Francisco Coutinho Gaivota era bastante novo, mas já sabia que nunca um pássaro fora tratado com tanta aspereza por nenhum bando ou com tanta injustiça.
"Não importa o que digam", pensava com violência, o olhar toldado, enquanto voava em direção aos Penhascos Longínquos. "Voar tem muito mais valor do que esvoaçar de um lado para o outro! Um... um... um mosquito faz isso! Um pequeno 'barrel roll' à volta da gaivota mais velha, só por brincadeira, e eis-me banido! São cegos? Não vêem? Não percebem a glória que será quando aprendermos a voar realmente?
"Não me importa o que pensem. Vou lhes mostrar o que é voar! Serei um puro fora-da-lei, se é isso o que desejam. E vou fazê-los lamentar tanto..."
A voz surgiu dentro da sua cabeça e, embora fosse muito suave, sobressaltou-o de tal maneira que vacilou e quase despencou.
"Não seja duro com eles, Francisco Gaivota. Ao expulsarem-no, as outras gaivotas só fizeram mal a si próprias, e um dia vão sabê-lo, e um dia verão o que você vê. Perdoe-lhes e ajude-as a compreender."
A um centímetro da sua asa direita voava a gaivota branca mais brilhante de todo o mundo, deslizando suavemente e sem esforço, sem mover uma pena, quase à velocidade máxima de Francisco.
Houve um momento de caos no jovem pássaro.
— Que se passa? Estou louco? Estou morto? O que é isso?
Baixa e calma, a voz prosseguia dentro dos seus pensamentos, exigindo resposta.
— Francisco Coutinho Gaivota, você quer voar?
— SIM, EU QUERO VOAR!
— Francisco Coutinho Gaivota, você quer voar tanto que perdoará o bando, e aprenderá, e voltará um dia para ajudá-los a saber?
Era impossível mentir àquele magnífico e hábil ser, por muito que um pássaro como Francisco Gaivota se sentisse cheio de orgulho e de mágoa.
— Quero — disse suavemente.
— Então, Chico — disse-lhe a brilhante criatura, com uma voz muito calma —, vamos começar com o vôo planado...
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