segunda-feira, 16 de março de 2009

Clube do Bolinha - Menina não entra


Por Aline Machado

Antes de começarem a ler este texto, uma advertência: não sou feminista. Pelo contrário, sou até machista em alguns aspectos. Para mim, homem, para ser homem, tem que abrir a porta do carro, puxar a cadeira no restaurante e pagar a conta.

Brincadeiras à parte, não sou feminista nem machista. Penso que homem e mulher têm suas diferenças. Físicas, intelectuais, comportamentais, afetivas… A mulher, apesar de toda sua emancipação, sempre aparecerá (ou parecerá) ao homem uma figura frágil (apesar de, em muitos aspectos, ser tão ou mais forte do que o homem) e o homem sempre será a figura paterna, protetora. E isto é algo instintivo, talvez tenha até a ver com a nossa necessidade de procriação, de manutenção da espécie. O frágil inspira ternura, cuidados, carinho, todos fatores necessários para a boa condução de uma gravidez.

A despeito de todas estas diferenças, sou a favor da igualdade sexual na sociedade. Esta sociedade abrange, realmente, tudo o que é social: trabalho, diversão, política, participação em clubes, etc.

Muitos dirão: “ah, eu também sou a favor da igualdade sexual”! Sim… claro! Esta ideia de igualdade é hipocritamente aceita. Posso dizer, por experiência e constatação próprias, que os homens não são assim tão a favor da igualdade. E, infelizmente, muitas mulheres também não. Ainda há preconceitos arraigados no nosso senso comum que não conseguimos ultrapassar. Para exemplificar: quantos de vocês, leitores (a nossa própria língua é machista pois, quando queremos designar um conjunto de seres masculinos e femininos com um só plural, fazemo-lo, obrigatoriamente, no masculino) achariam realmente normalíssimo um casal em que o homem cuidasse da casa e a mulher o sustentasse? Dirão que já há muitos casais assim. Ok. Quantos de vocês vivem uma relação assim? Voltando à primeira pergunta (quantos achariam normalíssimo…) … não respondam ainda! Esperem pelo final do texto, façam um exame de consciência. E, claro, não respondam em voz alta, fiquem com a resposta somente para vocês.

Voltando ao assunto da sociedade. Sabiam que as primeiras sociedades foram matriarcais? Acredita-se que essas sociedades teriam existido na Ásia e na Europa, pelo menos desde o ano 35.000 a.C. Eram sociedades que desconheciam a guerra e a violência sistemática, que não possuíam classes nem estrutura rígida de poder, que não oprimiam mulheres nem homens e que celebravam a vida a ponto de adorar a natureza como expressão de um ser divino.

Um lindo paradigma, não é? Até parece aquilo que sonhamos para o nosso futuro! Mas isso tudo acabou a partir de 4.000 a.C., quando invasores introduziram o machismo, a cultura da guerra e a sociedade patriarcal.

E este é o mundo em que vivemos hoje, machista, belicoso, materialista. O que teria acontecido se as sociedades matriarcais tivessem resistido? Nem o maior historiador do mundo poderia responder a esta pergunta, mas arrisco-me a pensar que, talvez, tivéssemos um mundo mais justo.

A prova da existência destas antigas sociedades é que, ainda hoje, no século XXI, existem algumas. Eu tenho notícia de duas. Uma no nordeste da Índia, num lugar chamado Meghalaya, e outra na China, no povoado de Mosuo, às margens do Lago Lugu.

No primeiro caso, o indiano, a sociedade não é propriamente matriarcal, mas matrilinear. Quer dizer que a sucessão é de mãe para filha e não de pai para filho, como acontece na nossa cultura, e as mulheres não dominam os homens. O homem é defensor da mulher, mas a mulher é a guardiã da sua riqueza. Nesta sociedade acontece um fato fantástico em relação ao idioma. Na sua língua nativa (falada juntamente com o inglês), os nomes das coisas inanimadas são do gênero masculino até se tornarem úteis. Assim, madeira é masculino, mas tábua é feminino (as feministas de plantão adorariam este fato!).

Já na China, os mosuos têm uma sociedade realmente matriarcal. Lá, quem manda é a mulher. Os homens estão limitados aos trabalhos domésticos e à criação dos filhos. Mais radicalmente: não há a figura do marido nem do pai. Os filhos pertencem obrigatoriamente à mãe, que se responsabiliza também pela educação deles. É ao irmão da mãe que cabe a responsabilidade de educar os filhos (homens) desta, que lhes transmite princípios de moral e ética.

Em todas as famílias, a mulher é que tem o mando tanto da administração da casa como da produção e distribuição da riqueza. Os homens que moram com os pais também são submetidos à chefia da mãe ou da avó.

Resumindo: os mosuos têm uma sociedade oposta à sociedade patriarcal, radicalizada. Ou deveria dizer “as mosuos”?

Também há o mito (?) das amazonas sul-americanas (receberam o nome das outras míticas amazonas gregas), guerreiras que conseguiram expulsar os invasores espanhóis das suas terras, na América do Sul.

Poderia escrever páginas e páginas sobre as sociedades matriarcais. Há, na história da humanidade, incontáveis exemplos. Mas não é este o meu objetivo hoje.

