sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A Violência contra a Mulher - Origem e causas



Seguindo a História da humanidade, desde que o primeiro homem saiu para caçar e trouxe o fruto do seu “trabalho” para alimentar o seu grupo, o uso da força física foi determinante na construção das relações de poder dentro das sociedades. Ainda no período pré-histórico, a posição de poder masculina foi reforçada nas disputas tribais, onde os guerreiros eram considerados os integrantes mais importantes do clã, recebendo melhor tratamento e melhor alimentação. Deste modo, a mulher, em desvantagem física em relação ao homem, foi, desde o início dos tempos, colocada em uma posição secundária e de dependência.

Estes costumes pré-históricos perpetuaram-se e enraizaram nas sociedades posteriores o modelo patriarcal. Este serviu e serve para justificar a subalternização e discriminação da mulher, tornando-a mera reprodutora da espécie e dos próprios conceitos que a subordinam. A mulher é o “sexo frágil”, portanto, por um lado, deve ser protegida e sustentada e, por outro, não tem a capacidade de manter-se a si própria, portanto, não tem o direito de escolha ou de decisão sobre a sua vida ou a vida de outros. Deve aceitar a “protecção” e retribui-la com dedicação, zelo e obediência.

Ainda nos tempos modernos é comum ouvirem-se notícias de práticas humilhadoras da mulher, inclusive sancionadas pelos governos de certos países ou culturalmente aceitas e até incentivadas. É o caso – extremo, é claro – das mutilações genitais em certas tribos, mas também há casos como a proibição dos estudos, de participação na vida pública, da decisão sobre o seu corpo e a sua reprodução. Já em outros países, onde a legislação protege ou dá direitos às mulheres, o sistema, baseado no modelo patriarcal, “fecha os olhos” para casos de violência contra a mulher.

Por outro lado, enquanto o homem é visto como o provedor e a base do bem-estar da família, espera-se da mulher que assuma o estereótipo de “mulher anjo”, a que reproduz, cria e educa os filhos, cuida do lar e zela pelo marido, tudo sob a guarda, tutela e aprovação deste. No caso de revoltar-se contra o sistema de opressão que lhe é imposto, a mulher assume, então, o estereótipo de “mulher prostituta”, tratada como objecto e irrelevante socialmente.

Desta maneira, é negado à mulher a vivência como um ser completo, com necessidades, desejos e aspirações. A sua sexualidade activa é vista como falha de carácter, enquanto que a do homem é sinónimo de força e prestígio.

Este mesmo sistema patriarcal, que coloca a mulher em segundo plano, é perpetrado pelas próprias mulheres que, no papel de mães, educam seus filhos conforme foram educadas. Desta maneira, as meninas brincam com panelinhas e bonecas, aprendendo desde cedo que este será o seu papel na família, enquanto os meninos jogam à bola ou brincam com carrinhos ou ferramentas, tarefas que sugerem o uso da força física ou o trabalho remunerado, além do status social e da convivência com outros do mesmo género fora de casa.

Isto tudo leva a que a própria família reproduza a ordem social e estabeleça as relações de poder, colocando o homem em uma hierarquia superior à da mulher.

Sendo o poder e a dominação masculina socialmente aceites e corroborados, a violência contra a mulher, na maioria dos casos, ocorre quando este poder é ameaçado ou mesmo para validá-lo, para manter a condição de subalternidade da mulher. Em mais raras situações ocorre quando o agressor sofre de algum distúrbio mental ou emocional.

Diante de tudo isto, podemos inferir que o uso da violência masculina surge no processo da construção da identidade do homem, pois a força física possibilita a imposição e a manutenção do poder masculino. Esta validação do uso da força pelas sociedades patriarcais serve como afirmação da masculinidade, imposta e cobrada socialmente. Paradoxalmente, esta imposição social é também um tipo de violência contra o próprio homem, que é forçado a manter a sua posição de dominação a qualquer custo.



sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Os filhotes da Bibiana e a crise dos refugiados



Antes de lerem:

Não quero aqui, de maneira nenhuma, comparar quem quer que seja com cães de um modo pejorativo... pelo contrário!!! Quero demonstrar que um simples ato de bondade e de confiança pode mudar vidas. Quem me conhece sabe que tenho a loucura - ou sanidade - de não distinguir animais de pesssoas... A bondade e as intenções corretas podem mudar o mundo!

Agora, vamos ao meu despretencioso texto...

A minha cadela deu cria. 10 cachorrinhos lindos e fofos. A surpresa superou a expectativa… ninguém aqui em casa esperava tantos filhotinhos. Cada um que nascia era comemorado pelos meus filhos. “Mais um”, gritavam o mais velho, eufórico.

Passados o susto e a euforia, veio a constatação nada feliz: 10 filhotes para 8 tetas. (Sim, eu chamo “tetas” – na minha terra é assim que se chama aos mamilos dos animais, se alguém tiver um nome melhor, diga-me, ok?). Chamamos o veterinário. Verdito: se queremos que todos sobrevivam, temos de fazer revezamento de mamadas. Eu logo pensei: “Revezamento de quê??? Como isto é possível???”. Teríamos de ir trocando os filhotes da Bibiana durante o dia para que todos pudessem mamar.

