quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Guerras religiosas, guerras mentirosas


Durante séculos, milênios, a humanidade inventou guerras em nome da religião. Declaradas ou escondidas em desculpas torpes, estas guerras torturaram, mutilaram, queimaram, destruíram, mataram. Tudo em nome de um deus (coloco aqui em letra minúscula porque este “deus” não chega nem perto do conceito verdadeiro de Deus) vingativo, frio, sarcástico e, acima de tudo, mau, muito mau.

Outro dia assisti a um filme sobre um massacre que ocorreu no século XIX nos Estados Unidos. Um grupo de emigrantes, que passava por uma terra controlada por mórmones, foi violentamente sacrificado por estes religiosos. O bispo mórmon dizia ter recebido esta ordem diretamente de Jeová, justificando, assim, a carnificina. Mulheres, crianças, velhos, foram todos mortos a tiros, salvando-se somente as crianças com menos de oito anos por não terem a capacidade de lembrar-se mais tarde do acontecido. Mas não é bem sobre isso que quero escrever e, se alguém quiser saber mais, está bem explicadinho na Wikipedia. É só procurar por "Massacre da Montanha Meadow".

Queria – e quero – escrever sobre este absurdo que são as chamadas guerras religiosas. As que estão mais vivas na nossa consciência são justamente as veladas, como a Inquisição e as Cruzadas. Como matou-se em nome daquele deus…

O que nem todo mundo sabe – ou não quer saber, ou simplesmente nunca pensou no assunto – é que este Deus (agora sim, com letra maiúscula), ou Jeová, ou Alá, ou seja lá que nome se Lhe dê, é o mesmo. Eu, como não sou nada religiosa, acredito que há um ser de luz incomensurável, de bondade infinita, que nome nem religião nenhuma consegue conter. E todos os “deuses” de todas as religiões são, no fundo, um só, o mesmo. Explico logo…

No livro Civilizações Pré-Clássicas (Lisboa, Univ. Aberta, 1995, p. 320), António Augusto Tavares escreve:

O panteão sumério com a sua trindade básica influenciou o panteão dos Acádios, dos Babilônios e dos Assírios. Nesse processo, houve certamente a assimilação das divindades antigas, fenômeno resultante das próprias vicissitudes políticas. Assim, quando os Assírios dominaram em toda a Mesopotâmia, o próprio deus Assur entrou em Babilônia e quando esta subjugou a Assíria, foi o deus Marduk que se impôs aos Assírios.

Estamos falando em cerca de 2500 anos a.C. Devido às conquistas políticas, os povos colonizadores levavam sua religião para as terras conquistadas, que se fundia com a religião local. A trindade religiosa já existia. Neste mesmo livro, fala-se da trindade dos sumérios: An, deus do céu, Enlil, deus da atmosfera e Nin-hursag, a Grande Mãe. Mais tarde, os sumérios são subjugados pelos acádios, que têm como maior divindade o deus El[1], mas o antigo deus sumério Enlil continua a ser tolerado. Avançando um pouco na história, os babilónicos, no tempo de Hamurábi, substituem o deus Enlil pelo deus Marduk, de igual valor e poderes. Não será o mesmo deus?

Mesmo nestas religiões pré-clássicas, politeístas, existia um deus maior, o “chefe” de todos, assim por dizer, e os deuses “menores”, que representavam as forças da natureza, os sentimentos, os desejos humanos. O mesmo acontece na época clássica, tanto na Grécia como em Roma. Zeus é o deus maior, cercado por outros deuses menores. Isso não lembra, por acaso, o caso cristão católico, com Deus e seus santos? Não representam estes santos justamente o que os deuses do Olimpo, por exemplo, representavam? E, pelo pouco que conheço da religião muçulmana, não existem os profetas, que fazem justamente o papel destes “deuses menores”?

Voltando à trindade, ela existe no caso budista, no cristão, no hindu e em muitas outras religiões, sendo somente negada pelo judaísmo que, por outro lado, possui diversos nomes para Deus, retomando a idéia de pluralidade.

Bom, todos estes dados mal pesquisados e sem grandes referências bibliográficas servem para justificar uma idéia que tenho já há algum tempo. Pode ser loucura minha, alguns podem até chamar-me herege (em qualquer religião), quem sabe até seja excomungada, como faziam antigamente com quem tinha certas idéias diferentes… mas acho que faz um sentido muito grande… lá vai, então…

Todas as religiões têm a mesma origem, partilham de um ou outro conceito ou dogma, as crenças são semelhantes. Logo, todas são apenas uma, dividida em vários ramos. Que tal? Mesmo dentro de cada um destes ramos, há outras ramificações. O cristianismo dividiu-se, o islamismo dividiu-se, o judaísmo dividiu-se, o budismo dividiu-se………. (muitas reticências mesmo!). Assim como o mundo evolui, as religiões também evoluem, os fiéis cada vez mais (e porque hoje em dia já podem) começam a pensar e raciocinar sobre dogmas que em outros tempos eram sagrados e incontestáveis. E isto não é um fenômeno da época moderna, claro! Lá nos tempos pré-clássicos isso já acontecia.

Resumindo e concluindo, não há fundamento nenhum quando o argumento de uma guerra é religioso. Primeiramente porque TODAS as religiões, sem exceção nenhuma, rigorosamente pregam o amor, a paz e a justiça. E onde estes três imperam, não pode haver guerra. Segundo, porque, se todas as religiões têm a mesma origem, bem lá no fundo são a mesma, não há diferença entre elas e, se não há diferença, não há por que brigar…

Concordam? Discordam? Digam alguma coisa. Podem chamar-me infantil, absurda, podem dizer que tudo isso é baboseira. Mas, bem lá no fundo, será que nada disso que escrevi faz sentido???

[1] Só por curiosidade, este nome, “El”, do deus acádico, é, por acaso, um dos vários nomes de Deus para a religião judaica.

2 comentários:

  1. Concordo plenamente contigo, Aline.
    Deus é Uno. Em qualquer religião, em qualquer crença, seja ela qual for.
    A guerra é movida pela ganância, pelo ódio enraizado há séculos e não tem nada a ver com Deus.
    Deus é Amor, é Misericórdia, é Compaixão.
    Os homens continuam sem saber o que fazem.

    Beijos,

    Conceição

    Um beijinho em Pedro!

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  2. Adorei seu espaço, parabens. Votei lá embaixo. E indicarei nas minhas páginas.
    Beijabrações
    www.luizalbertomachado.com.br

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