sábado, 7 de junho de 2008

«Os Intérpretes» de Wole Soyinka

Por P. Manuel Ferreira

O nigeriano Wole Soyinka formou-se muito na Inglaterra, onde exerceu parte do seu professorado. Dedicou-se sobretudo ao teatro. A sua peça «O Leão e a Jóia» teve grande êxito, tanto na Inglaterra quanto na Nigéria. Era revolucionária, enfrentava o problema da decadência dos valores da cultura tradicional, em decorrência da invasão dos valores ocidentais. Na festa da Independência da Nigéria, representou-se a sua «Dança dos Bosques». De 67 a 69 esteve preso por acusações de carácter político. Foi actor no primeiro filme nigeriano, baseado numa peça sua. Foi galardoado como Prémio Nobel de Literatura, em 1986.

Com que chave interpretativa interpretaremos «Os Intérpretes»?

Parece-me boa esta: como vimos, Soyinka é sobretudo um dramaturgo. Com razão o consideram o melhor dramaturgo africano de língua inglesa. Este romance divide-se em duas partes: a primeira com 10 capítulos e a segunda com 8. Transpondo para linguagem dramatúrgica, diremos que se trata de uma grandiosa peça dramática, em dois actos, um com 10 cenas, outro com 8.

Quem são «Os Intérpretes»?

São um grupo de 6 jovens nigerianos, formados geralmente no estrangeiro, culturalmente suspensos e mal instalados entre a cultura tradicional africana e as estrangeiras sobrevindas.

O Sekoni, filho de muçulmano e cristã, gago, engenheiro e escultor, genial, rejeitado por não alinhar com a alta corrupção. Inventor que, em vez de ser acolhido, metia medo e era repelido. Vítima da sua competência e honestidade. Opinava que a vida é a cúpula da continuidade. A cúpula da religião é que faz de ponte entre vivos e mortos (p. 16); a vida, o amor são caminhos para a cúpula universal (p. 34); uma mulher é a cúpula do amor e a cúpula da religião (p. 35); na cúpula do cosmos, há completa unidade da Vida. Vida é como a divindade, a pluralidade das suas manifestações é apenas uma ilusão… a vida, ou a morte, ambas estão contidas na cúpula única da existência. Tinha a ideia fixa, angustiada, de ter pedaços de carvão na boca (p. 34). Morreu atropelado por um camião.

O Sagoe, jornalista formado na América, filho de um milionário. Tinha muito talento, embora o desperdiçasse na boémia.

A Dehinwa, namorada de Sagoe, é a única mulher do grupo. Formada na Inglaterra graças às economias da sua mãe, por quem tinha um grande respeito, ao ponto de seguir intransigentemente a sua tradição da rigorosa virgindade até ao matrimónio, posição que Sagoe detestava, mas respeitava.

O Egbo, salvo das águas em menino, quando o pai, um respeitável reverendo (p. 24), evangelizador ambulante, e a mãe se afogaram quando a canoa foi ao fundo. Era incessantemente atraído pelo modelo dos mortos (p. 18). Perguntava: se os mortos não são suficientemente fortes para estarem sempre presentes na nossa existência, não poderiam ficar como estão, mortos? (p. 16). Achava que os mortos têm para com os vivos o dever de serem esquecidos rapidamente, proveitosamente (p. 135). Não devemos interferir com eles, porque então eles emergem, forçando os vivos a dilemas terríveis (p. 136). De rapazinho, rezava, deitado à beira da água com uma orelha colada ao solo, junto das águas em que os pais tinham morrido. Amigo do silêncio e da profundidade das águas, resolvia tudo numa simples alternativa de afogamento. O grupo considerava-o mulherengo. Até já em miúdo, um professor dizia que ele era maníaco sexual. Enquanto tinha a amante Simi, engravidou uma universitária, o que lhe trouxe o desgosto definitivo.

O Kola, professor de arte na Universidade. Tentava compreender tudo, que tentava clarificar as peças dentro das vestes acomodatícias do tempo, sentiu, mais tarde, num momento de tranquilidade e ordem, que o que faltava naquela noite era o poder de sacudir os acontecimentos, separando-os um a um e colocando-os em etapas sucessivas do período de criação (p. 269).

O Bandele, professor economista. Era uma imagem intemporal meditando sobre seres menores (p. 269). Velho e imutável, como as mães reais do trono de Benim, velho e cruel como o ogboni em conclave pronunciando a palavra (176).

E o Lasunwon, de quem se diz menos que dos outros. Era muito realista, seco, positivo.

Quem é que «Os Intérpretes» interpretam?

A si mesmos: suas vidas, recordações, ideais, contradições, traumas. E a sociedade, do ponto de vista sócio-cultural e político: Qual é o africano moderno que não vomita política? (p. 135). Sobretudo o problema da corrupção: chefes novos-ricos incompetentes, falsos, sujos, tudo show, mas sem conteúdo moral e intelectual e cultural. Luxo requintado a combinar com miséria nojenta. Corrupção em todos os níveis e aspectos. Sagoe foi descobrindo como os velhos e chefes eram indignos de respeito. Um mundo cão, onde cada um em que se defender sozinho (p. 109).

E qual dos seis será o protagonista?

A princípio, pareceu-me Sekoni. Mas, quando estava quase a identificá-lo e defini-lo, eis que, logo ao princípio do 2º acto, ele morre-me estupidamente debaixo de um camião desenfreado.

A seguir, pareceu-me ter reunidos os dados para nomear Sagoe. Mas ele desapareceu-me da cena, quase até ao fim.

Depois, apostei em Kola. Mas também ele não era.

E, finalmente, a maneira como fecha o pano parece convencer que é o Egbo. Tudo começa por ele e tudo por ele termina. No fim, todos ficam a saber que ele é que era o pai da criança da aluna de Bandele. Escândalo geral na universidade. Os comentários de professores e outra gente mais velha: O padrão da moral baixou realmente muito… (p. 274). O país inteiro está mergulhado numa apatia moral (p. 274). A geração actual é demasiado corrupta (p. 275).

Egbo sente-se rejeitado, amaldiçoado, perdido… os olhos eram faróis num oceano de singular tristeza… uma alternativa para um homem, que se afogava… sim, pensava Egbo, é apenas a alternativa para um afogamento (p. 276). Os pais tinham morrido afogados e ele salvara-se. Mas, finalmente, não escapou de se afogar, nesta outra espécie de águas profundas e lamacentas.

Mas, no fim das contas, cada um dos seis Intérpretes escapa à nossa nomeação para protagonista. Digamos que o protagonista, afinal, não é nenhum deles, em particular, mas todos eles, como um todo.