Hoje quero levantar um manifesto a favor da verdadeira igualdade entre os sexos. Uma igualdade que respeite a diferença – que, sim, há, incontestavelmente –, que não impeça mulheres nem homens de ocuparem lugares na sociedade, que seja justa.

Convoco, então, todos os leitores e leitoras para uma campanha a favor da verdadeira igualdade. Sem hipocrisia, sem falsos moralismos, sem falsidade.

Muitos setores da sociedade já estão dando-se conta de que a participação feminina é essencial para o funcionamento de suas instituições. Antigos clubes fechados, como, por exemplo, o Rotary Clube, já estão abrindo suas portas à cooperação das mulheres. Mostram, assim, estarem situados no novo mundo em que vivemos, um mundo que não permite mais preconceitos.

Homem e mulher complementam-se em todos os sentidos. Nenhum é maior nem mais competente do que o outro. A objetividade do homem é completada pela sensibilidade da mulher. Sempre foi assim, sempre será, por mais que muitos gritem contra.

Quem não concordar, leia um livro de História da Humanidade. Pesquise. Vamos, finalmente, fundar uma sociedade que não seja nem matriarcal nem patriarcal, mas uma sociedade do futuro, da igualdade.

Alinham???

P.S. Agora, podem responder àquela pergunta que fiz uns parágrafos atrás. Quem, realmente, não tem nenhum preconceito?

Homens contranatura

Imagem: Adão e Eva após Gustave Klimt - Paulo Ghiraldelli Jr.

por Nuno Nodin


Bem-vindos ao ano de 5769. Na semana passada o calendário judaico marcou a entrada neste novo ano que celebra mais um aniversário sobre a criação do Homem, ao Sexto Dia.

Judeus e cristãos modernos conceberão a ideia de Adão e sua costela feminina como uma bonita e alegórica história da inspiração divina do homem. Porém, muitos outros ainda acreditam que há quase seis milénios Deus, quase pronto para um bom descanso, terá tido a brilhante ideia de criar uma criatura mais ou menos à sua imagem.

As religiões sempre cumpriram uma importante função, nomeadamente a de fornecer explicações simplificadas do mundo. Porém, ao fazê-lo, regra geral excluíram outras alternativas. O conceito da criação divina do mundo deixou como legado a ideia de que existe uma certa ordem natural das coisas. Que a realidade é como é porque Deus quer. Usando essa mesma lógica, há quem alegue que certas coisas são contranatura.

A homossexualidade tem sido uma dessas coisas. Um dos argumentos sempre utilizados para remetê-la para o domínio do anormal, do patológico ou do moralmente repreensível, é essa ideia de que os homens foram naturalmente feitos para se relacionarem com mulheres e vice-versa. Que dois homens ou duas mulheres juntos num relacionamento são uma aberração aos olhos de uma qualquer divindade.

O problema com essa argumentação é que o Homem é das coisas menos naturais à face da terra. Para serem mesmo naturais, os homens nunca deviam fazer a barba e as mulheres deveriam deixar os pêlos das suas pernas crescer descontroladamente. Deveríamos andar a pé e não de carro e de preferência descalços, pois isso seria a coisa mais natural a fazer.

Na natureza, por seu lado, encontramos pinguins gay na Nova Zelândia, macacos sexualmente polimorfos no Congo e golfinhos bissexuais por esses oceanos fora.

Alguns desses animais contranaturais estabelecem relações monogâmicas por toda uma vida, muito ao contrário da maioria dos humanos. Em que pé é que isso deixa o casamento como natural ou antinatura?

Até muito recentemente na história da humanidade, o casamento como a união da vontade de duas pessoas não existia. Existiu sim durante muito tempo como a união de quatro vontades, as dos pais dos noivos, não tendo os próprios qualquer voto na matéria. Por isso, não deixa de ser irónico agora que, quando dois homens ou duas mulheres se querem casar, a sociedade não os deixe, muitas vezes por considerar os seus desejos contrários à tal ordem natural das coisas. Porém, desde a trincadela da maçã primordial que o Homem não deixou de contrariar essa ordem. Argumentar que casamentos homossexuais não são aceitáveis é tão bacoco quanto defender que não devíamos usar telemóveis. Afinal, vivemos numa sociedade laica, certo?


in Revista Pública, 12/10/08, p. 61

Voltando das férias

Amigos, estou de volta! Acabaram-se as férias e agora trabalho, muito trabalho!

Com o tempo - que anda escassíssimo nos últimos dias - vou contando tudo, mostrando tudo. Fotos de Coimbra (maravilhosa), de Valença... mas isso é para depois.

Para já, vou dividir com vocês um texto que achei fantástico. Encontrei-o numa revista do ano passado, em uma sala de esperas qualquer.

Vale a pena ler. Vejam na próximao postagem, ok?

Quanto à prometida entrevista do Mia Couto, não esqueci! Preciso de um tempinho para elaborá-la, mas logo, logo estará estampada aqui no Devezenquandário.

Então, continuem acompanhando o nosso blogue e beijos para todos!

Aline