sábado, 20 de setembro de 2008

Carlos Rufai Murange

Três pretendentes à mesma noiva


Algures em Marromeu, em Sofala, três rapazes, por curiosa coincidência, pensaram em noivar a mesma rapariga. Como eram pobres e sabiam já que o pai só daria a filha ao pretendente mais rico, resolveram ir trabalhar na Rodésia do Sul, actual Zimbabwe, a fim de fazerem fortuna.

Partiram. Algum tempo depois de lá estarem, um deles encontrou um segredo maravilhoso que lhe permitia conhecer as coisas que aconteciam a distância.

Um outro, também na mesma altura, encontrou um segredo que tinha a virtude de levar uma pessoa rapidamente a terras longínquas.

Finalmente, o terceiro encontrou um remédio que lhe dava o poder de ressuscitar os mortos.

Decorridos alguns meses, o primeiro deles, por virtude do seu segredo, teve conhecimento da morte da noiva pretendida.

Correu ao encontro dos outros dois seus companheiros e falou-lhes desta sorte:

- Na nossa terra, lá em Moçambique, aconteceu uma grande desgraça. Acaba de falecer a nossa pretendida noiva.
Ao ouvir a novidade, o segundo, que tinha o poder de fazer deslocar uma pessoa à distância, disse:

- Então vamos os três depressa, a fim de assistirmos ao seu enterro.

E, por virtude do seu segredo, dentro de momentos, encontraram-se, misteriosamente, os três juntos da defunta.

Uma vez ali, o terceiro disse:

- Eu tenho o poder de ressuscitar os mortos. Por isso, ressuscitá-la-ei. E assim fez, deixando toda a gente maravilhada.

Como a rapariga ficasse completamente boa, novamente renasceu no coração dos três rapazes o desejo de a noivarem.

O primeiro a apresentar as suas pretensões foi o que acbara de a ressuscitar. E disse:

- A menina é minha, porque, se não fosse eu, ela não mais voltaria à vida.

Mas logo lhe observou o segundo:

- A menina pertence-me, porque, se é certo que tu a ressuscitaste, a verdade é que nenhum de vós chegaria a tempo de a ver, se eu não usasse do segredo que tenho.

Por sua vez, o que tinha o segredo de conhecer as coisas à distância objectou contra os dois:

- Alto lá com as pretensões! A menina é minha e muito minha, porque, embora um para aqui nos tenha conduzido rapidamente e outro tenha ressuscitado, se não fosse eu, nenhum de vós teria sequer conhecimento da morte dela.

Estado o assunto neste pé e não querendo nenhum deles ceder a outro o direito de pretensão à rapariga, foram os três ter com o Régulo a fim de resolver o milando.

O Régulo, depois de ouvir atentamente cada uma das partes, declarou que o caso era dificílimo de solucionar, porque as razões que militavam a favor de cada um eram todas de igual valor.

Como, pois, nada mais acrescentasse, entrou de falar a rapariga e propôs aos pretendentes a seguinte prova:

- Aquele dentro de vós que for capaz de aplicar os seus lábios ao peito da minha mãe, esse será o que terá dirieto à minha mão.

Apenas acabou de falar, imediatamente dois deles se apressaram a cumprir a condição imposta. O outro, ao contrário, sentiu-se tomado de um natural pudor e exclamou, decisivamente:

- Perderei a noiva, mas nunca!... nunca eu farei uma tal coisa!

Então a rapariga, ao contrário do que prometera, estendeu a mão para este terceiro e sentenciou, sabiamente:

- Só tu efectivamente tens direito à minha mão, os outros dois não, porque são meus irmãos... A prova é que não tiveram repugnância de aplicar os lábios ao mesmo peito a que eu fui amamentada...

Deste modo, ficou a contenda definitivamente resolvida, passando toda a assistência da esperteza da rapariga.

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