E à volta dos seis, como uma espécie de satélites necessários, giram outras personagens como: Simi, a misteriosa e intrigante amante de Egbo; Lázaro, o albino, que afirmava ter morrido e ressuscitado e fundou uma igreja rara e reunia à sua volta uns apóstolos, vindos da criminalidade; Noé, o pilha-galinhas a quem Lázaro pretendeu transformar num santo apóstolo e que morreu atirado na varanda do Joe Golder, vítima deste americano maricas; o professor Ayu, médico, complexado; e a sua esposa Mónica, uma branca desinibida.

«Os Intérpretes» lê-se com crescente interesse e entusiasmo. É como se estivéssemos a assistir a uma grande peça teatral de grande intensidade humana. Algumas cenas parecem passar-se aqui ao nosso lado. Na 8ª cena do 1º acto, uma multidão anónima furibunda corre atrás de um pilha-galinhas, com a clara intenção de o linchar. Na 2ª cena do 2º acto, assiste-se a um culto religioso todo charlatanice, ignorância e uma descarada demagogia. É perante esse espectáculo caricato que Bandele observa:
- Sagoe já tem o seu artigo. Kola encheu mais um espaço vazio na sua tela. E tu, Egbo, que vais tu extrair de tudo isto?
- O conhecimento da nova geração de intérpretes…

Quero morrer gaúcha - Olga Matos


Mas olha que coisa lindaça,
que venho encontrar aqui
as flores lindas dos pagos
os tragos doces dos vinhos
desta terra onde nasci!

Nessas horas sem alarde
sou senhora desses pagos
sou Anita Garibaldi,
ou prenda num doce amargo,
que sirvo e num riso trago.

Sou filha cá desta terra,
cativa dos seus encantos
nasci longe das serras,
verti cá dentre os pântanos,
vento e sangue litorâneo!

Já disse e torno a dizer
cá nos braços do minuano,
vivo e quero viver,
quero mortalha pampiana
no dia em que eu morrer!

O que é REIKI?


O REIKI está presente há muitos anos na minha vida. Pratico diariamente e recomendo sempre aos amigos.

Apesar da grande divulgação e do seu sucesso, muitos amigos ainda me perguntam o que é «esse tal de REIKI».

Resolvi, então, fazer uma série de postagens para tentar responder a todas as perguntas que me são feitas... digo tentar, porque ninguém consegue responder a tudo! Esta é a primeira.

Espero que gostem e comentem. Qualquer dúvida, perguntem - talvez eu consiga responder.

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O QUE É O REIKI?



REIKI é a palavra japonesa que significa energia vital universal. Atualmente, essa palavra está sendo utilizada para identificar o Sistema Usui de Cura Natural, uma antiga arte de curar pela imposição das mãos, redescoberta no Japão no século XIX pelo Dr. Mikao Usui (monge cristão de origem japonesa). A tradição REIKI, porém, já era mencionada em sânscrito pelos antigos Sutras da Índia há mais de 2.500 anos.

«REI» significa universal e refere-se à parte espiritual, à essência energética cósmica, que permeia todas as coisas e circunda todos os lugares.
«KI» significa uma parcela do REI que flui através de tudo aquilo que vive, é a nossa própria energia vital.

Essa energia vital recebeu nomes diferentes em cada cultura: chamada pelos cristãos Luz, pelos hindus Prana, pelos Kahunas Maná, pelos chineses Chi e pelos russos energia Bioplasmática; os índios iroqueses americanos denominam-na Orenda; em hebraico é chamada Ruach, Barraka nos países islâmicos e, finalmente, no Japão, Ki.

O REIKI é um processo de encontro dessas duas energias: universal com a nossa porção física, e ocorre após a pessoa ser submetida a um processo de sintonização ou iniciação do método feito por m mestre habilitado.

REIKI é um sistema completo para a autotransformação e evolução.

Ao assumirmos o REIKI como disciplina diária, qualificamos nosso campo energético, desbloqueando nossos traumas, expandindo assim a energia amorosa do nosso ser.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

O Gaúcho


Quantos seres habitam as estepes americanas, sejam homem, animal ou planta,inspiram nelas uma alma pampa. Tem grandes virtudes essa alma. A coragem, a sobriedade, a rapidez, são indígenas da savana.

[...]

Como a árvore, são a ema, o touro, o corcel, todos os filhos bravios da savana. Nenhum ente, porém, inspira mais energicamente a alma pampa do que o homem, o «gaúcho». De cada ser que povoa o deserto, toma ele o melhor; tem a velocidade da ema ou da corça, os brios do corcel e a veemência do touro.

O coração, fê-lo a natureza franco e descortinado como a vasta coxilha; a paixão que o agita lembra os ímpetos do furacão, o mesmo bramido, a mesma pujança. A esse turbilhão do sentimento era indispensável uma amplitude de coração, imensa como a savana.

Tal é o pampa.

Esta palavra originária da língua quíchua significa simplesmente o plaino; mas sob a fria expressão do vocábulo está viva e palpitante a idéia. Pronunciai o nome, como o povo que o inventou. Não vedes no som cheio da voz, que reboa e se vai propagando expirar no vago, a imagem fiel da savana a dilatar-se por horizontes infindos? Não ouvis nessa majestosa onomatopéia repercutir a surdina profunda e merencória da vasta solidão?

Nas margens do Uruguai, onde a civilização já babujou a virgindade primitiva dessas regiões, perdeu o pampa seu belo nome americano. O gaúcho, habitante da savana, dá-lhe o nome de campanha.


José de Alencar

Melhor com Mercedes...

Gracias a la vida

Hoje o dia amanheceu ensolarado, com uma suave brisa que acaricia as folhas das árvores do meu jardim.

E meu filho acordou com o maior sorriso do mundo!

Então, só posso dizer...


Tarancon - Gracias a la Vida


Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me dio dos luceros que, cuando los abro,
Perfecto distingo lo negro del blanco,
Y en el alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado el oído que, en todo su ancho,
Graba noche y día grillos y canarios;
Martillos, turbinas, ladridos, chubascos,
Y la voz tan tierna de mi bien amado.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado el sonido y el abecedario,
con él las palabras que pienso y declaro:
Madre, amigo, hermano, y luz alumbrando
La ruta del alma del que estoy amando.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la marcha de mis pies cansados;
Con ellos anduve ciudades y charcos,
Playas y desiertos, montañas y llanos,
Y la casa tuya, tu calle y tu patio.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me dio el corazón que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano;
Cuando miro el bueno tan lejos del malo,
Cuando miro el fondo de tus ojos claros.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto.
Así yo distingo dicha de quebranto,
Los dos materiales que forman mi canto,
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos, que es mi propio canto.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

30 ou mais...


Sou balzaquiana, sim, «pero no mucho»!

Tenho 33 anos, sim, mas não me encaixo completamente no perfil da balzaquiana original, aquela descrita e desenhada por Balzac em «A Mulher de 30 Anos».

