,
por que tenho sempre de achar uma lógica, um sentido em tudo.
Seria tão mais fácil simplesmente não pensar,
aceitar as coisas como elas me são ditas.
Lavagem cerebral é um conceito tão ruim, mas torna as coisas tão mais fáceis.
Por que eu não consigo fazer uma lavagem cerebral em mim?
Esquecer tudo, não tentar entender nada.
A vida seria tão mais leve.
Mas não.
Preciso suicidar minha alma, apunhalar meu coração.
Por que essa busca infinita e infrutífera da verdade absoluta?
E por que só procuro uma parte da verdade que não interessa?
Onde está a minha verdade? A minha vontade?
Quero esquecer, quero relevar, deixar rolar,
Mas o grilo falante da consciência grita alto,
As engrenagens do raciocínio não param e, como que enferrujadas,
rangem alto, não me deixam ouvir meus sonhos,
calam meu coração.
E o coitado do coração bate arrítmico,
Ora devagar, ora disparado
E eu penso que vou morrer.
Mas não, meu corpo não morre,
Esse que eu já tentei conscientemente matar
Não morre.
Agora, a alma, aquela que deveria ser imortal,
com todas minhas alegrias e sonhos,
definha, seca como um galho no Inverno.
Troco tudo – alimento o corpo e mato a alma.
Mas, o que é um corpo sem alma?
Quem sou eu?Uma suicida, ponto final

Matéria da Revista Veja - imperdível!

Para pensar no que realmente estamos comendo... sem o cinismo do «politicamente correto», mas sendo conscientes do que um animal pode sofrer somente para nos dar o prazer momentâneo de degustar alguma coisa...

Crueldades de rotina

Walcyr Carrasco

Nos últimos tempos, tomei certa implicância pela história do politicamente correto. Para mim se tornou uma espécie de censura. Não se pode falar disso ou fazer aquilo. Como escritor, me sinto tolhido.
Dia desses, porém, recebi um e-mail de um leitor que mexeu comigo. Dizia quanto se surpreendeu ao constatar que sou consumidor de fígado de ganso, em forma de patê ou de outras iguarias. Lembrava como sofrem as aves para ganhar um fígado gordo e saboroso. Minha primeira reação foi: - Puxa, não posso nem comer em paz? Depois, parei para pensar. Fui conversar com um amigo, Franco. Ele me explicou: - Os gansos são engordados à força para ficar com o fígado enorme. A ração é despejada em sua boca por uma espécie de funil. Arrepiei-me. Ele continuou: - Muitos criadores pregam as patas dos gansos no chão, para que não se movam e engordem mais ainda! Não era uma informação recheada de detalhes técnicos.
Lembrei-me de um francês cuja mulher, brasileira, ameaçou separar-se quando ele começou a produzir patê de foie, num sítio próximo à Fernão Dias. Não suportava a crueldade.
Também fiquei sabendo que nos Estados Unidos já se programa a proibição da venda. Resolvi: não como mais!
Fiquei pensando: quantas coisas consumo sem me deter na origem? Muitas vezes dou palestras em escolas sobre um livro para jovens de minha autoria, que fala sobre drogas. Uma das questões que coloco é a responsabilidade social: - Quem usa uma droga, mesmo a considerada leve, tem a obrigação de lembrar que, para ela chegar às suas mãos, passou por uma cadeia de ilegalidades, roubos, violências, talvez mortes. Assim, o usuário é também um cúmplice. Isso não vale também para outros aspectos da vida? Jamais gostei de casaco de pele. São lindos, é verdade. E... os bichos? Caçados, criados em gaiolas...
Durante as últimas décadas fomos nos distanciando da origem do que comemos. Certa vez levei um garoto a um sítio e lhe mostrei um frango. Ele espantou-se: só conhecia os de supermercado. Ninguém mais vê galinhas, vacas, porcos, a não ser em filmes ou eventuais viagens ao campo. Um grupo, entretanto, já começa a se preocupar em saber como o alimento é produzido. Quem já comeu sabe: um frango caipira, criado ao ar livre, tem sabor muito melhor que os de granja, aprisionados. Alguns são alimentados de maneira tão artificial que a carne tem uma textura estranha. Lembra papelão.
E as espécies ameaçadas? Certa vez estava em um jantar elegantíssimo em Manaus. Serviram tartaruga. Uma antiga Miss Brasil, Adalgisa Colombo, estava sentada ao meu lado. Cruzou os talheres e avisou: - Não como. Uma outra convidada sorriu: - Que exagero! Esta aqui já está morta mesmo! Encheu o prato. Eu já estava me servindo. Tomei consciência. Parei. Afinal, não vivo falando contra a extinção das espécies? Portanto, seria indecente compartilhar o menu.
Não sou e nunca serei um sujeito que vai às raias da loucura com a história do politicamente correto. A vida é uma longa cadeia de espécies que se devoram entre si. Mas existem maneiras de criar animais sem crueldade. Também existe muita comida boa neste mundo. Por mais que eu viva, não experimentarei tudo o que o pecado da gula proporciona.
Há coisas em que acredito. Não posso agir como se minhas idéias não tivessem nada a ver com a realidade. Não quero ser cúmplice do sofrimento de um animal. A dor, de alguma forma, ficará impregnada na refeição. Acredito que os seres trocam energias entre si. Sinceramente, não quero esse tipo de energia dentro de mim. De agora em diante, bani a crueldade do meu cardápio.

