quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Arroz de carreteiro

Nobre cardápio crioulo das primitivas jornadas,
Nascido nas carreteadas do Rio Grande abarbarado,
Por certo nisso inspirado, o xiru velho campeiro
Te batizou de "Carreteiro", meu velho arroz com guisado.

Não tem mistério o feitio dessa iguaria bagual,
É xarque - arroz - graxa - sal
É água pura em quantidade.
Meta fogo de verdade na panela cascurrenta.
Alho - cebola ou pimenta, isso conforme a vontade.

Não tem luxo - é tudo simples, pra fazer um carreiteiro.
Se fica algum "marinheiro" de vereda vem à tona.
Bote - se houver - manjerona, que dá um gostito melhor
Tapiando o amargo do suor que -
às vezes, vem da carona.

Pois em cima desse traste de uso tão abarbarado,
É onde se corta o guisado ligeirito - com destreza.
Prato rude - com certeza,
mas quando ferve em voz rouca
Deixa com água na boca a mais dengosa princesa.

Ah! Que saudades eu tenho
dos tempos em que tropeava
Quando de volta me apeava
num fogão rumbeando o cheiro
E por ali - tarimbeiro, cansado de bater casco,
Me esquecia do churrasco saboreando um carreteiro.

Em quanto pouso cheguei de pingo pelo cabresto,
Na falta de outro pretexto indagando algum atalho,
Mas sempre ao ver o borralho onde a panela fervia
Eu cá comigo dizia: chegou de passar trabalho.

Por isso - meu prato xucro, eu me paro acabrunhado
Ao te ver falsificado na cozinha do povoeiro
Desvirtuado por dinheiro à tradição gauchesca,
Guisado de carne fresca, não é arroz de carreteiro.

Hoje te matam à Mingua, em palácio e restaurante
Mas não há quem te suplante,
nem que o mundo se derreta,
Se és feito em panela preta, servido em prato de lata
Bombeando a lua de prata sob a quincha da carreta!

Por isso, quando eu chegar,
nalgum fogão do além-vida,
Se lá não houver comida já pedi a Deus por consolo,
Que junto ao fogão crioulo,

Quando for escurecendo, meu mate -amargo sorvendo,
A cavalo nalgum tronco, escute, ao menos, o ronco
De um "Carreteiro" fervendo.


Jayme Caetano Braum


A receita:


Para quem não sabe o que é, CHARQUE é a carne salgada e seca. A diferença entre a carne de sol, típica do Ceará e o charque é que este não seca ao sol, mas em galpões ventilados.
Mas vamos à receita...
Ingredientes:

* 1/2kg de charque
* 1/2kg de arroz
* 1 cebola grande picadinha
* 3 dentes de alho
* óleo
* pimenta preta (opcional)


- Já sei.. vão dizer: «só isso de ingredientes?». Pois é... o carreteiro de charque era o prato comum dos tropeiros. Tinha de ser simples e rápido! Mas, continuemos...


Modo de fazer:


- Dessalgar o charque: cortar em pedacinhos e demolhar. A água pode ser quente ou fria, mas não esquecer que, se a água for quente, o sal sairá mais rapidamente.


- Colocar na panela o óleo e refogar a cebola e o alho. Quando estiver dourado, adicionar o charque e fritar. Colocar o arroz, fritar mais um pouco. Encher a panela com água e deixar secar.


- Importante: acertar o sal - às vezes, tiramos demais o sal do charque e precisamos colocar mais um pouquinho na hora de cozinhar.


- Opcional: há gente que gosta de colocar para cozinhar junto uns pedacinhos de abóbora ou de batata-doce. Fica muito bom, dá um sabor contrastante com o charque.


- Mais: depois de pronto, fica muito bom jogar um pouco de salsa ou ovo cozido picado (ou os dois) por cima.


- Para acompanhar, o feijão preto é perfeito!

2 comentários:

  1. O "nosso" arroz de carreiteiro!
    Está bonitão aqui no blog...
    beijo

    ResponderExcluir
  2. vem aqui em casa k eu te mostro como é que se faz na manteiga...

    ResponderExcluir