Infelizes no casamento - porque, na época em que o livro foi publicado, a única opção de vida da mulher era o casamento - aquelas balzaquianas eram violentamente despidas de suas ilusões na manhã seguinte à noite de núpcias. O príncipe encantado com que sonharam toda a sua vida transforma-se em «esqueleto odioso», nas palavras do pai de Júlia, a protagonista do livro.

Sou, então, uma balzaquiana moderna. Inconformada porque ainda me sinto com 15 anos, assustada porque já realizei os sonhos que tinha com aquela idade. Marido, filho, casa, cães.

E esta idéia de missão cumprida coloca-me em uma daquelas esquinas da vida. O que fazer agora? Que planos hei de seguir? Carreira, obviamente. Está na hora de pensar na carreira.

Mas não será tarde demais para isso? As outras balzaquianas modernas e não casadas já começaram há tempos, muito antes de adquirirem este status.

Confesso que é difícil decidir entre carreira e casa. Gosto de me dedicar integralmente às coisas e as duas não consigo conciliar.

E onde fica o «deixa a vida me levar»? Vamos indo e vamos vendo... por enquanto, continuo dividida, um pouco trabalho, um pouco cuido do marido e do filho.

E não é exatamente isso o que as balzaquianas modernas fazem?

Amicíssima, com saudades mando notícias de África

O tempo nunca é capaz de fazer esquecer o que não queremos. Assim foi conosco. Não te esqueci, amicíssima...
Aqui, neste país paradoxalmente lindo e triste, as coisas vão mal. De um lado da fronteira, manifestações de ditadura arcaica, opositores presos, torturas, povo sofrendo. Do outro lado, a terrível xenofobia, pessoas assassinadas, machucadas física e emocionalmente. E Moçambique está assim, apertado entre ódios e tentando manter-se ileso e pacífico... difícil quando o desemprego e a fome são agravados por milhares de refugiados do ódio vizinho...
E aí lembro daquela música «What a wonderful world» e penso que já não pode mais ser cantada com tanto entusiasmo. É... ultimamente ando preocupada com o mundo. Talvez coisa de mãe, que queira um futuro seguro para o rebento. É tanta desgraça espalhada por esta Terra que dá até arrepio! Onde não tem guerra, tem desastre natural. O que está acontecendo???
Outro dia conheci um paquistanês cristão (raridade!!! - são na maioria muçulmanos). Sabe o que ele disse??? «Os muçulmanos são os anti-cristos!». Quase bati nele! Intolerância assim, na minha cara? Nem respondi... virei as costas e jurei nunca mais ouvir estas besteiras.
No meio de tudo isto, meu clã está cada vez mais feliz. É verdade... se pensarmos na nossa vidinha e esquecermos o resto do mundo, tudo fica mais cor-de-rosa. E, falando nisso, quando é que a gente tem tempo para «cair a ficha» de que se é mãe? Olho para o pequeno e ainda não acredito... Estou chegando à conclusão de que aquela história de padecer no paraíso é mentira. Ainda não padeci, só estou no paraíso (desde que não saia de casa, não ligue a televisão, não procure notícias na Internet...).
Quem sabe esta seja a solução? Viver trancada dentro do clã. Babar o filho e mimar o marido... esquecer dos horrores lá de fora!
Mas este assunto já está repetitivo. Não esqueci dos nossos projetos, viu? Agora lembrei de outra música: «... temos todo tempo do mundo...». Será que temos?
Espero notícias, novidades, realizações e etecéteras.
E, como diria um metido a poeta, amplexos e ósculos!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Interseccionismo, Orpheu, Pessoa


Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito

E a cor das flores é transparente de as velas

de grandes navios

Que largam do cais arrastando nas águas por sombra

Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...


O porto que sonho é sombrio e pálido

E esta paisagem é cheia de sol deste lado...

Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio

E os navios que saem do porto são stas árvores ao sol...


Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...

O vulto do cais é a estrada nítida e calma

Que se levanta e se ergue como um muro,

E os navios passam por dentro dos troncos das árvores

Com uma horizontalidade vertical,

E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...


[...]


(Chuva Oblíqua, Fernando Pessoa)

terça-feira, 3 de junho de 2008

quinta-feira, 22 de maio de 2008

O Guardador de Rebanhos


Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
(Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

O filho que eu quero ter

Os dois homens da minha vida


O Filho Que Eu Quero Ter

É comum a gente sonhar, eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer



Vejo um berço e nele eu me debruçar
Com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar
O filho que eu quero ter



Dorme, meu pequenininho
Dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem



De repente o vejo se transformar
Num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar
Quando eu chegar lá de onde vim

Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim



Dorme, menino levado
Dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem



Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar
No derradeiro beijo seu



E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar
Num acalanto de adeus



Dorme, meu pai, sem cuidado
Dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter



(Vinícius de Morais)



Ultimamente, costumo acordar à noite esperando que meu filho peça a mamadeira. Enquanto isso não acontece, fico escutando sua respiração, que de plácida vai se tornando mais agitada à medida que acorda. De repente, abre os olhos bem devagar e, ao ouvir minha voz, esboça um sorriso. É o meu primeiro momento mágico da noite.
Seus olhos brilhantes fitam-me e, apesar de ser tão pequenino, sinto que nada no mundo é maior do que ele. Fala-me com os olhos, e eu digo-lhe baixinho que o amo.
No quarto ao lado, meu marido dorme. Entro devagar com o pequenino ao colo, tentando não fazer barulho, mas, quando sento na cama ele meio que acorda, ensaia um bocejo e vira para o lado.
Depois do ritual da mamadeira noturna, meu bebê volta a dormir e eu me aconchego na cama. E aí tenho meu segundo momento mágico da noite. Meu marido, meio dormindo, joga o braço por cima de mim e eu me aninho em seu corpo.
Dormimos os dois, assim, abraçados, sonhando com o filho que quisemos um dia ter e que agora é toda a nossa realidade.
Antes de voltar ao sono, agradeço a Deus pelos olhos do meu filho e pelo braço do meu marido.
Hoje sei, apesar de não conseguir descrever, o que é felicidade.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007


Enquanto eu dormia,

o pai do Pedro pensou:

«É tudo muito injusto!

Ele sempre com ela,

ela sempre com ele.

Injusto comigo, que não privo dele,

Injusto com ela, que o carrega sozinha.»

Resolveu:

«Vou levar um pouquinho comigo...»

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O curandeiro branco - José Cardoso

Este é o conto que dá nome ao primeiro livro de José Cardoso, antigo morador da Beira e grande cineasta. Interessantíssima história, porque narra um fato que ainda hoje em dia seria inusitado: a existência de um curandeiro branco.
Os curandeiros são tipicamente moçambicanos, existem aos milhares, alguns mais famosos fazem publicidade de seus poderes curativos em jornais e outros mais modestos aguardam em suas casas a chegada dos pacientes. Os nativos têm mais confiança nos curandeiros do que nos médicos, tanto que aqueles são também chamados de médicos tradicionais. Mas são todos de origem africana.



