quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Mito da Caverna


Narrado por Sócrates no início do livro VII da República, o Mito da Caverna é também conhecido como «Alegoria da Caverna», pois é um construto utilizado pelo personagem Sócrates para ilustrar algo, neste caso, a teoria das Idéias de Platão.
O mito:
Numa caverna, estão alguns prisioneiros acorrentados nela desde o seu nascimento. Estão presos de tal forma que tudo o que vêem são sombras projetadas na parede diante deles. Estas sombras são o reflexo de uma fogueira que arde atrás, mais em cima. Como tudo o que os prisioneiros vêem são sombras, eles acham que aquela é a única realidade que existe.
Mas eis que um dia, um deles consegue quebrar os grilhões e galgar os degraus até a fogueira, passando por ela e indo além, até a entrada da caverna. Lá ele encontra a esplendorosa luz do dia, mas o brilho é tanto que seus olhos, acostumados à escuridão, custam a conseguir enxergar. Ele então começa a ver seu próprio reflexo na água, até acostumar a visão e ver as plantas, as pedras e a partir daí ele pode encarar o próprio céu, com o Sol e outras estrelas.
Tomado de comiseração pelos seus ex-colegas presos no fundo da caverna, ele sente-se no dever de descer de novo até lá e chamá-los. Mas o que acontece é que os habitantes da caverna não querem sair, e nosso viajante corre mesmo o risco de perder a vida por querer apontar o caminho da luz.
O que significa???
O homem que consegue se livrar dos grilhões é o filósofo. A sua viagem até a saída da caverna representa a ascese da alma, que, através da dialética, sobe, como degraus, do conhecimento sensível até o inteligível e a contemplação das Idéias.
A Idéia Suprema é a Idéia de Bem (e as outras estão a essa submetidas, as coisas estão todas BEM dispostas no mundo).
O Sol, fonte da Luz, no mito representa a Idéia de Bem.
Sócrates é como o filósofo do mito. Ao tentar mostrar aos atenienses a verdade, foi por eles julgado e condenado à morte.
(Miguel - fórum www.consciencia.org)

terça-feira, 26 de setembro de 2006

(Foto: Miguel Lucena - 1000 Imagens)
VIAGE

Para habitar as planícies da ausência
e escalar os montes de tempo
que não vives

eis a secreta viagem
duma ave imaginária
em busca do instante
onde tudo recomeça
(Armando Artur, poeta moçambicano)

Passeio à Savana - a volta

Meio de transporte comum por aqui - chamam-se «chapas».

Qualquer semelhança com os caminhões de bóias-frias,
NÃO É mera coincidência...

Chegando na cidade - feira popular (aqui chamam «bazar») no subúrbio.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Passeio à Savana - o complexo turístico

Aqui uma pausa... fui decidida a tirar fotos de dentro do complexo turístico, mas, chegando lá, fui surpreendida por um grande NÃO que me deixou brava e, por isso, não tirei as fotos...
É que tínhamos planos de lá almoçar, mas o restaurante (o único de todo o complexo) estava fechado a nós, pobres mortais, pois o Ministro do Turismo estava sendo esperado para o almoço. Ficamos até sem água, porque é só lá que vende...
Fica registrado meu protesto!



Aqui é onde se chega e de onde se parte no complexo -
ao fundo, casinhas tradicionais, as palhotas...


Portal de entrada / saída do complexo - vê-se o canal e a outra margem, de onde nós partimos.

Confessem - esta foto está lindíssima!!! (Eu, modesta? Imagina...)


A última foto antes de entrar no barco - vista do canal,

novamente, com o manguezal junto à praia.

Passeio à Savana - a praia

Euzinha, tentando voar... olhem ao fundo, não parece as praias do Nordeste brasileiro??? Mas são praias do Oceano Índico, vejam só!!!
O dia estava perfeito, o céu limpinho, azulzinho, sem nenhuma nuvem - ah, delícia!!!!


