Cada ano novo é como um filho parido no exato segundo da
meia-noite de 31 de dezembro. E todo parto, por mais difícil que seja, é feliz.
Curtimos a gravidez durante dezembro inteiro, fazendo planos
para o futuro do novo filho e preparando a festa da sua chegada. Analisamos o
que erramos com os filhos mais velhos e prometemos não mais cometer aqueles
erros indesculpáveis com o novo rebento. Como mães desnaturadas, abandonamos os
filhos mais velhos como se nunca tivessem existido. E dedicamo-nos inteiramente
ao novo, que traz esperança e um sorriso de luz nos lábios.
Só que depois da alegria do parto, vêm as dores de ser mãe. Como
um bebê, o novo ano rouba-nos as noites de sono e toma todo o nosso tempo com
exigências de atenção. Tem de ser cuidado, acarinhado, educado. E na azáfama de
procurar tempo para tudo acabamos por esquecer dos erros que cometemos antes e
repetimos tudo igual porque somos animais de hábitos constantes.
O que vale é que a experiência com os anos novos anteriores
nos torna mais fortes e mais sábios e os erros que cometemos já não são assim
tão graves nem tão destruidores. Conseguimos, ano após ano, educar e alimentar
melhor este novo filho, já não mais fazemos experiências para ver se acertamos,
simplesmente sabemos o que fazer.
E assim, ano após ano, vamos aprendendo a criar melhor nosso
rebento para a cada dia 31 de dezembro parir outro novo e renovar a nossa
esperança.
Mas, fazer o quê... nós humanos somos assim, precisamos de
incentivos, de novas chances. O dia 1º de janeiro é um dia como outro qualquer.
No fundo sabemos que não acontece nenhuma magia ou milagre que muda tudo só
porque o último número do ano mudou. Mas precisamos de renovação, precisamos
renascer e parir uma vida completamente nova e diferente. Pobres de nós, que
somos tão dependentes desta esperança fugaz e felizes de nós que temos a
capacidade de nos renovar.
Ser humano é a maior dádiva que nos foi dada e ao mesmo
tempo é a pior maldição. Almejamos o todo, queremos cada vez mais. Esquecemos o
que está ao lado e deixamos de prestar atenção à lição dos animais “não
racionais”, que só procuram alimento, aconchego e um pouco de carinho.
Minha esperança para 2014 é que sejamos menos humanos e mais
animais.
Que comecemos a olhar para o lado, que estendamos a mão, que
amemos sem restrições.
E isso significa não abandonar o ano velho moribundo,
significa sentar ao seu lado e ouvir pacientemente suas lições de vida e
aprender com a sua sabedoria. Significa continuar crescendo em coração, em
sentimentos e em emoções.
Porque ninguém em sã consciência abandona um filho, por pior
que ele tenha sido. Tentamos sempre ensinar e aprender. Este é o ciclo da vida.
Feliz dia 1º de janeiro e feliz dias 2, 3, 4, 5....... feliz dias, feliz continuação da vida para todos!!!