O curandeiro branco


A cidade da Beira tem uma característica peculiar: assente num chão de dunas de areia e matope que fica abaixo do nível do mar nas marés vivas, tem a elevação de terreno mais significativa para os lados da Manga, bairro que regista uma cota de cerca de seis metros de altitude e que se afasta do centro da cidade pelo mesmo número traduzido em quilómetros.

Na época não muito distante, em que Moçambique era considerada uma província ultramarina da metrópole colonial, dizia-se, gracejando com a fantasia globalizante dos governantes do Império e com a sua divisão regional, que Portugal, entre as províncias que o compunham, tinha quatro Beiras: a Alta, a Baixa, a Litoral e a Chata, esta em referência à cidade da Beira.
A particularidade da cidade assentar numa superfície rasa, ou chata, permite-lhe, possivelmente, concentrar e expandir as vibrações magnéticas dos sons característicos de uma cidade portuária, onde navios e locomotivas participam dos gritos e da azáfama de capatazes e estivadores.

No silêncio consentido das madrugadas cacimbeiras, as vibrações sonoras que, áspera e prematuramente, nos despertam para um quotidiano ainda distante eram mais agressivas e incómodas, e, quando isso acontecia, modorrava eu sobre o leito morno, memorizando os contornos da vida de todos os dias.
E foi numa dessas manhãs que o estridular do silvo de uma locomotiva me despertou para a possibilidade de o seu timoneiro ser o António Santos, maquinista dos Caminhos de Ferro, e de estar ele, portanto, rumando para Machipanda no transporte de gentes e mercadorias para as diversas estações e apeadeiros do trajecto e para a vizinha Rodésia.
Conhecera-o através de um camarada e amigo comum, o João Correia, e embora nos relacionássemos muito pouco, devido quer à distancia que separava os nossos bairros (o dele era a Manga e o meu Matacuane), quer às características da sua profissão, sempre pautámos a nossa relação por um mútuo respeito e uma franca amizade.
Nunca lhe perguntei, porque isso não seria correcto nem recomendável entre camaradas, se nas suas frequentes viagens entre a Beira e Machipanda, além dos passageiros e das mercadorias, não distribuía também o «Avante» ou outros materiais de âmbito ideológico, que ao tempo circulavam por canais seguros e ocultos às insinuantes e perigosas infiltrações das «bufarias» regionais.
Era por todos assumido como receita salutar, que quanto menos soubéssemos menos tínhamos para contar se um dia, perante um qualquer torniquete medieval, ou uma contemporânea injecção do «soro da verdade», fôssemos forçados a fazê-lo.

Mas uma coisa eu sabia quanto às suas actividades extraprofissionais: aproveitando as suas viagens, contactava regularmente com um velho nativo para os lados de Machipanda ou Macequece, de quem se tornou amigo e do qual bebia a sabedoria dos anos na prática da cura dos males do corpo e da alma. Sempre insatisfeito e naturalmente curioso, abria-se para o conhecimento e procurava do velho as propriedades curativas de cada planta, as suas origens e formas de identificação, familiarizando-se com um mundo vegetal que o apaixonava e seduzia.
No agnosticismo da sua forma de encarar a vida, acreditava mais nas propriedades curativas das plantas para os males do corpo e menos nos seus místicos poderes para atenuar as perturbações da alma. Fosse como fosse, o certo é que, entregue à filantropia das suas abnegadas acções, iniciou um percurso de sucessos e de angústias oferecendo remédios a quem sofria e esperança a quem, desiludido, se entregava a pensamentos fatalistas.
Passaram-se alguns anos até que, numa visita que fiz ao António Santos, tive conhecimento da morte do velho de Macequece e do legado de conhecimentos e de práticas que aquele lhe tinha deixado, coo testemunho de uma amizade, muito rara na época, entre um preto e um branco, entre o colonizado e o colono.
E surpreendeu-me, na altura, o invulgar número de pessoas espalhadas pela sala e pela varanda da sua residência. Tinha vindo certamente numa altura imprópria, imiscuindo-me numa qualquer festa para a qual não tinha sido convidado, mas a curiosidade levou-me até à dona da casa e, através dela, vim a saber das razões de tão grande movimento.
- São clientes do António; pessoas desiludidas com a ciência dos médicos e os remédios das farmácias, porque nem uns nem outros lhes proporcionam cura e alívio para os males de que padecem.

Trabalhava eu então como técnico na Farmácia Graça, bem no centro da cidade, e já aí me haviam chegado aos ouvidos tanto os rumores sobre as actividades medicinais do António coo uma certa apreensão e relutância da classe médica em aceitar como verdadeiras as curas e os sucessos cochichados nos bastidores das salas de espera dos respectivos consultórios; mas estava longe de supor que a sua fama tivesse atingido tamanha dimensão, ao ponto de vir encontrar em sua casa um número de doentes superior ao de qualquer consultório médico da praça.
O mais surpreendente para mim, porém, foi quando mais tarde vim a saber, pela leitura de cartas de reconhecimento de doentes que o António tratara e que se consideravam curdos, que até já vinham da Europa e das Américas ao seu «consultório», depois de desiludidos com a medicina encartada nos seus países.
O António não cobrava um tostão a quem quer que fosse, e abespinhava-se quando alguém pretendia ser mais teimoso do que ele e lhe exibia – apenas para pagamento de despesas, como se esforçavam por convencê-lo – algumas notas de moeda forte, como o dólar estadunidense e a libra inglesa.
Em suma, o António Santos era um homem generoso e sensível; sofria com o sofrimento dos seus pacientes e com eles festejava os sucessos anunciados, inquietando-se perante situações mais renitentes, tanto mais que grande parte dos que o procuravam padecia dos males que a ciência médica considerava incuráveis, como o câncer. O sucesso de uma cura era a moeda que achava justa para pagamento do seu trabalho e da sua dedicação.
Recordo-me de uma carta remetida por uma paciente americana, creio que residente numa qualquer cidade da Califórnia, na qual, a pedido do seu médico, que a considerava espantosamente curada, solicitava ao António informações sobre o tratamento administrado e sobre as características das plantas e raízes medicinais por ele utilizadas.

Não sei se o meu amigo teria ou não curado alguém, porque isto de tratamentos e curas é coisa complexa (basta que se saiba o muito que isso tem a ver com a psique de cada um) e, consequentemente, matéria para muitos tratados, mas repudio a ideia de que ele fosse um charlatão, coisa de que muitos tentaram rotulá-lo, porque sei que ele acreditava profundamente no que fazia, e fazia-o convicto de que contribuía para que o seu semelhante não perdesse a esperança de uma cura possível, ajudando-o a ultrapassar os momentos mais difíceis da sua vida. E isso constituía uma boa fatia da sua própria felicidade.

