quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Dan Brown, José Rodrigues dos Santos e a literatura de massa



Ao procurar uma definição para a expressão “paraliteratura”, encontraremos, na maioria dos casos, o seguinte: “Termo que designa (...) uma série de textos que são considerados não literários, embora possam reconhecer-se neles alguns aspectos de valor literário: novela cor-de-rosa ou sentimental, policial, far-west, de terror, de ficção científica, fotonovela, etc.”[1].

Já para alguns autores, como Carlos Reis (O Conhecimento da Literatura, 2. Ed. Coimbra. Almedina, 2001), “paraliteratura” é todo o texto que não se encaixa nos cânones literários.

Na minha paupérrima opinião, é a literatura superficial, feita para as massa e com o simples objetivo de vender livros. É a literatura despreocupada, vazia de significados, pensada para o entretenimento de leitores que procuram uma distração fácil que os faça esquecer e descansar da vida enlouquecera que levamos.

Um dos expoentes deste tipo de escrita, no Brasil, é o famoso e mundialmente traduzido escritor – e mago – Paulo Coelho.

Mas não é do “Mago” que quero falar hoje. É, particularmente, de dois escritores também mundialmente famosos, um deles autor de um best seller: Dan Brown e o português José Eduardo dos Santos.

O primeiro conheci com o famosíssimo O Código Da Vinci, no ano do seu estrondoso sucesso. O segundo, que já conhecia através da sua atuação como jornalista nas televisões portuguesas, fui descobrir escritor há uns dois anos, com O Códex 632.
Depois disso, e recentemente, li mais um livro de cada um deles: Inferno, de Brown, e O Sétimo Selo, de JRS.

Já no meu primeiro contato com a obra de JRS, identifiquei prontamente o estilo de Dan Brown. A base da trama – um mistério com toques de romance policial, adornado com informações reais sobre fatos do nosso quotidiano e muitas referências sobre algum fato cultural. Ambos chamavam a atenção para alguma questão importante: o futuro da religião católica, no caso d’O Código Da Vinci e a síndrome de Down, no caso d’O Códex 632.

Confesso que li estes quatro livros sem descanso. A interessante oferta de informações reais chama a atenção e leva o leitor – pelo menos esta que vos fala – a querer saber mais e mais. A intertextualidade também prende, pois possibilita-nos um conhecimento culto sem esforço.

Infelizmente, o fato é que nada disso substitui a sensação de vazio que senti no final de cada um dos romances. O que ficou foi a sensação de ter sido enganada – ao invés de um thriller de tirar o fôlego, recebi uma história simples, recheada de informações enciclopédicas e jornalísticas. Na verdade, das (em média), 500 páginas de cada romance, acredito que somente 20% faziam parte da narrativa. A informação é tão repetitiva que, em algumas partes d’O Sétimo Selo, chegava a pular para a página seguinte. A impressão é de que o autor está “enchendo linguiça”, como dizem na minha terra.

Calma! Penso que estou dando a  entender que estes dois escritores de sucesso não prestam! Ora, quem sou eu?! Pelo contrário, eles são excelentes! Possuem uma cultura e fontes de informação extraordinárias, que aliam à sua enorme imaginação.

O caso é que eu sou meio conservadora para estas coisas. Quero sempre que, no final de um livro, eu ainda conserve alguma simpatia por uma personagem, algum “perder o fôlego” ao lembrar de um parágrafo, quero que alguma imagem fique gravada na minha memória para sempre.

Como acontece com a passagem de Guerra e Paz em que André Bolkonsky agoniza em uma cama no mosteiro, tendo por companhia a desesperada Natasha, que implora o seu perdão. André perdoa a amada e morre sob a luz do sol poente a entrar pela janela, o que torna o quarto aconchegante e lúgubre com seus tons laranja.

Já não e lembro se é isso o que foi realmente descrito por Tolstoi, mas a minha mente de adolescente – devia ter uns 14 anos quando li este livro – gravou assim aquela cena. Nem preciso dizer que, quando assisti ao filme, em preto e branco, a decepção foi total, pois a cena não era nada do que eu havia imaginado.

Isso tudo para dizer que sinto falta das personagens reais, com sentimentos e dramas profundos e personalidades marcantes.

Ora, quem é Roberto Langdon? Um professor universitário com grande conhecimento, claustrofóbico e... e o que mais???

Para terminar – porque acho que já falei demais e sou capaz de começar a “encher linguiça” – confesso que vou continuar a ler Dan Brown e José Rodrigues dos Santos, porque também gosto de algumas leituras descompromissadas. Mas não vou largar nunca James Joyce, Umberto Eco, José Saramago, Guimarães Rosa e o meu novo víco: Khalid Housseini. 

Felizmente à lista de autores que nunca vou deixar, posso continuar acrescentando nomes infinitamente. Ainda bem que a literatura de verdade ainda sobrevive, apesar da “literatura de massa”.

A título de P.S., uma última confidência: tenho na minha estante O Anjo Branco do José Rodrigues dos Santos. Foi um presente. Vou ler em breve. Mas não contem para ninguém, certo?


[1] PAZ, Olegário, MONIZ, António. Dicionário breve de termos literários. 2. Ed. Lisboa. Editorial Presença, 2004.

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