sábado, 10 de março de 2007

DAS COISAS QUE COMPETEM AOS POETAS



Nas terras onde os sinos andam pelas ruas
há horas surdas sós e sem cuidados
há mar condicionado ao possível verão
e vendem-se manhãs e mães por três idéias.

Nas terras onde a música é o fogo de artifício
a camioneta curva a carga sob os plátanos
e à sombra dos lacrimejantes carros
o gato dorme a trepadeira sobe
o soba grita nunca ninguém sabe
a erva cresce e as crianças morrem.

O mar aceita chão a mão do sol.

Que plural deplorável o da magna agência mogno.

E nas tílias há riscos dos vestidos de retintas raparigas
e o dente resistente número quarenta cheira a pepsodent.

(Ruy Belo)

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