Em 1976 a minha paixão pela imagem levou-me a abraçar outra profissão, ingressando nos quadros técnicos do Instituto Nacional de Cinema. Rumei a Maputo, deixando de ter contactos com a Beira e com os poucos amigos que, por não terem alinhado no êxodo dos «retornados» do pós-independência, ali restaram.
E foi já em Maputo que, alguns anos mais tarde, tive conhecimento da morte do António Santos.
Ele tratou e curou presumivelmente tanta gente sofrendo de câncer que não lhe sobrou tempo nem ciência, para se curar a si próprio do mesmo mal, pois, segundo me disseram, foi que o matou!...

Animais Solidários - Blog do Sant'Ana


Reproduzo aqui, sem autorização, mas espero que com compreensão, um posto do Blog do Paulo Sant'Ana, comentarista da RBS, grande pensador e fantástico gremista!


Foto: Arivaldo Chaves

De uma vez por todas, é preciso que a população de Porto Alegre saiba qual é o órgão destinado ao salvamento dos animais. Segunda-feira passada, uma leitora me telefonou desesperada porque um pássaro estava preso numa fenda de um caule de árvore já fazia 48 horas e o Corpo de Bombeiros se recusava a ir libertar o animalzinho. Isso aconteceu numa árvore da Rua Tomás Flores.

Do Corpo de Bombeiros, informaram que era caso para o órgão de proteção ambiental. No órgão de proteção ambiental, informaram que era caso para o Corpo de Bombeiros, que, no entanto, encurralado, disse que só poderia tomar providências no dia seguinte, não atendiam esses casos à noite. Este é um país em que quem tem câncer no intestino entra em fila de cirurgia que demora três anos e em que Corpo de Bombeiros não trabalha à noite.

É melhor ir embora daqui.

Ontem Zero Hora mostrou a sorte de outro pássaro preso num poste da esquina das avenidas Panamericana e Quito, no Jardim Lindóia.

Um filhote de chupim, pássaro que costuma morar nos ninhos dos outros, ficou com a perna presa num fio de náilon, no alto de um poste elétrico, entre duas casas de joões-de-barro.

Foi um deus-nos-acuda para chamar um órgão que salvasse o passarinho, que estava de cabeça para baixo. Chama a CEEE e lá dizem que é com os Bombeiros. Chama os Bombeiros, não atende porque é em cima de um poste e, se é em cima de um poste, tem de ser a CEEE.

Até que o clamor dos populares, ansiosos pela salvação do pobre passarinho, fez chegar ao local uma equipe da CEEE.

Mas veio o pelotão de choque da CEEE, aquele que está melhor preparado para enfrentar brigas com moradores que furtam energia elétrica do que fazer consertos na rede.

E o que decidiu o Bope da CEEE? Escolheu entre duas alternativas, dinamitar o poste ou destruir a casa do joão-de-barro, a segunda. E pôs-se o Bope da CEEE, em vez de subir lá no ninho e libertar o pássaro, a destruir a casa do joão-de-barro, com uma barra longa acionada lá de baixo.

Rasparam, rasparam na casinha de barro até que a demoliram. E junto com a casinha despencou lá de cima o passarinho que estava com a perna presa. Espatifou-se no chão o chupim e morreu.

Que salvamento desastrado esse do pelotão de choque da CEEE. Por preguiça, não puseram uma escada e não foram lá em cima libertar o animalzinho.

Que idéia estúpida a de escarafunchar na casa do joão-de-barro até derrubá-la, e com ela o pássaro que estava preso e morreu estatelado no chão. Que tropelia, que operação desastrada! Que trágica trapalhada.

Terminou o casal de joões-de-barro ficando sem casa, vão ter de chamar o Demhab.

E terminou principalmente o pobrezinho do chupim morto.

Restou uma lição de solidariedade animal jamais vista em nossa cidade. Tanto no episódio da Rua Tomás Flores quanto no do Jardim Lindóia, os dois pássaros presos pelas pernas e pendurados de cabeça para baixo foram socorridos, no primeiro caso por dois dias, no segundo por várias horas, por pássaros de outras espécies, que lhes alcançavam alimentos em seus bicos.

Outras aves socorristas alimentando, bico a bico, as duas avezinhas em apuros. Que solenidade de ternura. Que humanidade entre os animais!

E ainda vêm me dizer incautos cientistas que os animais não têm inteligência.

Para ler mais do Paulo Sant'Ana: http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&pg=1&template=3948.dwt&tp=&section=Blogs&blog=220&tipo=1&coldir=1&topo=3951.dwt

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

... e entom começarom a escrever livros...


[...] e depois que o home assi foi criado razoavil e sabedor e deshi vierom os homees de geeraçom em geeraçom e começarom a provar as cousas e os conhecimentos d'ellas e virom que aqueles que alguas cousas sabem, tanto que morriam elles, os outros que depois delles vinham perdiam os saberes, por se perceberem de se os saberes nom perderem, catarom as figuras das letras e nomearom-nas e fezerom em como se per ellas nom perdessem os saberes: e entom começarom a escrever livros [...]


D. João I - Livro da Montaria (séc. XV)

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Do que um cão precisa

“... Um cão não precisa de carros modernos, palacetes ou roupas de grife. Símbolos de status não significam nada para ele. Um pedaço de madeira encontrado na praia serve. Um cão não julga os outros por sua cor, credo ou classe, mas por quem são por dentro. Um cão não se importa se você é rico ou pobre, educado ou analfabeto, inteligente ou burro. Se você lhe der seu coração, ele lhe dará o dele. É realmente muito simples, mas, mesmo assim, nós humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa ou não.”


John Grogan

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A forma justa



Existirá ainda beleza no mundo?


Será que diante de tanto sofrimento ainda podemos ter esperança?


Descobri que sim...


Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos - se ninguém atraiçoasse - proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
- Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Amor não se esquece!

Este vídeo mostra o reencontro de dois leões com seus pais adotivos.

Encontrados abandonados, foram criados por humanos e soltos na natureza para se readaptarem à vida selvagem. Um ano depois, os pais adotivos voltaram ao local onde deixaram os leões e foram prontamente reconhecidos.

É mesmo assim... amor, carinho, dedicação nunca são esquecidos, nem por animais selvagens!

E tem gente que ainda acha que o perigo são os cães ferozes e não os donos...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Alberto e Cláudia - um sonho de amor

Ontem recebi uma notícia de morte. Veio numa linha só, uma frase curta: «Gente, Alberto morreu ontem, 8 horas da noite». Naquele instante, reagi - «Meu Deus!». Meu marido gritou, perguntou «o que houve?» e eu, já engasgada pelo choro, respondi: «Morreu um amigo meu».

Morreu um amigo meu! Chamei Alberto da Cunha Melo de amigo, apesar de nunca o ter visto nem falado com ele. Dele, só conhecia os versos fantásticos e as palavras amorosas de Cláudia.

