domingo, 28 de dezembro de 2008

Natal tem tradições mais antigas do que o cristianismo


Mesas generosamente servidas, canções, árvores cheias de luzes e o alegre soar de sinos são algumas características da festa de Natal, uma celebração que não nasceu com o cristianismo, mas tem raízes em antigos ritos pagãos indo-europeus bem anteriores a Jesus Cristo.



A festa mais universal do Ocidente, a comemoração do nascimento do menino Jesus, foi celebrada pela primeira vez, com o sentido de hoje, em 25 de dezembro de 336, em Roma, poucos anos depois de o cristianismo ser adotado como religião do Império.



Contudo, na época, a capital imperial era Constantinopla, onde até o século cinco a Igreja do Oriente celebrou no dia 6 de janeiro o nascimento e batismo do Filho de Deus.

O nome da festa vem do substantivo latino nativistas (nascimento, geração) e este do adjetivo nativus (o que nasce).

Ao longo dos séculos, as dioceses orientais foram adotando o dia 25 de dezembro como data oficial e deixando o 6 de janeiro para celebrar o batismo de Cristo, com exceção da Igreja da Armênia,que até hoje comemora o Natal no primeiro mês do ano.

Sobre as razões para adotar o dia 25 de dezembro como data do Natal, pouco se sabe, mas considera-se provável que os cristãos quisessem na época substituir com o nascimento de Cristo a festa pagã conhecida como natalis solis invicti (festa do nascimento do Sol Vitorioso), que correspondia ao solsticio de Inverno no Hemisfério Norte.

Esta efeméride astronômica coincide com o dia mais curto do ano ao norte do Equador, por volta de 21 de dezembro, início do aumento da duração dos dias e do encurtamento das noites, a época em que o Sol passa pela sua maior declinação boreal ou austral.

Uma vez que a Igreja Oriental adotou a data de 25 de dezembro como Natal, o batismo de Jesus começou a ser festejado no Oriente em 6 de janeiro, mas em Roma esta data passou a ser usada para lembrar a chegada a Belém dos Reis Magos, com presentes de ouro, incensos e mirra, que em alguns países católicos é celebrada com a distribuição de presentes para as crianças.

Há uma considerável influência nestas tradições o fato de a celebração coincidir com as datas de antiquíssimos ritos pagãos com origem agrícola, que acontecem no começo do inverno.

Sendo assim, o Natal recebeu elementos da tradição latina de Satumália, uma festa alegre e de trocas de presentes, que os romanos costumavam celebrar em 17 de dezembro, em homenagem a Saturno.

O dia 25 de dezembro também era a festa do deus persa da luz, Mitra, respeitado por Diocleciano e que inspirou gregos e romanos a adorar Febo e Apolo.

O certo é que o dia de Natal foi fixado oficialmente no ano de 345 quando as instâncias de São João Crisóstomo e São Gregório Nacianreno estabeleceram o dia 25 de dezembro como data de nascimento de Jesus Cristo.

Cumpria-se assim uma vez mais o costume da Igreja primitiva de absorver e dar nova forma aos ritos pagãos, em vez de rejeitá-los ou proibí-los para poder angariar mais seguidores para sua nova crença.

No Ano Novo, os romanos decoravam suas casas com luzes e folhas de plantas, dando presentes às crianças e aos pobres, num clima que hoje seria chamado de natalino e, apesar do ano romano começar em março, estas tradições também foram incorporadas à festividade cristã.

Por outro lado, com a chegada dos invasores teutônicos à Gália, à Inglaterra e à Europa Central, ritos germânicos mesclaram-se com costumes celtas e foram adotados por parte dos cristãos, tornando o Natal praticamente desde o começo uma celebração regada a muita bebida e comida, com chamas, luzes e árvores decoradas.

Na Idade Média, a Igreja introduziu as canções temáticas. O Natal que se celebra hoje é, por isso, fruto de um milênio cristão em que as tradições gregas e romanas se conjugaram com rituais celtas e germânicos e com liturgias de antigas religiões orientais.

Posteriormente, o personagem de São Nicolau, o velhinho barbudo e vestido de pesadas roupas vermelhas, inspirou a representação do atual Papai Noel, personagem generoso e adorado pelas crianças.

Já a tradição de celebrar o Natal ao redor de uma árvore carregada de enfeites e luzes multicoloridas é um costume de vários séculos entre os povos cristãos, mas sua origem não é em absoluto cristã: surgiu entre povos pagãos escandinavos e germânicos que, posteriormente, se converteram na Idade Média.

Mas o hábito de usar uma árvore de folhas douradas como símbolo da fertilidade e vida eterna é muito anterior a estes povos, que o adotaram após a chegada na Europa de antigos costumes orientais.

De qualquer forma, foram primeiro os germânicos e depois os escandinavos que criaram a tradição de celebrar o Ano Novo colocando uma árvore na porta de casa ou dentro dela, com a finalidade de afastar os demônios durante todo o ano.

A árvore de Natal tal como a conhecemos hoje é bastante posterior a estes antecedentes. Provém de uma tradição medieval da Alemanha cristã, que consistia em colocar em casa, no dia 24 de dezembro, uma árvore na qual se penduravam maçãs para remeter à árvore do paraíso, da qual Eva tirou o fruto proibio para oferecê-lo a Adão.

Atualmente, o Natal superou as fronteiras do mundo cristão e a sociedade de consumo, com sua avalanche de presentes e comidas diversas, fez com que fosse esquecido parte do seu significado original, embora o ato de presentear sempre seja um gesto agradável independentemente das circunstâncias.


(in Diário de Moçambique, 25 de dezembro de 2008, p. 17).

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