domingo, 27 de fevereiro de 2011

Paradoxo


A novidade veio dar à praia
Na qualidade rara de sereia
Metade o busto
D'uma deusa Maia
Metade um grande
Rabo de baleia...



(Gilberto Gil)








Já faz algum tempo... 


Estávamos jantando e começou o alvoroço lá embaixo na praia. Era uma tartaruga perdida.


O clube todo foi ver. Máquinas fotográficas em punho. Ou telefones celulares (daqueles que servem para tudo menos para telefonar). Flashes, poses... todos queriam o registro do momento em que estavam perto de uma tartaruga gigantesca.


Eu não fui diferente. Também apontei meus flashes para a coitada. Foi quando me dei conta de que aquela situação, para ela, não era de ribalta. Ela não estava ali para um show. E minha consciência pesou.


Eu e mais alguns nos preocupamos com o seu futuro. A quem ligar? Quem poderia ajudá-la a voltar ao mar e seguir o seu caminho? As opções nesta terra são mínimas, para não dizer nulas, mas lá conseguiu-se que algum órgão do governo se dispusesse a tratar da tartaruga no dia seguinte.


Foi então que aconteceu o paradoxo...


Enquanto nós nos preocupávamos com o bem estar daquela criatura maravilhosa, outros já sonhavam com a grande sopa que tomariam...


E tivemos de colocar guardas esfomeados para impedir que a tartaruga virasse sopa durante a noite...


Os guardas, mesmo esfomeados e sonhando com a sopa, cumpriram sua missão. Pela manhã, alguns doutores biólogos apareceram, ladeados por carregadores esfomeados que esgotaram suas forças para carregar a tartaruga para cima de um barco que levou-a para o mar...


E o paradoxo ficou estabelecido...


Enquanto nós "civilizados" maravilhavamo-nos com a beleza e o tamanho gigantesco da tartaruga e nos aliviávamos com a sua partida, outros menos "esclarecidos" choravam a partida de uma maravilhosa refeição...


É o mundo!

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