quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sonhos, matrix e... estrelas!


Quem não sonha? Mesmo os que dizem nunca sonhar, sonham. Apenas não lembram.

A ideia do sonho é associada a ideais e planos de futuro. Mas será que realmente um sonho pode se tornar realidade?

A vida está cheia de livros de auto-ajuda, frases postadas no Facebook e conselhos retóricos que nos dizem que se corrermos atrás do sonho, podemos alcançá-lo.

Teminha batido, eu sei... nem deveria estar falando nisso na minha volta ao Devezenquandário. Mas hoje pensei em um sonho impossível. Sim, pensei, não sonhei. E isso me fez pensar ainda mais...

Lembrei da Matrix. Tema batido e esquecido também, mas para mim, continua fazendo todo o sentido. O velho mito da caverna do Platão. Não é mesmo melhor viver em um sonho do que encarar a realidade??? Acordar pode fazer-nos dar conta de que estamos à beira de um precipício ou, pior, andando sobre as nuvens. E só é possível andar sobre as nuvens quando se sonha.

Sim, eu pensei um sonho que é impossível. E não quero acordar. Não quero a tal pílula (já não lembro se vermelha ou se azul) que nos faz acordar da Matrix. Quero continuar vivendo na Matrix e no meu sonho enquanto eu puder. A realidade é muito dura.

Porque a minha Matrix, o meu sonho, é de um arco-íris, que o meu filho mais velho nunca esquece de pintar em todos os seus desenhos. A minha Matrix é a vida vista através do arco-íris dos olhos do meu filho. E do que valeria cair das nuvens e encontrar um mundo feio???

De que valeria descobrir que, fora do sonho e da Matrix, há um menino na minha porta que pede pão e que passa frio à noite e que eu tenho que ignorar porque este menino é uma legião e eu sou impotente para dar pão e cobertor a todos?

De que valeria descobrir que a minha realidade mora em um mundo onde as pessoas ainda se matam porque... sei lá por quê... - na realidade, todos os motivos são desculpas esfarrapadas, porque nunca haverá um porquê.

(E agora lembrei das minhas aulas de português, quando ensinava o uso dos "porquês...)

De que valeria cair das nuvens diretamente em uma terra deserta de animais e plantas simplesmente porque a minha espécie é uma predadora compulsiva??? (vergonha de ser humana)

Por fim, como poderia despencar em um mundo sem amor? Em um mundo em que os amantes não pudessem tocar-se, consolar-se, olhar-se nos olhos porque existem barreiras e fronteiras e convenções sociais??? Um mundo em que as obrigações e responsabilidades fossem mais importantes do que o mais puro amor?

Não... não quero acordar de jeito nenhum! Quero continuar na minha Matrix, no meu sonho impossível. Por favor, não tentem, nenhum de vocês nem ninguém, chamar-me à vida real. 

Prefiro ouvir estrelas, cheirar o sol e viver em um eclipse.

Fala, Bilac!!!

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pátio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."