O conhecedor que despreza reger sua viagem
pelos astros já fósseis e as águas ocultas
e a quem é indiferente ir em sonho ou desperto
numa senda submersa em trinados e frondes
nunca decifrará porque um nítido vulto
se instaura na cidade e derruba os metais
que sem lei nem fadiga a ofendem e ofuscam:
por ele resplandecem as muralhas e as torres
e o mar arpoado se entrega e vem beber
sua porção de sangue e de vozes beijadas,
o distante aproxima-se percutindo nas casas
as vestes encharcadas no rumor da sua dança
e descobre impoluto o lugar do seu túmulo;
as palavras conjuram-se para ulcerar-lhe a boca,
as garras da cicuta intimam-no veladas
quando se reconhece no rosto que demanda:
com um rumo tão secreto que ele próprio o ignora
e suspeita que em vão lhe será revelado,
chega com sua mensagem talhada a fogo na íris
esse que vai por ínsulas estranhas.
José Bento (1932)
Muito lindo, Aline.
ResponderExcluirDesconhecia o poeta José Bento. É português?
Beijo,
Conceição
"Um rumo tão secreto que ele próprio ignora...chega com sua mensagem talhada a fogo na íris"
ResponderExcluirPERFEITO!
Descobre mais coisas dele, menina d'além-mar.