No princípio, deixamos mãe e bebés à vontade para ver o que acontecia. A minha Bibi deitou-se confortavelmente e acolheu os dez bebés. Eles subiam por cima dela, ainda de olhinhos fechados, choravam e arranhavam à procura de leite. Ela me olhava com uns olhos de desespero, de quem pede ajuda. E eu fui deixando, tentando deixá-la resolver a situação. Resultado: ela ficou cada vez mais desesperada e os únicos filhotes que conseguiam mamar eram os mais fortes. Um dia passado, resolvi agir. Fiz o tal revezamento. Fiz por dois dias. E foi o suficiente. A mãe exemplar que é a minha Bibiana aprendeu o que tinha de fazer. Posicionava-se de maneira a deixar alguns filhotes atrás dela e dava de mamar aos outros. Depois virava-se para os que estavam nas suas costas e dava de mamar a estes. Ela aprendeu. Mas, para aprender, teve de ter apoio, alguém que mostrasse como ela poderia alimentar todos os seus bebés.

Além de ensinar a Bibiana como “gerir” as mamadas dos esfomeados, também providenciamos alimentação especial para ela. Sopa de carne, legumes e ovos, leite em pó para bebés e ração para filhotes. O triplo da comida que ela estava habituada a comer.

Os meus “netinhos” hoje têm mais de uma semana, já estão a abrir os olhos e estão todos gordinhos e sadios. A Bibiana continua a fazer o revezamento de mamadas que ela aprendeu. Emagreceu um pouco, mas está saudável e feliz.

Mas, vão me perguntar… o que isto tem a ver com os refugiados? Ora, não será uma analogia válida???

Vamos comparar…

A Bibiana é a Europa (ou os países que acolhem os refugiados) e os filhotes são os próprios refugiados.

Já pensaram???

Sim, a Europa tem um histórico de acolhimento de refugiados. Tem também a fama de ser o berço da civilização moderna e da democracia. Além disso, é considerada modelo de prosperidade por todo o mundo. Enfim, é o destino óbvio para qualquer pessoa que queira fugir dos horrores da guerra no seu país.

Ah! Já ia me esquecendo de contar o que os meus filhotes sofreram e sofrem… os meus cães, o Zeus e o Bagual, andam a tentar cercá-los, cheios de curiosidade. Os meu filho de 7 anos pega alguns ao colo e acaba por derrubar e machucar. O meu filho mais novo, de 2 anos, como aquele da praia da Grécia, acha graça em tentar atirá-los ao ar e ver o que acontece. Ou então guarda-os todos dentro de um armário e fecha as portas.

Isto é a analogia com os factores de receptividade dos países europeus com os refugiados. Culturas e necessidades diferentes sempre geraram conflitos.

Cá entre nós… é muito fácil ser bonzinho de barriga cheia. Mas a Europa passa por uma crise homérica. Vários países estão à beira do colapso. Não há emprego, não há dinheiro para os europeus. E então chega um monte de gente vinda sei lá de onde – porque nem todo mundo entende o que acontece nos países de origem dos refugiados – e aceita as piores condições de vida para um padrão europeu imagináveis. É complicado…

Enfim, nós somos humanos. E o ser humano é extremamente falível, orgulhoso e egoísta. A lei da sobrevivência impera sobre todas as outras. O diferente nunca é confortável.

Aí vemos Estados europeus desesperados a tentar barrar enchentes de refugiados às portas. Pensam na sustentabilidade do país, pensam nos problemas socias resultantes do acolhimento de culturas tão diferentes. E erguem cercas de arame farpado para garantir a sua sobrevivência. No egoísmo da humana lei do mais forte, esquecem-se de que os que estão a tentar furar o arame farpado são humanos como eles, sofrem como eles, querem sobreviver como eles.

A dicotomia do medo está instalada. Por um lado, o medo da guerra que produz refugiados. Por outro, o medo do “outro”, que produz ódio e xenofobia (resultados do medo de colocar em risco a própria sobrevivência).

Voltando à Bibiana… ela aprendeu a revezar as mamadas e salvou todos os seus filhos. A Europa e os países que acolhem refugiados devem agir como a minha Bibi… mas precisam de quem lhes ensine e apoie, precisam de incentivos e de quem lhes dê os meios – no caso da Bibi mais comida e carinho – para acolher os refugiados.

Agora, falando ao pé do ouvido de todos que tiveram a pachorra de ler até aqui… isto são medidas paliativas, são água por cima do fogo…

Na verdade, é preciso acabar com as guerras que geram milhões de refugiados. É preciso investir nos países em desenvolvimento para que não haja mais necessidade destes países produzirem imigrantes ilegais. É preciso humanizar o mundo.

Gente, vamos falar sério… as fronteiras, hoje em dia, são um mero risco no mapa. É muita hipocrisia dizer que vivemos em um mundo globalizado quando se trata de comércio e informação e esquecermos que somos todos filhos da mesma mãe.

Alguém aqui deixaria um irmão morrer em uma porcaria de mar??? Alguém aqui deixaria um irmão morrer de fome??? Alguém aqui negaria um quarto ou um prato de comida para um irmão que estivesse na rua???

Se o DNA une a nós como filhos dos mesmos pais, também nos une como filhos da humanidade.

Temos de ser um pouco como a minha cadela Bibiana: acolher todos, salvar todos, com a ajuda de alguns.

Como disse Leonardo Boff: “Então não são seres humanos, nossos irmãos e irmãs?”

Para terminar…

Continuo a insistir: é preciso resolver o problema na fonte. É preciso acabar com os móbeis da imigração e dos refugiados. Enfim, é preciso emponderar os países para que haja paz e estabilidade.

Será isso uma utopia???