quinta-feira, 22 de maio de 2008

O Guardador de Rebanhos


Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
(Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

O filho que eu quero ter

Os dois homens da minha vida


O Filho Que Eu Quero Ter

É comum a gente sonhar, eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer



Vejo um berço e nele eu me debruçar
Com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar
O filho que eu quero ter



Dorme, meu pequenininho
Dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem



De repente o vejo se transformar
Num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar
Quando eu chegar lá de onde vim

Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim



Dorme, menino levado
Dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem



Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar
No derradeiro beijo seu



E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar
Num acalanto de adeus



Dorme, meu pai, sem cuidado
Dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter



(Vinícius de Morais)



Ultimamente, costumo acordar à noite esperando que meu filho peça a mamadeira. Enquanto isso não acontece, fico escutando sua respiração, que de plácida vai se tornando mais agitada à medida que acorda. De repente, abre os olhos bem devagar e, ao ouvir minha voz, esboça um sorriso. É o meu primeiro momento mágico da noite.
Seus olhos brilhantes fitam-me e, apesar de ser tão pequenino, sinto que nada no mundo é maior do que ele. Fala-me com os olhos, e eu digo-lhe baixinho que o amo.
No quarto ao lado, meu marido dorme. Entro devagar com o pequenino ao colo, tentando não fazer barulho, mas, quando sento na cama ele meio que acorda, ensaia um bocejo e vira para o lado.
Depois do ritual da mamadeira noturna, meu bebê volta a dormir e eu me aconchego na cama. E aí tenho meu segundo momento mágico da noite. Meu marido, meio dormindo, joga o braço por cima de mim e eu me aninho em seu corpo.
Dormimos os dois, assim, abraçados, sonhando com o filho que quisemos um dia ter e que agora é toda a nossa realidade.
Antes de voltar ao sono, agradeço a Deus pelos olhos do meu filho e pelo braço do meu marido.
Hoje sei, apesar de não conseguir descrever, o que é felicidade.