Praias do Índico - vejam a vegetação - não parece a das praias do Brasil?

Passeio à Savana - a chegada



Do lado de cá do canal - o complexo é do outro lado. Nesta foto, o mangue e o canal. Tem muito caranguejo - ah, que delícia! Quero comer caril de caranguejo lá no restaurante!!!


Preparando-se para embarcar - vista do estacionamento.

A caminho do barco - pisando no mangue... na volta, com a maré alta, atracaremos lá em cima - todo este caminho desaparece.


Hehe!!! Euzinha, com o pé na lama! Mulher corajosa é assim... nem atolada perde a pose!!!


Nosso destino, visto do barco... Terra à vista!!!!!

Passeio à Savana - a ida II


À esquerda, os tubos para canalização, à direita, um nativo, carregando madeira na bicicleta...


Esta dá pra ver melhor - eles buscam a madeira no mato e depois transformam em carvão, que é vendido aos montinhos ao lado da estrada principal.

Passeio à Savana - a ida



Aqui, pertinho da Beira, há um complexo turístico chamado «Savana». É uma praia que fica depois de um canal, temos que atravessar de barco,é muito bonito! A viagem de ida também é fantástica, porque passamos pela própria savana africana. Pena que não há leões nem outros animais selvagens!
Mas é um passeio lindíssimo!
Saindo da cidade - ao lado da estrada, à esquerda, pode-se ver uma vala com o esgoto a céu aberto ao lado de palhotas, as casas tradicionais daqui - durante a viagem, encontramos tubos de cimento para a canalização dos esgotos, é o progresso chegando!!!
A Savana Africana - tudo plano, parece os pampas da minha terra!!! À frente, uma árvore, solitária, que faz sombra para os viajantes.

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Repente dos guaipecas


Repente dos guaipecas – Guri Tenebroso X Piá Perigoso

Eu sou o Piá
E estou chegando pra arrasar.
Pequeno, mas corajoso,
Eu sou mesmo perigoso!!!

Ei, Piá, não vem, não…
Que aqui quem manda é o Gurizão
Não adianta seres perigoso,
Porque eu sou é mesmo tenebroso!!!


Tá bom, Guri, faço que acredito,
Mas a mãe e o pai já tinham dito
Que eu sou criança indefesa,
Não adianta vir com essa enorme presa!!!

Criança indefesa, até parece…
Teu tempo chega, não te esquece
Que filhote também cresce
E esperar muito, nem carece!!!

Sou criança, filhote, brinco sim,
E espero que tenhas amor por mim,
Mesmo crescido, és meu irmão
E já moras no meu coração!!!

Vamos, então, fazer as pazes agora,
Porque entre bichos o amor não demora,
Temos a alma pura, carinho de graça,
E pra isso, nem precisamos ser de raça!!!

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Brecht e Portinari - combinação perfeita!

(Cândido Portinari - Trabalho na Cidade)

Perguntas De Um Operário Que Lê

(Bertold Brecht)

Quem construiu Tebas, a das sete portas?

Nos livros vem o nome dos reis,

Mas foram os reis que transportaram as pedras?

Babilônia, tantas vezes destruída,

Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas

da Lima Dourada moravam seus obreiros?

No dia em que ficou pronta a muralha da China para onde

Foram os seus pedreiros? A grande Roma

Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem

Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio

Só tinha palácios

Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida

Na noite em que o mar a engoliu

Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias

Sozinho?

César venceu os gauleses.

Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?

Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha

Chorou. E ninguém mais?

Frederico II ganhou a guerra dos sete anos

Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.

Quem cozinhava os festins?

Em cada década um grande homem.

Quem pagava as despesas?

Tantas histórias

Quantas perguntas

...

