quinta-feira, 17 de maio de 2007

Ecologia, Hipocrisia e Recalque



Não costumo assistir televisão. Penso que existem coisas muito mais interessantes e informativas do que ficar horas e horas sentada à frente de uma tela que nos diz como agir e como viver...Mas, recentemente, num desses momentos de ociosidade completa, resolvi passar os canais.



Num canal conhecido, a National Geographic, passava uma reportagem sobre o lixo tóxico que os EUA haviam despejado no fundo da baía de Monterey e que agora está causando graves problemas - o feitiço virou contra o feiticeiro - o lixo contaminou a cadeia alimentar e está indo parar no prato dos poluidores. Confesso que pensei baixinho: «bem feito! - quem mandou sujar???».



Em outro canal, passava ao vivo uma conferência sobre o meio ambiente em Moçambique. O palestrante falava sobre dados da ONU, revelando que os EUA, com somente 5% da população mundial, consumiam 40% das reservas naturais do planeta. Se todos os habitantes da Terra consumissem como os estadunidenses (explico mais abaixo o uso deste termo), seriam necessários 6 planetas Terra!Este palestrante disse também que somente agora os EUA estão começando a ceder às pressões do protocolo de Kioto e iniciando uma tentativa de redução da emissão dos gases poluentes...Por fim (antes de eu desligar a televisão), disse que precisamos urgentemente encontrar meios para pressionar os «senhores do mundo» na questão ambiental, mas que, em contrapartida, temos que «limpar nossos quintais» também.Corretíssimos, a Nat Geo e o palestrante do outro canal.



Estas observações acenderam a minha velha aversão aos EUA. Aversão aprendida na escola, na faculdade, entre os hipócritas intelectuais comunistas-marxistas e todos os «istas» que se puder imaginar...Aprendi, naquele tempo, que não se pode chamar aos habitantes dos EUA «americanos» porque este termo pertence a todos os habitantes das 3 Américas, consequentemente, os brasileiros, bolivianos, chilenos......... também são americanos; muito menos «norte-americanos», porque a esta denominação também respondem os Canadenses e os Mexicanos. O termo politicamente correto (sob qual ponto de vista?) é mesmo «estadunidense».

Nós, dos países sub ou em vias de desenvolvimento, temos este nato sentimento confuso em relação aos vizinhos ricos do Norte. Ao mesmo tempo que os odiamos, os admiramos e os invejamos. Eu, particularmente, tenho outro termo para isso: recalque. Isso mesmo. Somos todos recalcados.Julgamos e condenamos, mas não nos colocamos no lugar deles. Será que não faríamos o mesmo? Quem no Brasil ou em qualquer outro país «sub» ou «terceiromundista» abriria mão da sua água quente no chuveiro, do seu forno de micro-ondas, da sua geladeira e do seu ar-condicionado? Quem abriria mão do spray para mosquitos e das lindas frutas e verduras cheias de agrotóxicos? Quem deixaria de passear no seu carro altamente poluente para enfrentar um ônibus lotado? Sou sincera: EUZINHA, NEM MORTA!

Gostei da expressão (acho que já bem batida) daquele palestrante: limpar nossos quintais. Se fôssemos viver de acordo com todas as leis ecológicas, teríamos de voltar à época dos paus e pedras. Sem eletricidade, sem confortos. Comendo o que a terra nos dá - porque a matança de animais também é anti-ecológica. Repito: sou sincera - não vivo sem um bom bife mal passado!Isso tudo é para dizer que somos radicais no que se refere aos hábitos dos outros - ELES não devem poluir, ELES não devem matar os animais, ELES não devem.... tantas reticências e tantos etecétaras...Mas NÓS... ah, nós não podemos viver sem nossos confortos.Quero deixar claro que não estou defendendo DE JEITO NENHUM os Estados Unidos. Nunca me passaria pela cabeça.

Continuo considerando-os os bandidos mais perigosos do mundo, sem escrúpulos nem humanidade nenhuma - veja-se Iraque & Cia (com trocadilhos). Mas, quanto à ecologia, acho que deveríamos parar com esse recalque de dizer que ELES devem ser pressionados. Primeiro, pressionemos a nós mesmos. Olhemos os nossos rabos antes de apontar os dos outros, talvez o nosso seja mais comprido.


Para terminar: li em algum lugar que a presença de borboletas indica um ambiente não contaminado, limpo de qualquer substância tóxica ou nociva à vida - as borboletas são extremamente sensíveis a qualquer poluição. Sugiro: olhem agora pela janela e procurem uma única borboleta.

Se avistarem alguma, podem jogar a primeira pedra em quem quer que seja.Eu, particularmente, tenho borboletas no meu jardim. Mas vivo na África, em Moçambique, num país sub-sub-sub-sub-desenvolvido... Será que continuarei a ter borboletas no meu jardim quando Moçambique se tornar um país desenvolvido como todos querem?

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