sábado, 14 de junho de 2008

Fernão Capelo Gaivota - continuação I

Não tardou muito que Fernão Gaivota voltasse a pairar no céu, sozinho, longínquo, esfomeado, feliz, aprendendo.

O tema era a velocidade. Ao cabo de uma semana de prática, conseguira aprender mais sobre velocidade do que a gaivota viva mais rápida.

A trezentos metros de altura, batendo as asas com toda a força de que era capaz, lançou-se numa vertiginosa picada direta às ondas e aprendeu por que razão as gaivotas não fazem vertiginosos mergulhos picados. Em escassos seis segundos passou a mover-se a cento e vinte quilômetros por hora, velocidade que desequilibra a asa no arranque para a subida.

Vez após vez sucedeu o mesmo. Por mais cuidadoso que fosse, trabalhando até o limite da sua capacidade, perdia o controle em alta velocidade.

Subir a trezentos metros, dando primeiro tudo em frente; depois, dobrar o corpo e cair em mergulho vertical. Mas, sempre que tentava subir outra vez, a asa esquerda atrapalhava-se e fazia-o rolar violentamente para a esquerda. Ao tentar recuperar, era a asa direita que se atrapalhava, e então tremeleava como as chamas, num selvático movimento desordenado de parafuso, girando para a direita.

Não conseguir ser suficientemente cuidadoso naquele arranque. Dez vezes tentou e dez vezes alcançou os cento e vinte quilômetros por hora, acabando sempre numa agitada massa de penas descontroladas que ia esmagar-se na água.

"A chave", pensou por fim, "deve estar em manter as asas paradas nas grandes velocidades — batê-las até chegar aos cento e vinte e depois pará-las."

Tentou outra vez a seiscentos metros, lançando-se no mergulho com o bico espetado, as asas bem abertas e firmes a partir do momento em que ultrapassou os cento e vinte quilômetros por hora. Precisou de uma força tremenda, mas deu resultado. Em dez segundos transformou-se numa mancha no céu, a cento e trinta quilômetros pro hora.

Fernão acabava de estabelecer um recorde mundial de velocidade para gaivota!

Mas a vitória durou pouco. No instante em que tentou a horizontal, no instante em que modificou o ângulo das asas, projetou-se outra vez naquele terrível desastre descontrolado, e, a cento e trinta quilômetros, foi como se tivesse sido atingido por dinamite. Fernão Gaivota explodiu a meia altura e esmagou-se num mar duro como tijolo.

Um comentário:

  1. querida Aline!!
    nem sabia da existência do seu blogue!!! q surpresa!
    vou bisbilhotar tudinho com carinho... e como você escreve, flor!!!
    há pouco tempo iniciei o meu bloguinho... é um espaço sempre aberto para registrarmos nossos pensamentos! estou curtindo! (e, realmente, saí do 'iogurte')

    lindinho o vídeo do Pedro com sono!
    adoramos! e as fotos então!!!!
    o q são esses olhos!?
    dá vontade de engolir!
    manda beijocas nessas bochechas gorduchas!!

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