Cláudia… minha amiga também. Amiga que nunca vi. Fiquei pensando nela o dia inteiro, dormi pensando nela. Uma vez, falamo-nos ao telefone. O assunto era outro, mas Alberto esteve presente na conversa. Foi aí que senti o quanto aquele amor era grande! Quando Cláudia falava de Alberto, seu tom de voz mudava, ficava doce, melodioso. Era um misto de amor, dedicação, admiração, devoção! Senti uma inveja boa daquele amor. Não imaginava que existisse sentimento assim fora dos livros e dos poemas.

Hoje vejo uma declaração de Cláudia dizendo que foi pelo poeta, por seus versos que se apaixonou primeiro. E lembrei dos meus sonhos de menina, quando lia poemas de amor e me imaginava a destinatária daqueles versos. Um amor que não se vê. É assim que sinto o amor de Cláudia e Alberto.

Eleita por ele a décima musa, Cláudia foi tema de inúmeros poemas e destinatária de uns tantos livros. Que homem de carne e osso ama assim? Só conheço Alberto.
Consigo imaginar, nunca mensurar a perda de Cláudia.

Mas estava dizendo que dormi pensando neles, em Alberto e Cláudia. E sonhei um sonho que só agora começa a fazer sentido.

Estava em uma plantação de mortos. Parecia uma horta, onde eu via os vários montes de terra, colocados todos um ao lado do outro e em fila. O cenário era sombrio, era dia mas a claridade era pouquíssima, como se estivesse nublado. O tempo úmido e pesado, sem vento, nem uma brisa. Um menino estava ocupadíssimo arrumando os montes de terra, limpando os caminhos que davam passagem entre eles. Nisto, outro menino chega. É incumbido pelo primeiro de me levar dali, para que eu aprenda – ainda agora não sei o que deveria aprender, mas sabia que precisava ir. O segundo menino pegou-me pela mão e saímos da plantação-cemitério. Fomos dar a uma rua de barro, com poças d’água, suja, com as margens também sombrias onde crescia um mato desordenado, algumas casas de madeira sem cor, tudo cinzento. Caminhamos até o final desta rua e dobramos a esquina. Saímos em uma rua paralela àquela em que estava.

Esta rua já era diferente. Ali via-se a claridade do sol, uma brisa gostosa batia no rosto. A rua era calçada com paralelepípedos perfeitos, colocados todos um ao lado do outro. Suas margens eram floridas, com belas casas. No final da rua, uma subida.

Foi então que meu guia, ainda segurando-me pela mão, disse que tínhamos que correr. Na hora fiquei assustada… como conseguiria correr? Já não tenho fôlego para isso! E o esforço? Não prejudicaria a minha gravidez? Mas não falei nada, como já disse, sabia que deveria seguir o menino.

Após alguns metros de corrida, uma subida incrivelmente íngreme. No início, ainda consegui me manter em pé, até que já não pude. A gravidade puxava-me para baixo. Terminei a subida arrastando-me, como se estivesse escalando a rua, levando um braço após o outro.

De repente, no topo da rua/morro, um templo. Não sei o que havia lá, tenho a impressão de ser um Buda ou coisa parecida. Só sei que era divino. Uma imagem iluminada (em todos os sentidos), que refletia a luz do sol por todos os lados. Era lindo, e eu senti uma sensação de completude, de paz infinita.

Acordei assim e não consegui esquecer este sonho.

Agora, penso que pode ter algum significado. Um significado que Cláudia, sábia como é, talvez entenda. Saí de um campo de mortos, sombrio, feio, guiada por um menino, para um local iluminado! Talvez o mesmo tenha acontecido com Alberto… ou talvez seja só uma associação que eu esteja fazendo neste momento, talvez queira dizer alguma coisa muito diferente, mas………

Com certeza Cláudia entenderá! Até porque um amor daquele tamanho não cabe nos limites da existência física!!!

sábado, 6 de outubro de 2007

Houssein



Este é o Houssein, um pitt bull que vive num corredor cheio de sucatas de construção ao lado do prédio da minha mãe, em Blumenau.



Da janela da cozinha, chamava-o e ele abanava o rabo, feliz de me ver e ouvir uma voz carinhosa. Eu, sei que erradamente, atirava-lhe alguma comida, um pedaço de pão, um resto de bife. E a cada dia meu coração ficava mais apertado por ele.



Reparava que nem sempre o balde de água estava cheio, que seu lugar não era limpo e que passava o dia inteiro trancado ali, naquele corredorzinho, muitas vezes preso pela corrente, com o espaço mais limitado ainda.



Não conseguia sentir medo daquele cão. Seus olhos demonstravam carinho e carência. Ele precisava de carinho, de amor. E eu não podia fazer mais nada do que lhe enviar algumas palavras mansas e um pouco de comida.

Um dia, ouvi a voz do seu dono conversando com ele. Corri à janela e perguntei se podia descer para vê-lo de perto. O dono concordou na hora, simpaticamente dizendo que o Houssein era inofensivo e que adorava brincar.

Foi aí que descobri que aquele já era seu terceiro dono, e ele só tinha oito meses. O rapaz era bem intencionado, brincava e fazia festas ao cão e disse que pretendia enviá-lo a um local de treinamento numa cidade perto. Na hora fiquei apreensiva. Que tipo de treinamento, perguntei. É claro que ele respondeu que era treinamento de obediência e não de violência. Do fundo do meu coração espero bem que sim. Fiz algumas festas ao Houssein que, quando me viu, abanou o rabo e saltou para brincar. Acariciei sua cabeça e lhe dei um beijo na testa. Sem medo, sem receio, sem desconfiança.

Conversei um pouco mais com o rapaz, não deixei, é claro, de meter-me na história, tirando não sei de onde que um cão com pouca água e pouca comida torna-se muito agressivo. E no fundo, todos sabemos que isso é verdade...

De tudo isso, ficou uma idéia perturbadora dentro de mim. Acredito que não há cães assassinos, há donos irresponsáveis e mal intencionados. No caso do Houssein, o seu dono até é muito bem intencionado, mas não tem o preparo nem os meios para criar um cão desta raça. E penso, então, que é exatamente isso que acontece: donos despreparados, que não conhecem as particularidades da raça, que resolvem criar um cão por estar na moda. Estes donos acabam criando monstros que, na maioria das vezes, voltam-se contra eles próprios.

Ouvi alguns comentários sobre a extinção da raça dos pitt bulls. Talvez seja melhor para os cães, porque os humanos que os criam não estão preparados para valorizá-los e cuidá-los.

Continuo defendendo e repetindo-me: a culpa não é dos cães, é dos donos. Estes, sim, deveriam ser presos e surrados, enquanto os cães deveriam ser encaminhados para reabilitação. Solução que existe e que funciona mesmo.

Afinal, com compreensão, carinho, dedicação e, principalmente, amor, o que não se consegue??? Um cão é um cão, seu instinto é ser dócil, é ser amigo, é ser companheiro. Se ele ataca, é porque foi ensinado a atacar, um cão nunca é mau.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

4 de Outubro - dia de São Francisco!!!