Sobre o remorso...

O remorso crônico, e com isso todos os moralistas estão de acordo, é um sentimento bastante indesejável. Se considerais ter agido mal, arrependei-vos, corrigi os vossos erros na medida do possível e tentai coduzir-vos melhor na próxima vez. E não vos entregueis, sob nenhum pretexto, à meditação melancólica ds vossas faltas. REBOLAR NO LODO NÃO É, COM CERTEZA, A MELHOR FORMA DE ALGUÉM SE LAVAR.

Prefácio de «Admirável Mundo Novo» (Aldous Huxley)

NOTÍCIAS DE ÁFRICA - Para pensar no Brasil...

Leiam e tirem suas conclusões... Mas, para ajudar a refletir...

1. Será que o tal presidente está abusando do seu poder ou está realmente defendendo o seu povo? (Aqui, não esqueçam de que Mugabe é um DITADOR, que prefere ver seu povo passando fome a deixar de exportar tudo o que o Zimbabwe produz...);

2. Por que, como acontece no Brasil, os governantes - que são responsáveis pelo ensino público - mantêm seus filhos em escolas particulares? Estarão eles reconhecedo que realmente a qualidade do seu trabalho - porque é de organizar o ensino público - é mesmo ruim???

NOTÍCIA RETIRADA DO DIÁRIO DE MOÇAMBIQUE, Sábado, 22 de Julho de 2006 - última página:

MUGABE NAO QUER PAGAR PROPINAS DO SEU FILHO

O presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, recusa-se a pagar as propinas do seu filho Chatunga Mugabe, de nove anos.A Escola Primária Hartman, um estabelecimento de ensino privado, localizado em Harare, exige o pagamento de 109 milhões de dólares zimbabweanos (cerca de mil dólares americanos) por semestre.
Mugabe diz que as propinas são «ultrajadamente caras».Contudo, a escola insiste que a hiper-inflação, associada a constante subida do custo de vida, torna incontornável a subida do valor das propinas.
O ministro zimbabweano da educação, Aeneas Chigwedere, é reportado como tendo solicitado aquele estabelecimento de ensino para reduzir para metade o valor das propinas, alegadamente sob as ordens do Presidente Mugabe.
A escola diz que este montante está dentro dos parâmetros exigidos noutras instituições similares.Uma carta atribuída a Chingwedere, e que o jornal sul-africano «Die Burger» afirma estar na posse de uma cópia, o ministro diz que as propinas deveriam ser reduzidas para 53 milhões de dólares zimbabweanos.
Explicando a exigência da redução das propinas, Chingwedere é citado como tendo dito que as propinas da Escola Hartman não estavam de acordo com os índices dos preços do cosumidor, facto que é refutado pela direcção do estabelecimento.
De acordo com fontes bem informadas, os pais cujos filhos frequentam a Escola Hartman acabaram cedendo às exigências para o pagamento daquele valor por falta de uma outra opção.Durante os últimos meses, a maioria das escolas zimbabweanas viam-se forçadas a aumentar drasticamente o valor das propinas, que em alguns casos atingiram cerca de 400 por cento devido à inflação crescente, que de acordo com os dados oficiais do Gabinete Central de Estatísticas está acima dos 1.100 por cento.