Ao procurar uma
definição para a expressão “paraliteratura”, encontraremos, na maioria dos
casos, o seguinte: “Termo que designa (...) uma série de textos que são
considerados não literários, embora possam reconhecer-se neles alguns aspectos
de valor literário: novela cor-de-rosa ou sentimental, policial, far-west, de terror, de ficção
científica, fotonovela, etc.”[1].
Já para alguns
autores, como Carlos Reis (O Conhecimento
da Literatura, 2. Ed. Coimbra. Almedina, 2001), “paraliteratura” é todo o
texto que não se encaixa nos cânones literários.
Na minha
paupérrima opinião, é a literatura superficial, feita para as massa e com o
simples objetivo de vender livros. É a literatura despreocupada, vazia de
significados, pensada para o entretenimento de leitores que procuram uma
distração fácil que os faça esquecer e descansar da vida enlouquecera que
levamos.
Um dos
expoentes deste tipo de escrita, no Brasil, é o famoso e mundialmente traduzido
escritor – e mago – Paulo Coelho.
Mas não é do “Mago”
que quero falar hoje. É, particularmente, de dois escritores também mundialmente
famosos, um deles autor de um best seller:
Dan Brown e o português José Eduardo dos Santos.
O primeiro
conheci com o famosíssimo O Código
Da Vinci, no ano do seu estrondoso sucesso. O segundo, que já conhecia
através da sua atuação como jornalista nas televisões portuguesas, fui
descobrir escritor há uns dois anos, com O
Códex 632.
Depois disso, e
recentemente, li mais um livro de cada um deles: Inferno, de Brown, e O Sétimo
Selo, de JRS.
Já no meu
primeiro contato com a obra de JRS, identifiquei prontamente o estilo de Dan
Brown. A base da trama – um mistério com toques de romance policial, adornado
com informações reais sobre fatos do nosso quotidiano e muitas referências
sobre algum fato cultural. Ambos chamavam a atenção para alguma questão
importante: o futuro da religião católica, no caso d’O Código Da Vinci e a síndrome de Down, no caso d’O Códex 632.
Confesso que li
estes quatro livros sem descanso. A interessante oferta de informações reais
chama a atenção e leva o leitor – pelo menos esta que vos fala – a querer saber
mais e mais. A intertextualidade também prende, pois possibilita-nos um
conhecimento culto sem esforço.
Infelizmente, o
fato é que nada disso substitui a sensação de vazio que senti no final de cada
um dos romances. O que ficou foi a sensação de ter sido enganada – ao invés de
um thriller de tirar o fôlego, recebi
uma história simples, recheada de informações enciclopédicas e jornalísticas. Na
verdade, das (em média), 500 páginas de cada romance, acredito que somente 20%
faziam parte da narrativa. A informação é tão repetitiva que, em algumas partes
d’O Sétimo Selo, chegava a pular para
a página seguinte. A impressão é de que o autor está “enchendo linguiça”, como
dizem na minha terra.
Calma! Penso que
estou dando a entender que estes dois
escritores de sucesso não prestam! Ora, quem sou eu?! Pelo contrário, eles são
excelentes! Possuem uma cultura e fontes de informação extraordinárias, que
aliam à sua enorme imaginação.
O caso é que eu
sou meio conservadora para estas coisas. Quero sempre que, no final de um
livro, eu ainda conserve alguma simpatia por uma personagem, algum “perder o
fôlego” ao lembrar de um parágrafo, quero que alguma imagem fique gravada na
minha memória para sempre.
Como acontece
com a passagem de Guerra e Paz em que
André Bolkonsky agoniza em uma cama no mosteiro, tendo por companhia a
desesperada Natasha, que implora o seu perdão. André perdoa a amada e morre sob
a luz do sol poente a entrar pela janela, o que torna o quarto aconchegante e
lúgubre com seus tons laranja.
Já não e lembro
se é isso o que foi realmente descrito por Tolstoi, mas a minha mente de
adolescente – devia ter uns 14 anos quando li este livro – gravou assim aquela
cena. Nem preciso dizer que, quando assisti ao filme, em preto e branco, a
decepção foi total, pois a cena não era nada do que eu havia imaginado.
Isso tudo para
dizer que sinto falta das personagens reais, com sentimentos e dramas profundos
e personalidades marcantes.
Ora, quem é
Roberto Langdon? Um professor universitário com grande conhecimento, claustrofóbico
e... e o que mais???
Para terminar –
porque acho que já falei demais e sou capaz de começar a “encher linguiça” –
confesso que vou continuar a ler Dan Brown e José Rodrigues dos Santos, porque
também gosto de algumas leituras descompromissadas. Mas não vou largar nunca
James Joyce, Umberto Eco, José Saramago, Guimarães Rosa e o meu novo víco:
Khalid Housseini.
Felizmente à
lista de autores que nunca vou deixar, posso continuar acrescentando nomes
infinitamente. Ainda bem que a literatura de verdade ainda sobrevive, apesar da
“literatura de massa”.
A título de
P.S., uma última confidência: tenho na minha estante O Anjo Branco do José Rodrigues dos Santos. Foi um presente. Vou ler
em breve. Mas não contem para ninguém, certo?
[1] PAZ, Olegário, MONIZ, António. Dicionário breve
de termos literários. 2. Ed. Lisboa. Editorial Presença, 2004.
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