quinta-feira, 7 de junho de 2007

E-mails, judeus, palestinos & chimpanzés

Todos os dias recebo quase uma centena de e-mails. Alguns são automaticamente repassados e, quando vejo que é assim, nem leio, deleto logo. Outros trazem piadas velhas e batidas (chego a receber a mesma piada até três vezes por dia). Quando vejo o assunto, deleto.

Os que acho interessantes, leio, ou deixo para ler com mais atenção quando tiver mais tempo. Alguns são do meu grupo, os Poetas Independentes. Estes são prioritários, sempre leio primeiro.

Tenho uma grande amiga em Blumenau que sempre me repassa e-mails sobre as mazelas humanas, sobre as lutas do povo, sobre notícias de usurpação de direitos, tomadas revolucionárias… alguns são muito pertinentes e considero uma das melhores fontes de informação que tenho. Pessoa extremamente esclarecida, esta minha amiga tem uma compreensão do mundo que eu gostaria de ter. Ela consegue desvelar as máscaras, importa-se realmente.

Hoje recebi um e-mail com o seguinte título: «Não à ocupação israelense». Era datado de 16 de Maio deste ano e assinado pela Coordenação Internacional de Organizações pela Palestina. Começava assim: «Entre os dias 9 e 10 de Junho, pessoas ao redor do mundo se reunirão, em atos e manifestações, para dizer: Basta! O mundo diz não à ocupação israelense de Jerusalém Oriental, Cisjordânia, Faixa de Gaza e colinas do Golã…».

E eu pensei: o que eu tenho a ver com isso? Sou mesmo alienada, fico sempre dividida entre os judeus e os palestinos. Fico sempre desejosa de uma reconciliação cor-de-rosa entre eles, torcendo para que vivam finalmente em paz e em harmonia. Mas isso é impossível, pelo jeito. A história, que é mãe do tempo, já provou: eles não se acertam.

A experiência que tenho deste conflito é mínima, limita-se à convivência com judeus e com palestinos, aqui no Brasil. Sinceramente, nunca vi nada de diferente em nenhum deles, nunca achei que este ou aquele fosse «esquisito» ou que meus amigos palestinos fossem potenciais homens-bomba.

Vou começar com os palestinos. Convivi com muitos, lá em Uruguaiana, na fronteira do Brasil com a Argentina. Eles são comerciantes e ocupam a chamada «Baixa» da cidade. Frequentava sempre a loja do seu Maruf, pai do Marcelo e do Beto. Lá tomava aquele café maravilhoso e comia aqueles biscoitos que pareciam caídos do céu. Pessoas maravilhosas, todos eles. Amigos mesmo, queridos. Tive colegas na faculdade que eram palestinos. Gente!!! Eram pessoas normais, como devem ser todos os outros. Eram amigos, parceiros, prestativos. Como são as pessoas.

Em Blumenau, um dos meus grandes amigos é judeu. Neto de rabino. Pessoa fantástica, principalmente pelo seu senso de justeza (justeza mesmo). Um dia, falando sobre o holocausto (oh, um judeu falando sobre o holocausto! – devem ter rolado lágrimas, vocês estão pensando…), contou-me que, a idéia inicial do Hitler era justa. (Pasmaram???). Disse-me que os judeus-alemães, donos das fábricas, não queriam participar do esforço de guerra, que diziam que não eram alemães, e sim judeus e por isso não tinham obrigação patriótica nenhuma. O Hitler, justíssimo, então (pasmem mais ainda!), resolveu expulsá-los, afinal, não eram alemães… Só que, no caminho, o bigodinho enlouqueceu e resolveu matá-los todos. Vou lembrar… a história não é minha – é de um JUDEU!

Por isso, continuo em cima do muro: não acho que os judeus devam sair, nem acho que os palestinos devam sair. Queria colocá-los todos sentados no meu sofá e passar um daqueles sermões de professora… parecem crianças!

Pôxa!!! Antes de serem palestinos ou judeus, são humanos, pessoas, gente!!! Todos sofrem, todos sangram, todos choram. A dor não dói mais em um lado do que no outro. A humanidade é que está perdida, humanidade no sentido de sentir que o outro é igual a si, de reconhecer no outro parte de si mesmo.

Mas, bom… outro dia, li que alguns estudiosos filmaram um ataque de chimpanzés a outro chimpanzé, da mesma raça, só que de grupo diferente. Espancaram o chimpanzé invasor até à morte. E isso tudo só provou mais um elo entre humanos e chimpanzés: que a violência gratuita é da nossa natureza.

Que vergonha! Que vergonha pertencer a esta raça humana! Por isso que, quando vejo uma cobra morder alguém, ou um touro a jogar para o alto um toureiro, penso bem alto: bem feito! Porque os animais só atacam para se defender. Com exceção do chimpanzé, é claro, mas este tem um elo muito forte com os humanos…

2 comentários:

  1. Adorei sobre o que seu amigo judeu comentou, e a ligação dos fatos colocados com a "irracionalidade" humana comparando com animais que realmente são irracionais. Parabéns pelo texto!

    ResponderExcluir
  2. Muito interessante a matéria. Mesmo tendendo mais ao lado judaico, concordo com seu blog em gênero, número e grau. Direncionando o assunto a uma realidade que envolve o Brasil, o mesmo acontece em nossa nação com relação aos Nordestinos, paulistas, fluminenses(vulgarmente chamados "cariocas"), sulistas ...
    Não precisamos olhar para muito longe para encontrarmos uma guerra em potencial. Logo estarei publicando um blog falado sobre isso.

    ResponderExcluir