quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O Poeta Morto - José Régio

O Descanso do Poeta - Chagall

Barbearam-no e vestiram-no de preto,

Calçaram-lhe sapatos de verniz,

Moscas varejas chupam-lhe o nariz,

E ele mantém-se pálido e correcto.



Cheira a cera no quarto, já repleto

Do que há de mais distinto no país:

... Um general, dois lentes, um juiz...,

Com ar triste, imbecil, grave e discreto.



Logo, os críticos sérios e carecas

Folhearão no pó das bibliotecas

Um livro caluniado enquanto vivo.



Esse a quem chamam hoje ilustre e augusto

Porque... porque ele, agora, é inofensivo

Como qualquer estampa ou qualquer busto!

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