terça-feira, 26 de junho de 2007

E agora???

Preciso de ajuda,
Preciso de conselho…

Como é que eu faço
E o que é que eu faço?

Tanta coisa pra parar,
Tantas outras pra começar…

Cafeína, pastel, batata frita,
Corrida, noitada, nicotina…

Pára tudo!!!

Agora é…

Caminhada, sesta, fruta,
Vitamina, óleo de amêndoa, salada…

É muita responsa…

Será que dou conta???

domingo, 17 de junho de 2007

Sem título, com dor no coração

O domingo amanheceu estranho. Chuva através do sol e uma aura de presságio, de mau presságio.
Como sempre, estava tomando minha xícara de café na sala, fazendo planos para o dia. Os cães estavam deitados junto aos meus pés e aquela má impressão com que eu havia acordado parecia se dissipar à medida que recebia o carinho deles e o café esquentava meu corpo. Não estava frio, mas um vento gelado corria no jardim, sacudindo as árvores e fazendo bater as portas da casa. Foi quando ouvi os gritos.

Era o grito desesperado de um cão. Parecia machucado. Meus cães correram em direção ao portão, latindo e rosnando, desesperados. A princípio, fechei os olhos e pedi para que os gritos parassem, afinal, que podia eu fazer? Recolher o cão, chamar o veterinário, talvez. Mas isso aqui é complicado, os cães, mesmo os que parecem de rua, têm donos e estes donos são às vezes mais animais do que os próprios cães.

Mas os uivos e gritos não pararam e eu corri em direção à rua. Quando cheguei ao portão, os gritos haviam parado e eu fiquei procurando a origem do barulho. Havia muitas pessoas na rua, um grupo de crianças gritava alguma coisa que eu não entendia. Um caminhãozinho do Conselho Municipal (equivalente à prefeitura) estava parado na esquina e alguns homens executavam algum serviço que eu não podia distinguir.

Foi quando um dos homens veio para a frente da minha casa. Havia um casal de cães na rua, uma cadela já minha conhecida, da casa da frente e outro cão, um cãozinho preto, pequeno, peludo. Seu pêlo e estatura lembravam um Yorkshire. Lembro que pensei, naquele momento, nas madames que pintam seus cães e que, talvez, esse pudesse ser um dos cães de madame com henna no pêlo. Mas não, aqui isso não acontece. Era mesmo um cão de rua, um rafeiro, como dizem aqui.

De imediato, o homem do Conselho Municipal, alto, forte e decidido, agarrou o cãozinho indefeso por uma perna e levantou-o no ar. Eu imediatamente comecei a gritar para que parasse, pois estava machucando o cão. Outro homem limitou-se a responder-me que eu não me preocupasse, pois o cão assim não morderia. Como se eu estivesse preocupada com o homem… que ironia! Este gesto quebrou a perna do cão, que gritava mais desesperadamente ainda. Talvez seus gritos tenham sido abafados pelos meus que, histérica, com as mãos nas grades do portão, implorava para que parassem com aquela cena bizarra. Já imaginava como iria telefonar ao veterinário, como faria para cuidar daquele cão com a perna partida por um animal. Mas os homens ficaram surdos aos meus gritos e aos gritos do cão. Com o cão machucado, o monstro conseguiu pegá-lo pelas duas patas e ficou girando-o em volta de si, até que um outro veio com um tronco, com o qual subjugaram o cão (como se um cão daquela estatura e com a perna quebrada pudesse causar algum mal), enquanto o caminhãozinho chegava mais perto. Na carroceria, havia uma gaiola de madeira, cheia de outros cães. Era a carrocinha moçambicana. O cão, machucado, foi atirado para dentro da gaiola, junto com os outros cães que uivavam e choravam.

Foram embora e eu fiquei ali, grudada ao portão, sem conseguir sair do lugar. Chorava compulsivamente e as crianças, assustadas com minha reação, achegaram-se a mim. Eu perguntei por que faziam aquilo e as crianças responderam que não sabiam, mas que agora iam guarda seus cães para que não lhes acontecesse o mesmo.

Chorei muito, revoltei-me, tentando entender o que leva um ser humano (?) a tal atitude. O cãozinho teve a perna quebrada por aquele monstro e ele não demonstrou nenhuma pena, balançava o animalzinho como se fosse um pedaço de madeira, indiferente aos gritos (meus e do cão).

Realmente, há muitos cães na rua aqui na cidade. Realmente alguma coisa precisa ser feita. Mas isso??? Por que tanta maldade? Tentei me consolar pensando que aqueles cães iam morrer, que iam para o céu dos cães, como costumo dizer, iam parar de sofrer maus tratos nesta vida ingrata. Mas depois lembrei… como irão matá-los? A pauladas, certamente.

O pior é que não tenho a quem recorrer, não tenho a quem denunciar. Aqui, os animais são isso, são tratados assim, como nadas. Sei que não há dinheiro para canis públicos, para uma campanha de castração, mas nada justifica a violência.

Meu coração está despedaçado. Senti mais uma vez o tamanho da minha impotência frente a estes animais que se dizem humanos. Deveria ter saído do portão, deveria ter arrancado o cão à mão daquele monstro, mas, será que não teria tido o mesmo tratamento que o cão? Confesso, senti medo. E pior do que a impotência, é o medo, principalmente quando os ditos humanos transformam-se em monstros insensíveis e desalmados.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

E-mails, judeus, palestinos & chimpanzés

Todos os dias recebo quase uma centena de e-mails. Alguns são automaticamente repassados e, quando vejo que é assim, nem leio, deleto logo. Outros trazem piadas velhas e batidas (chego a receber a mesma piada até três vezes por dia). Quando vejo o assunto, deleto.

