quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Crianças bonitas


Qual destas duas meninas é mais bonita? Existe criança feia???
À esquerda, Yang Peiyi, a dona da voz.
À direita, Lin Miaoke, a dona do rosto.


Matéria publicada no Jornal de Moçambique, p. 14, em 13 de agosto/2008 (e aposto que em muitos outros jornais espalhados pelo mundo):

O director musical da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Beijing - 2008, decorrida na sexta-feira passada, admitiu que a menina chinesa que supostamente cantou «Ode à Pátria» durante o show no estádio Ninho de Pássaro não era a dona da voz. O motivo? A cantora verdadeira não era suficientemente bonita para representar a China.

«Queríamos passar uma imagem perfeita e pensamos no que seria melhor para a nação», explicou Chen Quigang, em entrevista à televisão chinesa. O conteúdo chegou a ser veiculado no portal Sina.com, mas depois sumiu.

A imprensa chinesa divulgou ontem fotos de Lin Miaoke, de nove anos, a tratando como uma estrela em ascensão. No entanto, ignoram Yang Peiyi, de sete anos, a dona da voz que é gordinha, tem os dentes fora do lugar e uma óptima voz.

«Era uma questão de interesse nacional. A criança que apareceria diante das câmeras tinha que ser expressiva», argumentou Chen.

«Lin Miaoke é excelente para tudo isso. Porém, no que diz respeito à voz, Yang Peiyi é perfeita. Toda a equipa concordou», finalizou o compositor chinês.


Absurdo? Preconceito? Quantas pessoas diriam isso ao ler esta matéria. Afinal, o que faz uma criança mais ou menos bonita?
Simbolicamente, criança representa o futuro, o renascer, a esperança. A China, com estas Olimpíadas, quer mostrar ao mundo o seu poderio, o seu progresso, o seu sucesso. A ditadura que antes proibia as flores nos jardins agora dita a beleza, escolhe a beleza. Uma beleza superficial e falsa, como muitas coisas naquele país.

Cruelmente, negaram a uma criança o direito ser ela mesma. Falsificaram sua voz em outra criança, não menos vítima.
Essa é a China que se «abre ao mundo», tentando esconder os fuzilamentos, o controle cruel de natalidade e o domínio vergonhoso do Tibet.

3 comentários:

  1. Aline, toda essa olimpíadá é esquisitíssima.
    Lá ele.

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  2. Nunca vi Olimpíadas tão superficiais como essa. Não tenho visto nada de grandioso, sinceramente... Eu fiquei pensando foi no trauma que a menina que não cantou na cerimônia vai adquirir para o resto da vida. Agora talvez ela nem entenda direito o que aconteceu, mas quando crescer...=/

    Aline, sou eu, N.Lym! Vou te add ao meu "depósito"!^.^

    Abraços poéticos!

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