Estive um tempo afastada dos assuntos «internéticos», mas neste meu retorno, encontrei um assunto que me pareceu encaixar-se perfeitamente à situação... VIAGENS...
Outro dia, assistindo ao canal da National Geographic - que para facilitar a pronúncia dos falantes do português virou NatGeo - chamou-me a atenção o anúncio de um programa que dizia: viagem sem fazer as malas, sem sair do lugar... é um programa que leva os espectadores para os lugares mais fantásticos do planeta através das imagens...
Também se pode viajar ao ler um livro. A imaginação combinada com as referências que o autor faz a certos lugares - quiçá até imaginários - sempre nos transporta como se não existissem barreiras físicas!
Mas há aqueles vajantes do pensamento, aqueles que conseguem, além de visitar os lugares, entendê-los, respirá-los, somente através do pensamento.
E é dentro desta incrível viagem que encontro um poeta-prosador moçambicano, o Adelino Timóteo. Ele faz a nova «literatura de viagens». Tenho comigo seu último livro, que se chama «A Fronteira do Sublime», onde o autor «viaja» e descreve a cidade de Veneza. Em curtas poesias em prosa, Timóteo revela peculiaridades que só um visitante muito atento e sensível conseguiria captar naquela cidade italiana. O interessante é que ele nunca lá esteve.
Abaixo, transcrevo o poema em prosa de abertura deste livro. Se gostarem, podem pedir mais...
1.
Veneza atracada em meu peito. Uma Veneza em mim, com seu ténue perfil efeminado. Está ali. Esperneia-se. Chove-se-lhe o lago que quer que o toque. Uma Veneza em meu leito. Demora-se a olhar-me. Há uma Veneza em mim, algo que seja, pássaro, mulher numa ascensão em cidade, ao mar, verde, azul, uma rosa em seu parco reluzir de oiro. Uma Veneza que é a matéria vil, emerso botão de alegria, emerso círculo de jóias que não disponho, uma Veneza há em mim, às quatro dumas paredes do quarto, ao vivo, ao Sol dos astros candentes opondo-se-me ao vivo. Veneza. Uma Veneza em mim. Perfume empacotado do Oriente. Eis que experimento as suas formas ovais, as planas sobre as digitais, ao leme, à polpa para a aventura. Sigo-lhe as ondulações, as vagas, as vertigens, a ternura. Grão a grão. Gota a gota. Sigo-lhe à intuição amorosa. Pantera, Panda, seu instinto. Entro-lhe. Só com os olhos. Delicadamente, em procissão solene.
(Adelino Timóteo in A Fronteira do Sublime - ed. Associação dos Escritores Moçambicanos, 2006)
Outro dia, assistindo ao canal da National Geographic - que para facilitar a pronúncia dos falantes do português virou NatGeo - chamou-me a atenção o anúncio de um programa que dizia: viagem sem fazer as malas, sem sair do lugar... é um programa que leva os espectadores para os lugares mais fantásticos do planeta através das imagens...
Também se pode viajar ao ler um livro. A imaginação combinada com as referências que o autor faz a certos lugares - quiçá até imaginários - sempre nos transporta como se não existissem barreiras físicas!
Mas há aqueles vajantes do pensamento, aqueles que conseguem, além de visitar os lugares, entendê-los, respirá-los, somente através do pensamento.
E é dentro desta incrível viagem que encontro um poeta-prosador moçambicano, o Adelino Timóteo. Ele faz a nova «literatura de viagens». Tenho comigo seu último livro, que se chama «A Fronteira do Sublime», onde o autor «viaja» e descreve a cidade de Veneza. Em curtas poesias em prosa, Timóteo revela peculiaridades que só um visitante muito atento e sensível conseguiria captar naquela cidade italiana. O interessante é que ele nunca lá esteve.
Abaixo, transcrevo o poema em prosa de abertura deste livro. Se gostarem, podem pedir mais...
1.
Veneza atracada em meu peito. Uma Veneza em mim, com seu ténue perfil efeminado. Está ali. Esperneia-se. Chove-se-lhe o lago que quer que o toque. Uma Veneza em meu leito. Demora-se a olhar-me. Há uma Veneza em mim, algo que seja, pássaro, mulher numa ascensão em cidade, ao mar, verde, azul, uma rosa em seu parco reluzir de oiro. Uma Veneza que é a matéria vil, emerso botão de alegria, emerso círculo de jóias que não disponho, uma Veneza há em mim, às quatro dumas paredes do quarto, ao vivo, ao Sol dos astros candentes opondo-se-me ao vivo. Veneza. Uma Veneza em mim. Perfume empacotado do Oriente. Eis que experimento as suas formas ovais, as planas sobre as digitais, ao leme, à polpa para a aventura. Sigo-lhe as ondulações, as vagas, as vertigens, a ternura. Grão a grão. Gota a gota. Sigo-lhe à intuição amorosa. Pantera, Panda, seu instinto. Entro-lhe. Só com os olhos. Delicadamente, em procissão solene.
(Adelino Timóteo in A Fronteira do Sublime - ed. Associação dos Escritores Moçambicanos, 2006)
Bis, eu quero bis!
ResponderExcluirAline, Moçambique, os poetas, textos aprazíveis. Grande e maravilhosa surpresa.
A introdução do livro é envolvente e sedutora.
Seu comentário, uma viagem.
Sê bem-vinda.