(Foto: Joel Calheiros - 1000 Imagens)

Alguém já disse que mais vale

acender uma vela

do que maldizer a escuridão!!!


sábado, 16 de setembro de 2006

Nova poesia (ou poesia nova)

Na minha primeira aula de Introdução à Literatura, a professora perguntou o que era poesia...Para espanto geral, numa turma de 60 neófitos, ninguém soube encontrar uma definição para esta palavrinha que faz parte do nosso quotidiano.
Normalmente, associamos a poesia ao poema, aos poetas, mas a poesia está em tudo, está numa
borboleta que ao sair do casulo seca suas frágeis asas ao sol, está no olhar de um estranho que passa na rua e nos deixa uma qualquer impressão, enfim, está na vida que vivemos, nas coisas comuns.
Esta semana, descobri uma poetisa especial, daquelas que transformam a vida em poesia, fazendo com que a definição do termo seja secundária, senão irrelevante.
Esta poetisa chama-se Conceição Pazzola, uma poeta independente - em todos os sentidos!
Abaixo, transcrevo um poema seu, que nos leva ao mundo das nossas lembranças.
Deliciem-se, sintam o perfume dos versos... e relembrem, sintam o cheiro da infância!


CALMARIA
Conceição Pazzola

Na casa vazia ao sol clamei
Por luz e calor esquecidos
Em portas e janelas fechadas
Há muito tempo perdidos
Na casa vazia em vão busquei
Por um brilho de teu olhar
Nem as estrelas fulgurantes
Com mil fagulhas radiantes
Poderiam se equiparar...

Clamei na casa vazia, esperei!
Indícios de risos aconchegantes
Nem as musas de belas canções
Com suas vozes mais delirantes
Devolveriam ao seu lugar

Na casa vazia ainda uma vez...
Anseio pelos passos e abraços
Daqueles a quem tanto amei.
Nem os sons mais suaves
Mostraram o mais leve traço

Pela casa vazia ecoa a pergunta
Onde se perderam os meus laços?
Encontro o céu de nuvens juntas
São elas as moradas esparsas?
Procuro agora a fórmula mágica
Capaz de levar-me ao espaço...

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Anjos atraem anjos - para meu amigo OP


Existe um velho cliché que afirma que amigos são como anjos.

Bom… eu tenho muitos anjos a minha volta, uns estão mais perto, outros mais longe, mas todos permanecem ao meu lado, não importa a distância que nos separa.
Hoje, um desses anjos me mostrou que a vida vale a pena ser vivida, que o que importa é ser feliz, que, sem amar, não se pode falar com as estrelas!

Este é pra ti, meu amigo anjo! Segue em frente, porque estás na estrada certa! Atraíste mais anjos para o teu lado!

«Ora (direis) ouvir estrelas! Certo.
Perdeste o senso!» E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
.
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
.
Direis agora: «Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?»
.
E eu vos direi: «Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.»
.
(Olavo Bilac)

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Aquela viagem...

O Guri (abaixo) e o Piá, dormindo sossegadinhos...

O Trem Comboio d'África

O trem da África corre devagar
E entre savanas e praias
Vai deixando seu pesar
Da janela eu assisto
O Guri pedindo osso
E o Piá gritando por mamá

Rebentos felizes
Vêem o trem passar
Enquanto as pobres perdizes
Choram seu destino
De não ter ossos para pedir
Nem mamá para gritar.

E o trem comboio segue
Sua marcha arrastada
Deixando pela estrada
O apito rasgador
E avisa a toda a gente:
Esperança é fruto de sabor!


quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Ainda em viagens - Utopias





