terça-feira, 25 de julho de 2006

A vida imita a arte?

Há alguns dias terminei a leitura de «O Diário do Farol» do Ubaldo. É sobre um padre assassino, completamente amoral e que comete os mais bárbaros atos de barbárie (é para ser redundante mesmo!)! Inicialmente, ele não era mau, mas, após sofrer vários maus tratos do pai e da tia, que juntos tramaram o assassinato da mãe (dele), decide que vai ser mau. E, no livro, que não deixa realmente de ser um «diário retroativo», diz constantemente que se orgulha de ser o homem «mais mau do mundo» e vai se vingando de todos que de alguma maneira o fizeram sofrer.
Lembra muito a ideia do «selvagem inocente» do Rousseau, que foi corrompido pela sociedade.
Por esses mesmos dias, toda a mídia alardeou o julgamento da Richthofen, todos torcendo pela sua condenação – dela e dos seus comparsas, mas, principalmente, dela. E quando aqui dito «todos», incluo-me nesta lista, juntamente contigo.
E fiquei pensando… será que este tal sentimento de justiça que evocamos quando dizemos que Suzane precisa ser condenada não é, no fundo, uma vontade de vingança contra tudo o que nos assusta nesta sociedade louca? Será que não canalizamos para uma única pessoa (?) todo o ódio recolhido em nossas mentes / corações durante todos os anos em que constantemente ligamos a televisão e abrimos o jornal e assistimos / lemos a maldades iguais ou maiores do que as cometidas por esta… não sei como chamá-la, sinceramente, meu «ódio» não permite que a chame de pessoa, menina, mulher, moça… Mas, acho que este último substantivo lhe cai melhor… Moça.
Então, continuando… será que não canalizamos para esta moça todos nossos ódios contidos?
Não que ela não seja culpada, muito pelo contrário! Mereceu os seus 39 anos e realmente é revoltante a possibilidade de estar solta em 3! Mas ela é apenas um dos tantos culpados que andam por aí nos aterrorizando quando chegamos em casa à noite e morremos de medo quando temos que descer do carro para abrir o portão.
E nós, que nos dizemos cidadãos de bem, nos comprazemos quando vemos que estas «moças» e «moços» estão sofrendo enjaulados (porque são bestas-feras) ou, e arrisco a dizer, quando são massacrados ou assassinados brutalmente, no fundo sentimos uma pontinha de prazer, como se estivéssemos sendo vingados.
Mas, nada de remorso, nada de se sentir mal por ter prazer com o sofrimento desses «monstros», afinal, somos humanos e isso faz parte da nossa natureza – a menos, é claro, que fôssemos o tal «selvagem inocente» do maluco do Rousseau!

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