Oração de São Francisco de Assis




Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.



Onde houver ódio, que eu leve o amor;



Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;



Onde houver discórdia, que eu leve a união;



Onde houver dúvida, que eu leve a fé;



Onde houver erro, que eu leve a verdade;



Onde houver desespero, que eu leve a esperança;



Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;



Onde houver trevas, que eu leve a luz.



Ó Mestre, Fazei que eu procure mais Consolar, que ser consolado;



compreender, que ser compreendido;



amar, que ser amado.



Pois é dando que se recebe,



é perdoando que se é perdoado,



e é morrendo que se vive para a vida eterna.

Hermano sol, hermana luna

Quem não se emociona???

Irmão Sol, Irmã Lua, uma grande lição de São Francisco!!!

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

À Bê


Foste a luz e a escuridão
O mistério desvelado,
A verdade calada.

Não viste o amor, até senti-lo.
Não sentiste o ódio, até prová-lo.
Não provaste o medo, mas ele veio.

Gosto amargo de remorso,
Asco de amargura,
Desencanto da procura.

Sonhavas o céu,
Desejavas o infinito,
Querias asas…

Mas saltos altos não são asas,
Talvez bengalas, muletas,
Efémeras alegrias fingidas.

Deste teu último voo,
Estás livre dos saltos,
Desamarrada dos sonhos.

Voa mais alto agora,
Minha estrela de papel,
Já brilhas sem fingir.

Vai, amiga-irmã,
Assumo tua dor, que já foi minha,
E do teu jeito abrandaste.

sábado, 4 de agosto de 2007



Se essa rua, se essa rua fosse minha,
Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes
Para o meu, para o meu amor passar...


Nesta rua, nesta rua tem um bosque
Que se chama, que se chama solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração!


Se eu roubei, se eu roubei teu coração
Tu roubaste, tu roubaste o meu também!
Se eu roubei, se eu roubei teu coração
É porque, é porque te quero bem!


Não lembro ao certo a minha idade, mas lembro exatamente do dia em que aprendi estas cantigas. Minha mãe chegou do trabalho e me chamou no seu quarto: «Vem, que tenho umas musiquinhas pra te ensinar».


Eu fui, feliz da vida! Sentada na cama dela, ouvia-a cantar um verso e repetia, enquanto ela trocava de roupa. Nunca mais esqueci nem das cantigas nem daquele momento mágico.


E agora será minha vez de ensinar cantigas. Tomara que eu tenha a mesma meiguice da minha mãe.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Filho Azul


Viver vida sem ter esperança
Viver morte sem morrer
Ver nuns olhos de criança
A vontade de crescer

Mas quem espera sempre alcança
E eu não posso entardecer
Sem ter visto uma criança
Não só de parto nascer

Há-de ser um filho azul
Das altas marés do mar
Filho tempo, vento sul
Temporal do verbo amar.


(Ary dos Santos / Guilherme Inês)

terça-feira, 26 de junho de 2007

E agora???

Preciso de ajuda,
Preciso de conselho…

Como é que eu faço
E o que é que eu faço?

Tanta coisa pra parar,
Tantas outras pra começar…

Cafeína, pastel, batata frita,
Corrida, noitada, nicotina…

Pára tudo!!!

Agora é…

Caminhada, sesta, fruta,
Vitamina, óleo de amêndoa, salada…

É muita responsa…

Será que dou conta???

domingo, 17 de junho de 2007

Sem título, com dor no coração

O domingo amanheceu estranho. Chuva através do sol e uma aura de presságio, de mau presságio.
Como sempre, estava tomando minha xícara de café na sala, fazendo planos para o dia. Os cães estavam deitados junto aos meus pés e aquela má impressão com que eu havia acordado parecia se dissipar à medida que recebia o carinho deles e o café esquentava meu corpo. Não estava frio, mas um vento gelado corria no jardim, sacudindo as árvores e fazendo bater as portas da casa. Foi quando ouvi os gritos.

Era o grito desesperado de um cão. Parecia machucado. Meus cães correram em direção ao portão, latindo e rosnando, desesperados. A princípio, fechei os olhos e pedi para que os gritos parassem, afinal, que podia eu fazer? Recolher o cão, chamar o veterinário, talvez. Mas isso aqui é complicado, os cães, mesmo os que parecem de rua, têm donos e estes donos são às vezes mais animais do que os próprios cães.

Mas os uivos e gritos não pararam e eu corri em direção à rua. Quando cheguei ao portão, os gritos haviam parado e eu fiquei procurando a origem do barulho. Havia muitas pessoas na rua, um grupo de crianças gritava alguma coisa que eu não entendia. Um caminhãozinho do Conselho Municipal (equivalente à prefeitura) estava parado na esquina e alguns homens executavam algum serviço que eu não podia distinguir.

Foi quando um dos homens veio para a frente da minha casa. Havia um casal de cães na rua, uma cadela já minha conhecida, da casa da frente e outro cão, um cãozinho preto, pequeno, peludo. Seu pêlo e estatura lembravam um Yorkshire. Lembro que pensei, naquele momento, nas madames que pintam seus cães e que, talvez, esse pudesse ser um dos cães de madame com henna no pêlo. Mas não, aqui isso não acontece. Era mesmo um cão de rua, um rafeiro, como dizem aqui.

De imediato, o homem do Conselho Municipal, alto, forte e decidido, agarrou o cãozinho indefeso por uma perna e levantou-o no ar. Eu imediatamente comecei a gritar para que parasse, pois estava machucando o cão. Outro homem limitou-se a responder-me que eu não me preocupasse, pois o cão assim não morderia. Como se eu estivesse preocupada com o homem… que ironia! Este gesto quebrou a perna do cão, que gritava mais desesperadamente ainda. Talvez seus gritos tenham sido abafados pelos meus que, histérica, com as mãos nas grades do portão, implorava para que parassem com aquela cena bizarra. Já imaginava como iria telefonar ao veterinário, como faria para cuidar daquele cão com a perna partida por um animal. Mas os homens ficaram surdos aos meus gritos e aos gritos do cão. Com o cão machucado, o monstro conseguiu pegá-lo pelas duas patas e ficou girando-o em volta de si, até que um outro veio com um tronco, com o qual subjugaram o cão (como se um cão daquela estatura e com a perna quebrada pudesse causar algum mal), enquanto o caminhãozinho chegava mais perto. Na carroceria, havia uma gaiola de madeira, cheia de outros cães. Era a carrocinha moçambicana. O cão, machucado, foi atirado para dentro da gaiola, junto com os outros cães que uivavam e choravam.

