Este é o Houssein, um pitt bull que vive num corredor cheio de sucatas de construção ao lado do prédio da minha mãe, em Blumenau.
Da janela da cozinha, chamava-o e ele abanava o rabo, feliz de me ver e ouvir uma voz carinhosa. Eu, sei que erradamente, atirava-lhe alguma comida, um pedaço de pão, um resto de bife. E a cada dia meu coração ficava mais apertado por ele.
Reparava que nem sempre o balde de água estava cheio, que seu lugar não era limpo e que passava o dia inteiro trancado ali, naquele corredorzinho, muitas vezes preso pela corrente, com o espaço mais limitado ainda.
Não conseguia sentir medo daquele cão. Seus olhos demonstravam carinho e carência. Ele precisava de carinho, de amor. E eu não podia fazer mais nada do que lhe enviar algumas palavras mansas e um pouco de comida.
Um dia, ouvi a voz do seu dono conversando com ele. Corri à janela e perguntei se podia descer para vê-lo de perto. O dono concordou na hora, simpaticamente dizendo que o Houssein era inofensivo e que adorava brincar.
Foi aí que descobri que aquele já era seu terceiro dono, e ele só tinha oito meses. O rapaz era bem intencionado, brincava e fazia festas ao cão e disse que pretendia enviá-lo a um local de treinamento numa cidade perto. Na hora fiquei apreensiva. Que tipo de treinamento, perguntei. É claro que ele respondeu que era treinamento de obediência e não de violência. Do fundo do meu coração espero bem que sim. Fiz algumas festas ao Houssein que, quando me viu, abanou o rabo e saltou para brincar. Acariciei sua cabeça e lhe dei um beijo na testa. Sem medo, sem receio, sem desconfiança.
Conversei um pouco mais com o rapaz, não deixei, é claro, de meter-me na história, tirando não sei de onde que um cão com pouca água e pouca comida torna-se muito agressivo. E no fundo, todos sabemos que isso é verdade...
De tudo isso, ficou uma idéia perturbadora dentro de mim. Acredito que não há cães assassinos, há donos irresponsáveis e mal intencionados. No caso do Houssein, o seu dono até é muito bem intencionado, mas não tem o preparo nem os meios para criar um cão desta raça. E penso, então, que é exatamente isso que acontece: donos despreparados, que não conhecem as particularidades da raça, que resolvem criar um cão por estar na moda. Estes donos acabam criando monstros que, na maioria das vezes, voltam-se contra eles próprios.
Ouvi alguns comentários sobre a extinção da raça dos pitt bulls. Talvez seja melhor para os cães, porque os humanos que os criam não estão preparados para valorizá-los e cuidá-los.
Continuo defendendo e repetindo-me: a culpa não é dos cães, é dos donos. Estes, sim, deveriam ser presos e surrados, enquanto os cães deveriam ser encaminhados para reabilitação. Solução que existe e que funciona mesmo.
Afinal, com compreensão, carinho, dedicação e, principalmente, amor, o que não se consegue??? Um cão é um cão, seu instinto é ser dócil, é ser amigo, é ser companheiro. Se ele ataca, é porque foi ensinado a atacar, um cão nunca é mau.
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