terça-feira, 3 de agosto de 2010

A insólita história de João Madruga - Parte III

Passaram-se alguns meses e a vida em Macumba continuava no seu ritmo. João Madruga continuava com suas famosas festas, sempre a esbanjar dinheiro e sorrisos.

Num desses sábados, João acordou ainda com a escuridão a tomar conta da vila. Estranhou estar completamente desperto àquela hora e foi consultar o relógio. Nove horas da manhã! Como era possível ter dormido tanto, justamente em um dia tão especial como o sábado? Precisava arranjar-se rapidamente, afinal, em pouco tempo os convivas da festa estariam chegando e tinha muito que fazer antes disso.

No afã de apressar-se, esqueceu-se da escuridão. Só deu-se conta quando saiu para o pátio do sobrado. Uma neblina estranha encobria a claridade do sol e tornava o dia em noite. João Madruga já havia ouvido falar em neblinas assim espessas que aconteciam em certos lugares, mas isso nunca acontecera em Macumba. A névoa branca dava ao dia um ar de sobrenatural, de mau agouro. Um arrepio percorreu a espinha do Administrador. Alguma coisa muito ruim estava para acontecer...

Chamou pelos empregados. Nenhuma resposta. Nem os cães ladraram em resposta aos seus gritos. Silêncio absoluto. Apressou-se a entrar na casa e acordar as esposas e os filhos. Provavelmente, pensou ele, estes também haviam dormido demais por conta da falsa noite...

Mas ninguém estava em casa. O sobrado estava deserto. Nem família, nem empregados, nem os habituais primeiros convivas chegavam à casa.

Correu as ruas da vila, a tropeçar na escuridão. Chamou, gritou, nenhuma resposta. A vila estava vazia. Nenhuma vida além da sua. Sentia no ar úmido um cheiro pestilento, de podridão. O odor e o nervosismo fizeram-no vomitar.

Quando conseguiu recompor-se minimamente, olhou em volta e já não conseguia mais distinguir as construções, nem as árvores, nem coisa alguma. A neblina parecia ter engolido tudo. Correu em direcção ao rio para lavar o rosto, mas no lugar do rio encontrou um buraco lamacento cheio de peixes mortos a apodrecer.

Paralisou-se na margem do rio a fitar o nada. Estava sem acção, sem saber o que fazer. Subitamente, sentiu uma rajada de vento muito forte que o fez desequilibrar e cair no leito morto do rio. A lama era pegajosa e profunda e Madruga foi-se afundando. quanto mais se movia, mais a lama o puxava para baixo. Conformou-se com a sua sorte e deixou-se ser sugado para o fundo da lama. Fechou os olhos, lembrou-se da boa vida que tinha e entregou-se ao seu fatídico destino. Morreria sem saber o motivo daquela desolação...

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