segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Alberto e Cláudia - um sonho de amor

Ontem recebi uma notícia de morte. Veio numa linha só, uma frase curta: «Gente, Alberto morreu ontem, 8 horas da noite». Naquele instante, reagi - «Meu Deus!». Meu marido gritou, perguntou «o que houve?» e eu, já engasgada pelo choro, respondi: «Morreu um amigo meu».

Morreu um amigo meu! Chamei Alberto da Cunha Melo de amigo, apesar de nunca o ter visto nem falado com ele. Dele, só conhecia os versos fantásticos e as palavras amorosas de Cláudia.

Cláudia… minha amiga também. Amiga que nunca vi. Fiquei pensando nela o dia inteiro, dormi pensando nela. Uma vez, falamo-nos ao telefone. O assunto era outro, mas Alberto esteve presente na conversa. Foi aí que senti o quanto aquele amor era grande! Quando Cláudia falava de Alberto, seu tom de voz mudava, ficava doce, melodioso. Era um misto de amor, dedicação, admiração, devoção! Senti uma inveja boa daquele amor. Não imaginava que existisse sentimento assim fora dos livros e dos poemas.

Hoje vejo uma declaração de Cláudia dizendo que foi pelo poeta, por seus versos que se apaixonou primeiro. E lembrei dos meus sonhos de menina, quando lia poemas de amor e me imaginava a destinatária daqueles versos. Um amor que não se vê. É assim que sinto o amor de Cláudia e Alberto.

Eleita por ele a décima musa, Cláudia foi tema de inúmeros poemas e destinatária de uns tantos livros. Que homem de carne e osso ama assim? Só conheço Alberto.
Consigo imaginar, nunca mensurar a perda de Cláudia.

Mas estava dizendo que dormi pensando neles, em Alberto e Cláudia. E sonhei um sonho que só agora começa a fazer sentido.

Estava em uma plantação de mortos. Parecia uma horta, onde eu via os vários montes de terra, colocados todos um ao lado do outro e em fila. O cenário era sombrio, era dia mas a claridade era pouquíssima, como se estivesse nublado. O tempo úmido e pesado, sem vento, nem uma brisa. Um menino estava ocupadíssimo arrumando os montes de terra, limpando os caminhos que davam passagem entre eles. Nisto, outro menino chega. É incumbido pelo primeiro de me levar dali, para que eu aprenda – ainda agora não sei o que deveria aprender, mas sabia que precisava ir. O segundo menino pegou-me pela mão e saímos da plantação-cemitério. Fomos dar a uma rua de barro, com poças d’água, suja, com as margens também sombrias onde crescia um mato desordenado, algumas casas de madeira sem cor, tudo cinzento. Caminhamos até o final desta rua e dobramos a esquina. Saímos em uma rua paralela àquela em que estava.

Esta rua já era diferente. Ali via-se a claridade do sol, uma brisa gostosa batia no rosto. A rua era calçada com paralelepípedos perfeitos, colocados todos um ao lado do outro. Suas margens eram floridas, com belas casas. No final da rua, uma subida.

Foi então que meu guia, ainda segurando-me pela mão, disse que tínhamos que correr. Na hora fiquei assustada… como conseguiria correr? Já não tenho fôlego para isso! E o esforço? Não prejudicaria a minha gravidez? Mas não falei nada, como já disse, sabia que deveria seguir o menino.

Após alguns metros de corrida, uma subida incrivelmente íngreme. No início, ainda consegui me manter em pé, até que já não pude. A gravidade puxava-me para baixo. Terminei a subida arrastando-me, como se estivesse escalando a rua, levando um braço após o outro.

De repente, no topo da rua/morro, um templo. Não sei o que havia lá, tenho a impressão de ser um Buda ou coisa parecida. Só sei que era divino. Uma imagem iluminada (em todos os sentidos), que refletia a luz do sol por todos os lados. Era lindo, e eu senti uma sensação de completude, de paz infinita.

Acordei assim e não consegui esquecer este sonho.

Agora, penso que pode ter algum significado. Um significado que Cláudia, sábia como é, talvez entenda. Saí de um campo de mortos, sombrio, feio, guiada por um menino, para um local iluminado! Talvez o mesmo tenha acontecido com Alberto… ou talvez seja só uma associação que eu esteja fazendo neste momento, talvez queira dizer alguma coisa muito diferente, mas………

Com certeza Cláudia entenderá! Até porque um amor daquele tamanho não cabe nos limites da existência física!!!

4 comentários:

  1. O texto é lindo, se Cláudia chegar a lê-lo, vai ficar muito comovida.
    Sonho muito simbólico, Aline.
    Creio que a gravidez aguçou sua sensibilidade,e não sei se lhe fez bem receber a notícia da morte de Alberto. Embora você não o conhecesse pessoalmente, só o tempo de convívio e de apego desenvolvido entre nós criou um vínculo forte de amizade, mesmo sem nos conhecer. Mas o tempo é o melhor remédio. Tudo passará...
    Beijo,

    Conceição

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  2. Aline, menina-agora-mãe-d'além-mar, o seu texto é lindo e emocionante.
    Você, assim como eu, não conhecia pessoalmente o Alberto, mas a alma dele era e é muito nossa conhecida, com certeza.
    E Clau se encarregou de espalhar o amor imenso que os une. Acho que foi assim: Clau-depositária dos versos de Alberto - dividiu conosco, generosamente, as alegrias e tristezas de um Poeta gigante. Tenho orgulho de poder dizer que somos amigo/as.
    Um beijo, mamãe de 1ª viagem e te cuida muito.

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  3. ALINE, QUERIDA,
    MENINA E MÃE,
    MINHA AMIGA E IRMÃ-COMUNHÃO,
    CLARO QUE SEU SONHO NÃO FOI APENAS UM SONHO, VOCÊ FOI TRANSPORTADA EM CORPO MENTAL E DESTINADA A DAR-ME A MENSAGEM, POIS AINDA NÃO SONHEI COM ALBERTO TALVEZ PELA LIGAÇÃO TÃO IMEDIATA COM ELE.
    TODA A DOR QUE PASSAMOS SÓ FEZ POLIR O AMOR QUE SENTÍAMOS UM PELO OUTRO. TUDO QUE ERA PEDRA BRUTA VIROU OURO FINO, TERNURA, AMOR AMOR AMOR... ATÉ A FRASE DELE, A MAIS BELA DE TODOS OS POEMAS QUE ME DEDICOU: "MINHA CLAU, MEU ANJO, MEU BEM, MEU AMOR, MEU TUDO." FOI FRUTO DO SOFRIMENTO PELA VIDA QUE AINDA VAMOS VIVER PLENAMENTE.
    DEUS A ABENÇOE, MENINA-DESPERTA, SER CONSCIENTE, PELA NOTÍCIA QUE ALÉM DA EMOÇÃO É DÁDIVA.
    CARINHO EM ASAS,
    CLÁUDIA CORDEIRO
    A DÉCIMA MUSA

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  4. Aline,

    A matéria é perecível, mas a alma, assim como o amor, são eternos!

    Abraços,

    Gerlane

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