Os que acho interessantes, leio, ou deixo para ler com mais atenção quando tiver mais tempo. Alguns são do meu grupo, os Poetas Independentes. Estes são prioritários, sempre leio primeiro.

Tenho uma grande amiga em Blumenau que sempre me repassa e-mails sobre as mazelas humanas, sobre as lutas do povo, sobre notícias de usurpação de direitos, tomadas revolucionárias… alguns são muito pertinentes e considero uma das melhores fontes de informação que tenho. Pessoa extremamente esclarecida, esta minha amiga tem uma compreensão do mundo que eu gostaria de ter. Ela consegue desvelar as máscaras, importa-se realmente.

Hoje recebi um e-mail com o seguinte título: «Não à ocupação israelense». Era datado de 16 de Maio deste ano e assinado pela Coordenação Internacional de Organizações pela Palestina. Começava assim: «Entre os dias 9 e 10 de Junho, pessoas ao redor do mundo se reunirão, em atos e manifestações, para dizer: Basta! O mundo diz não à ocupação israelense de Jerusalém Oriental, Cisjordânia, Faixa de Gaza e colinas do Golã…».

E eu pensei: o que eu tenho a ver com isso? Sou mesmo alienada, fico sempre dividida entre os judeus e os palestinos. Fico sempre desejosa de uma reconciliação cor-de-rosa entre eles, torcendo para que vivam finalmente em paz e em harmonia. Mas isso é impossível, pelo jeito. A história, que é mãe do tempo, já provou: eles não se acertam.

A experiência que tenho deste conflito é mínima, limita-se à convivência com judeus e com palestinos, aqui no Brasil. Sinceramente, nunca vi nada de diferente em nenhum deles, nunca achei que este ou aquele fosse «esquisito» ou que meus amigos palestinos fossem potenciais homens-bomba.

Vou começar com os palestinos. Convivi com muitos, lá em Uruguaiana, na fronteira do Brasil com a Argentina. Eles são comerciantes e ocupam a chamada «Baixa» da cidade. Frequentava sempre a loja do seu Maruf, pai do Marcelo e do Beto. Lá tomava aquele café maravilhoso e comia aqueles biscoitos que pareciam caídos do céu. Pessoas maravilhosas, todos eles. Amigos mesmo, queridos. Tive colegas na faculdade que eram palestinos. Gente!!! Eram pessoas normais, como devem ser todos os outros. Eram amigos, parceiros, prestativos. Como são as pessoas.

Em Blumenau, um dos meus grandes amigos é judeu. Neto de rabino. Pessoa fantástica, principalmente pelo seu senso de justeza (justeza mesmo). Um dia, falando sobre o holocausto (oh, um judeu falando sobre o holocausto! – devem ter rolado lágrimas, vocês estão pensando…), contou-me que, a idéia inicial do Hitler era justa. (Pasmaram???). Disse-me que os judeus-alemães, donos das fábricas, não queriam participar do esforço de guerra, que diziam que não eram alemães, e sim judeus e por isso não tinham obrigação patriótica nenhuma. O Hitler, justíssimo, então (pasmem mais ainda!), resolveu expulsá-los, afinal, não eram alemães… Só que, no caminho, o bigodinho enlouqueceu e resolveu matá-los todos. Vou lembrar… a história não é minha – é de um JUDEU!

Por isso, continuo em cima do muro: não acho que os judeus devam sair, nem acho que os palestinos devam sair. Queria colocá-los todos sentados no meu sofá e passar um daqueles sermões de professora… parecem crianças!

Pôxa!!! Antes de serem palestinos ou judeus, são humanos, pessoas, gente!!! Todos sofrem, todos sangram, todos choram. A dor não dói mais em um lado do que no outro. A humanidade é que está perdida, humanidade no sentido de sentir que o outro é igual a si, de reconhecer no outro parte de si mesmo.

Mas, bom… outro dia, li que alguns estudiosos filmaram um ataque de chimpanzés a outro chimpanzé, da mesma raça, só que de grupo diferente. Espancaram o chimpanzé invasor até à morte. E isso tudo só provou mais um elo entre humanos e chimpanzés: que a violência gratuita é da nossa natureza.

Que vergonha! Que vergonha pertencer a esta raça humana! Por isso que, quando vejo uma cobra morder alguém, ou um touro a jogar para o alto um toureiro, penso bem alto: bem feito! Porque os animais só atacam para se defender. Com exceção do chimpanzé, é claro, mas este tem um elo muito forte com os humanos…

sexta-feira, 1 de junho de 2007

01 de junho - Dia da Criança em Moçambique


Inocência escondida sob a poeira,
Brilho ensombrado pela vida,
Nasceu já obsidiante, conformado,
Candura alugada por trocados.

Persegue-me pela rua e repete:
«Tia, tou a pedir um mil»,
É para a barriga, para o irmão,
Inata necessidade tornada costume.

Hoje não te dou «um mil»,
Ofereço-te, sim, sonhos,
Carneirinhos de nuvem

Num céu cor-de-rosa,
Histórias de dormir,
Boa noite e um beijo.