Já falei sobre viagens do pensamento, mas há uma viagem ainda mais profunda, que é a viagem da alma, do espírito. Nesta viagem, não só visitamos lugares fantásticos, mas também nos transportamos para um não-tempo, um não-espaço, onde qualquer coisa pode acontecer.
Viajando com a alma, vivemos outras vidas que estão latentes em algum lugar dentro de nós. Experimentamos sabores e emoções que nossa auto-crítica nos desencoraja, por sermos susceptíveis a convenções e normas desta sociedade dura e seca em que vivemos.
Nesta viagem, podemos chegar ao final do arco-íris e encontrarmos o pote de ouro. Podemos olhar pela nossa janela e, no lugar do prédio ao lado, vislumbrar uma paisagem paradisíaca, surreal, até.
Viajar com a alma é sonhar, é ter utopias. Utopias, sim, por que não??? Imaginar situações e lugares e entes fantásticos! Ou, quem sabe, sonhar um mundo sem guerras, sem fronteiras, como um dia sonhou John Lennon? E, já que estamos neste caminho, criar um novo verbo, que será a meta das almas cansadas que andam por este mundo??? Criaremos, então, o verbo «UTOPIAR», verbo transitivo directo, porque exige um complemento, significando «sonhar mais alto, transcender a barreira do sonho» - Utopiaremos sem medo do ridículo, discutiremos nossas utopias nas mesas dos bares, nas praças, nas salas de aula e chegará um dia que as utopias serão tema de debates nos congressos nacionais, na ONU, quem sabe…
E assim, utopiando, talvez consigamos aquele mundo sem fronteiras, sem guerras, um mundo onde reine a compreensão, porque a principal utopia será a do respeito mútuo!

sábado, 2 de setembro de 2006

As Viagens

Estive um tempo afastada dos assuntos «internéticos», mas neste meu retorno, encontrei um assunto que me pareceu encaixar-se perfeitamente à situação... VIAGENS...

Outro dia, assistindo ao canal da National Geographic - que para facilitar a pronúncia dos falantes do português virou NatGeo - chamou-me a atenção o anúncio de um programa que dizia: viagem sem fazer as malas, sem sair do lugar... é um programa que leva os espectadores para os lugares mais fantásticos do planeta através das imagens...

Também se pode viajar ao ler um livro. A imaginação combinada com as referências que o autor faz a certos lugares - quiçá até imaginários - sempre nos transporta como se não existissem barreiras físicas!

Mas há aqueles vajantes do pensamento, aqueles que conseguem, além de visitar os lugares, entendê-los, respirá-los, somente através do pensamento.

E é dentro desta incrível viagem que encontro um poeta-prosador moçambicano, o Adelino Timóteo. Ele faz a nova «literatura de viagens». Tenho comigo seu último livro, que se chama «A Fronteira do Sublime», onde o autor «viaja» e descreve a cidade de Veneza. Em curtas poesias em prosa, Timóteo revela peculiaridades que só um visitante muito atento e sensível conseguiria captar naquela cidade italiana. O interessante é que ele nunca lá esteve.

Abaixo, transcrevo o poema em prosa de abertura deste livro. Se gostarem, podem pedir mais...

1.
Veneza atracada em meu peito. Uma Veneza em mim, com seu ténue perfil efeminado. Está ali. Esperneia-se. Chove-se-lhe o lago que quer que o toque. Uma Veneza em meu leito. Demora-se a olhar-me. Há uma Veneza em mim, algo que seja, pássaro, mulher numa ascensão em cidade, ao mar, verde, azul, uma rosa em seu parco reluzir de oiro. Uma Veneza que é a matéria vil, emerso botão de alegria, emerso círculo de jóias que não disponho, uma Veneza há em mim, às quatro dumas paredes do quarto, ao vivo, ao Sol dos astros candentes opondo-se-me ao vivo. Veneza. Uma Veneza em mim. Perfume empacotado do Oriente. Eis que experimento as suas formas ovais, as planas sobre as digitais, ao leme, à polpa para a aventura. Sigo-lhe as ondulações, as vagas, as vertigens, a ternura. Grão a grão. Gota a gota. Sigo-lhe à intuição amorosa. Pantera, Panda, seu instinto. Entro-lhe. Só com os olhos. Delicadamente, em procissão solene.

(Adelino Timóteo in A Fronteira do Sublime - ed. Associação dos Escritores Moçambicanos, 2006)