Foram embora e eu fiquei ali, grudada ao portão, sem conseguir sair do lugar. Chorava compulsivamente e as crianças, assustadas com minha reação, achegaram-se a mim. Eu perguntei por que faziam aquilo e as crianças responderam que não sabiam, mas que agora iam guarda seus cães para que não lhes acontecesse o mesmo.

Chorei muito, revoltei-me, tentando entender o que leva um ser humano (?) a tal atitude. O cãozinho teve a perna quebrada por aquele monstro e ele não demonstrou nenhuma pena, balançava o animalzinho como se fosse um pedaço de madeira, indiferente aos gritos (meus e do cão).

Realmente, há muitos cães na rua aqui na cidade. Realmente alguma coisa precisa ser feita. Mas isso??? Por que tanta maldade? Tentei me consolar pensando que aqueles cães iam morrer, que iam para o céu dos cães, como costumo dizer, iam parar de sofrer maus tratos nesta vida ingrata. Mas depois lembrei… como irão matá-los? A pauladas, certamente.

O pior é que não tenho a quem recorrer, não tenho a quem denunciar. Aqui, os animais são isso, são tratados assim, como nadas. Sei que não há dinheiro para canis públicos, para uma campanha de castração, mas nada justifica a violência.

Meu coração está despedaçado. Senti mais uma vez o tamanho da minha impotência frente a estes animais que se dizem humanos. Deveria ter saído do portão, deveria ter arrancado o cão à mão daquele monstro, mas, será que não teria tido o mesmo tratamento que o cão? Confesso, senti medo. E pior do que a impotência, é o medo, principalmente quando os ditos humanos transformam-se em monstros insensíveis e desalmados.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

E-mails, judeus, palestinos & chimpanzés

Todos os dias recebo quase uma centena de e-mails. Alguns são automaticamente repassados e, quando vejo que é assim, nem leio, deleto logo. Outros trazem piadas velhas e batidas (chego a receber a mesma piada até três vezes por dia). Quando vejo o assunto, deleto.

Os que acho interessantes, leio, ou deixo para ler com mais atenção quando tiver mais tempo. Alguns são do meu grupo, os Poetas Independentes. Estes são prioritários, sempre leio primeiro.

Tenho uma grande amiga em Blumenau que sempre me repassa e-mails sobre as mazelas humanas, sobre as lutas do povo, sobre notícias de usurpação de direitos, tomadas revolucionárias… alguns são muito pertinentes e considero uma das melhores fontes de informação que tenho. Pessoa extremamente esclarecida, esta minha amiga tem uma compreensão do mundo que eu gostaria de ter. Ela consegue desvelar as máscaras, importa-se realmente.

Hoje recebi um e-mail com o seguinte título: «Não à ocupação israelense». Era datado de 16 de Maio deste ano e assinado pela Coordenação Internacional de Organizações pela Palestina. Começava assim: «Entre os dias 9 e 10 de Junho, pessoas ao redor do mundo se reunirão, em atos e manifestações, para dizer: Basta! O mundo diz não à ocupação israelense de Jerusalém Oriental, Cisjordânia, Faixa de Gaza e colinas do Golã…».

E eu pensei: o que eu tenho a ver com isso? Sou mesmo alienada, fico sempre dividida entre os judeus e os palestinos. Fico sempre desejosa de uma reconciliação cor-de-rosa entre eles, torcendo para que vivam finalmente em paz e em harmonia. Mas isso é impossível, pelo jeito. A história, que é mãe do tempo, já provou: eles não se acertam.

A experiência que tenho deste conflito é mínima, limita-se à convivência com judeus e com palestinos, aqui no Brasil. Sinceramente, nunca vi nada de diferente em nenhum deles, nunca achei que este ou aquele fosse «esquisito» ou que meus amigos palestinos fossem potenciais homens-bomba.

Vou começar com os palestinos. Convivi com muitos, lá em Uruguaiana, na fronteira do Brasil com a Argentina. Eles são comerciantes e ocupam a chamada «Baixa» da cidade. Frequentava sempre a loja do seu Maruf, pai do Marcelo e do Beto. Lá tomava aquele café maravilhoso e comia aqueles biscoitos que pareciam caídos do céu. Pessoas maravilhosas, todos eles. Amigos mesmo, queridos. Tive colegas na faculdade que eram palestinos. Gente!!! Eram pessoas normais, como devem ser todos os outros. Eram amigos, parceiros, prestativos. Como são as pessoas.

Em Blumenau, um dos meus grandes amigos é judeu. Neto de rabino. Pessoa fantástica, principalmente pelo seu senso de justeza (justeza mesmo). Um dia, falando sobre o holocausto (oh, um judeu falando sobre o holocausto! – devem ter rolado lágrimas, vocês estão pensando…), contou-me que, a idéia inicial do Hitler era justa. (Pasmaram???). Disse-me que os judeus-alemães, donos das fábricas, não queriam participar do esforço de guerra, que diziam que não eram alemães, e sim judeus e por isso não tinham obrigação patriótica nenhuma. O Hitler, justíssimo, então (pasmem mais ainda!), resolveu expulsá-los, afinal, não eram alemães… Só que, no caminho, o bigodinho enlouqueceu e resolveu matá-los todos. Vou lembrar… a história não é minha – é de um JUDEU!

Por isso, continuo em cima do muro: não acho que os judeus devam sair, nem acho que os palestinos devam sair. Queria colocá-los todos sentados no meu sofá e passar um daqueles sermões de professora… parecem crianças!

Pôxa!!! Antes de serem palestinos ou judeus, são humanos, pessoas, gente!!! Todos sofrem, todos sangram, todos choram. A dor não dói mais em um lado do que no outro. A humanidade é que está perdida, humanidade no sentido de sentir que o outro é igual a si, de reconhecer no outro parte de si mesmo.

Mas, bom… outro dia, li que alguns estudiosos filmaram um ataque de chimpanzés a outro chimpanzé, da mesma raça, só que de grupo diferente. Espancaram o chimpanzé invasor até à morte. E isso tudo só provou mais um elo entre humanos e chimpanzés: que a violência gratuita é da nossa natureza.

Que vergonha! Que vergonha pertencer a esta raça humana! Por isso que, quando vejo uma cobra morder alguém, ou um touro a jogar para o alto um toureiro, penso bem alto: bem feito! Porque os animais só atacam para se defender. Com exceção do chimpanzé, é claro, mas este tem um elo muito forte com os humanos…

sexta-feira, 1 de junho de 2007

01 de junho - Dia da Criança em Moçambique


Inocência escondida sob a poeira,
Brilho ensombrado pela vida,
Nasceu já obsidiante, conformado,
Candura alugada por trocados.

Persegue-me pela rua e repete:
«Tia, tou a pedir um mil»,
É para a barriga, para o irmão,
Inata necessidade tornada costume.

Hoje não te dou «um mil»,
Ofereço-te, sim, sonhos,
Carneirinhos de nuvem

Num céu cor-de-rosa,
Histórias de dormir,
Boa noite e um beijo.