quarta-feira, 4 de junho de 2008

Interseccionismo, Orpheu, Pessoa


Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito

E a cor das flores é transparente de as velas

de grandes navios

Que largam do cais arrastando nas águas por sombra

Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...


O porto que sonho é sombrio e pálido

E esta paisagem é cheia de sol deste lado...

Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio

E os navios que saem do porto são stas árvores ao sol...


Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...

O vulto do cais é a estrada nítida e calma

Que se levanta e se ergue como um muro,

E os navios passam por dentro dos troncos das árvores

Com uma horizontalidade vertical,

E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...


[...]


(Chuva Oblíqua, Fernando Pessoa)

Nenhum comentário:

Postar um comentário