quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Poemas - Verônica Aroucha


POEMAS
Meus poemas brincavam de areia e aroma.
Meus poemas enfeitavam de mentira
Minha verdade gritante
Meus cabelos, minhas contas de enfeite
Meus poemas andavam tontos
Em busca dos pontos cardeais
No limiar da escuridão sem lua
E as espumas do mar eram reais
Enquanto eu ficava estancada
Sentindo o mar arrancar
Pensava que eu também ia
Nas profundezas do mar navegar
Procurava um tesouro
Naquele manto sagrado
Suado e salgado guardava um segredo
Meu desenredo...
Uma caixa encantada
Um mar especial, único
Nascido para mim...
A caixa da felicidade.
(Verônica Aroucha)

Quintana, Amigo Velho


Este doce senhor aí em cima é meu amigo velho Mário Quintana. Outro dia, um amigo novo chamou-me a atenção para a ausência do meu outro amigo no blog. O que ele não sabia (o amigo novo) é que o Quintana é mesmo meu amigo.
Estas mãos enrugadas que seguram a bengala já seguraram a mão desta menina que não cresceu. Sim, fui tocada por este anjo. Lembrança dele? Não tenho, a memória ainda era a de criança que só guarda a magia. Lembro-me sim de um velhinho simpático que me levava a tomar sorvete na Rua da Praia, que morava no hotel dos parentes do meu pai, que minha lembrança de criança transformou em um castelo, com princesa na torre e tudo. Mas não lembro do «poeta».
Talvez tenha sido melhor assim... guardo a sua ternura e o seu olhar, seus escritos agora fazem parte da minha vida.
Tenho um Pé de Pilão em que ele diz:
«À amiguinha nova Aline, do amigo velho Mário Quintana»... amigo velho? Não... amigo sempre, amigo que virou estrela e brilha na minha estante, na minha mesinha de cabeceira, na minha vida.
Gosto de pensar que me deixou uma estrelinha, que iluminou as letras e construiu um brilho especialmente para mim.
Divido com vocês o presente que é de todos, mas que gosto de pensar que é só meu...

Das utopias
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Amiga Rami

Essencial Amicíssima,
Descobri que todas nós somos um pouco «Ramis», que temos dentro de nós este mundo inteiro de mistérios, amores e felicidades.
Mulher é fonte que jorra água doce, perfumada, mas também destila a cicuta pela qual muitos Sócrates se perderam. Do alto dos nossos mais de 30 anos, somos crianças ingênuas e inocentes, falsas detentoras de uma independência que sufoca nossas almas, que choram por carinhos e meiguices...
Somos filhas, mães e irmãs da Deusa e da Senhora, somos Joanas D'Arc lutando contra os moinhos de vento deste mundo.
Nossas mães ensinaram-nos a fortaleza da concha hermeticamente fechada às verdades do amor.
Disseram-nos: «luta, trabalha, estuda, casa, tem filhos...», mas nem elas sabiam que a mulher é amor, é a flor que precisa ser polinizada e precisa ser aberta como uma flor que desabrocha no primeiro dia da primavera.
A Rami, amicíssima, é mulher como nós. Teve seu coração sangrando pelos espinhos que vieram no lugar das rosas prometidas. Mas descobriu-se mulher, nunca é tarde para isso.
Falta-nos a coragem de conversarmos com nossos espelhos, encararmos a verdade que eles nos dizem.
Falta-nos a coragem de sermos mulheres, de admitirmos que sim, precisamos de nosso homem a aquecer-nos o corpo e a alma.
Queres ser amiga da Rami? Seja tua amiga, converse com teus fantasmas e desvele a névoa patriarcal que cobre a nossa existência.
Muitos beijos,
tua sempre amiga Aline (agora um pouco Rami).

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Encantamento - Clóvis Campêlo


O encantamento é a soma de todas as cores.
Existe uma luz radiante quando se abre a janela e verifica-se que, apesar de tudo, surgiu um novo dia e que nesse novo dia todas as possibilidades são prováveis e possíveis.
Desvenda-se uma nova visão cósmica quando entendemos que todos os equívocos foram necessários e que sem eles não haveria a possibilidade dos acertos.
Entramos em êxtase quando percebemos que o excesso dos nossos sentimentos foram o adubo necessário para que brotassem as flores do bem.
O pão quentinho é apenas a condensação de todas as energias positivas, transformadas em criação.
Somos apenas o instrumento.
(Clóvis Campêlo)

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Conceição Pazzola - Ave de Arribação


AVE DE ARRIBAÇÃO
Volta pra mim lavadeira
Trinava garboso o sabiá
Ao desfilar de fagueiras
Andorinhas rumo ao léu
Em busca de outro verão
Partiram na amplidão azul.
Em pleno vôo para o sul
Só ela ouviu o doce apelo
Vencida pelo canto fogoso
Varou o inverno sombrio
Esquecida de frio e irmãs
Aves de arribação no estio
Seduziu o cantar do sabiá
Chamou para a luz de novo
Abatida no céu sua amada
Ficou nas garras do corvo
O rumo peridido e sem asas.
(Conceição Pazzola)

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Carlos Maia


Ah!...As andorinhas...
Em seus vôos plenos de sol...
A alegria plena de paz
Pulsando em cada célula
Do seu ser.
Os Boing’s jamais terão
A alegria desse vôo
Pleno...De liberdade,
De vida saudando
O criador,
Da alegria de existir,
Simplesmente
Existir...

Carlos Maia

domingo, 3 de dezembro de 2006

Niketche - Paulina Chiziane



Esta semana fui apresentada a uma mulher especial, a Rami. Moçambicana bonita, forte, de alma guerreira, mas que se julga feia, fraca e sem encantos.

Encontrei-a com o rosto manchado de lágrimas, a lamentar um amor perdido, a maldizer sua condição de mulher fraca, estéril de atributos para manter sua cama aquecida e sua honra feminina intacta.

Encontrando-se no fundo do poço do desespero, Rami encontra forças para cumprir o que julga ser sua obrigação, trazer seu marido de volta e salvar seu casamento. Assim, envolve-se em lutas corporais com suas rivais, procura ajuda de curandeiros e igrejas, cursos que ensinam o que é o amor. E, aos poucos, vai se descobrindo mulher.

Não conheço ainda o desenlace da história de minha amiga Rami, porque ela é de papel, protagonista do livro Niketche, escrito por outra mulher fantástica, essa de carne e osso, Paulina Chiziane.

Mas ser «de papel» não faz de Rami menos mulher. Ela é o espelho de muitas de nós, esposas conformadas por fora e desesperadas por dentro, que ainda não se descobriram mulheres. Aliás, o espelho de Rami é seu melhor companheiro, seu melhor amigo, que reflecte sua verdadeira imagem, da mulher bonita, forte e guerreira. Fala com ela e lhe diz verdades doídas, que calam na sua alma e vão trazendo de volta a força que vem da terra, da natureza, aquela força que está em todas nós mulheres, descendentes das míticas amazonas, filhas da Deusa e senhoras do mundo.

Nestes tempos, em que as livrarias estão abarrotadas de livros de auto-ajuda, a boa literatura continua a ser a verdadeira conselheira, a verdadeira amiga. E este novo livro da Paulina é leitura imprescindível a mulheres e homens. Às mulheres, por nos ajudar a lembrar de que barro somos feitas e aos homens para dissipar esta névoa em que os séculos patriarcais nos envolveram.